Fechar menu lateral

Lauro Mendonça

Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora

Depoimento de Lauro Mendonça

Entrevistado por Comitê pela Memória, Verdade e Justiça Juiz de Fora

Revisão Final: Ramsés Albertoni (25/03/2017)

 

Lauro: Meu nome é Lauro Furtado de Mendonça, eu sou funcionário aposentado do Banco do Brasil e fui punido na Revolução de 1964 com transferências, atrasos de promoção, impedimento de executar comissionamentos. Então, eu tenho a dizer é o seguinte, em 1964, recentemente eleito diretor do Sindicato dos Bancários, quando rompeu a revolução comandada pelo general Mourão Filho contra o movimento sindical brasileiro apoiado pelo presidente da república dr. João Goulart, fui procurado em minha residência, na rua Batista de Oliveira, 704, apartamento 101, em Juiz de Fora, para responder a inquéritos policiais militares do Sindicato dos Bancários, extinto IAPB e Cooperativa de Consumos Bancários em Juiz de Fora Ltda. Ainda respondendo aos inquéritos policiais militares, recebi ordem de transferência pelo Banco do Brasil SA de Juiz de Fora, MG, para Jaraguá do Sul, SC. Foi uma transferência que retirou-me do ambiente familiar sem direito de defesa, levando-me para Santa Catarina, onde o clima é muito úmido e frio. Prejudicava-me a saúde, pois sou portador de uma bronquite crônica desde a minha infância. Em uma terra inteiramente estranha, sofri muito para me adaptar à cidade onde era olhado com restrições pela sociedade local, que me via como elemento subversivo. Em dezembro de 1964, o Diário Mercantil de Juiz de Fora convocou-me para vir de Jaraguá, SC, prestar depoimento, pois estava sendo procurado pela comissão de inquérito da 4ª Região Militar. Tive que deslocar-me de lá para aqui com as despesas por minha conta, ida e volta, pois foi me informado verbalmente que a 4ª Região Militar não tinha recursos financeiros para poder ressarcir os meus gastos, trazendo-me prejuízos financeiros. Somente depois de um ano retirado de meu convívio na cidade, obtive do Banco do Brasil o direito de voltar, depois de muito sofrimento e prejuízos financeiros, tendo demonstrado nos IPMs a minha lisura e bom comportamento, não merecendo a violência com que fui tratado pelo banco, a mando dos comandos da Revolução de 1964. Os danos materiais e morais que me foram infligidos e à minha família até hoje calam no meu coração, ferido pela injustiça, pelas arbitrariedades que foram a verdadeira face do golpe, o desrespeito à condição humana e a quem sempre teve como escopo em sua vida o trabalho e a defesa dos interesses de sua categoria profissional.

Comitê: Para o senhor, qual é a importância dessa Comissão da Verdade, o que vai significar para a história do nosso país?

Lauro: Muitas coisas ficaram sem esclarecimento, sem uma justificativa. A Comissão da Verdade vem para trazer essas informações que nossa história precisa.