Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora
Depoimento de Itamar Davi Bonfatti
Entrevistado por Cristina Guerra e Helena da Motta Salles
Juiz de Fora, 29 de julho de 2014
Entrevista 005
Transcrição: Marcela Xavier Ribeiro
Revisão Final: Ramsés Albertoni (24/09/2016)
Cristina: Seu Itamar, é um prazer o senhor estar aqui com a gente hoje e, pra iniciar, a gente ia precisar que o senhor nos localizasse de onde o senhor veio, quando o senhor veio pra Juiz de Fora, quando o senhor foi preso, fazer um breve relato da sua história em Juiz de Fora e desse período.
Itamar: Bom, a minha história em Juiz de Fora é um denominador comum da época. Juiz de Fora passava, como você sabe, por uma crise econômica muito grande e quando meus pais vieram pra aqui eles vieram em busca de uma melhor qualidade de vida, uma busca de uma situação onde os filhos pudessem estudar, e a intenção realmente era essa, buscar uma outra experiência. Isso foi em 1947, quando Juiz de Fora estava numa grande crise econômica, como eu falei. Foi aquele tempo em que toda tecelagem de Juiz de Fora saiu da cidade e um tempo também que já havia terminado o ciclo do café. Mesmo assim, os meus pais vieram pra cá. Aqui eu estudei, eu me casei e vivi todos aqueles momentos fortes dessa época, entre esses momentos, o golpe, no dia primeiro de abril. E depois o AI-5, eu gosto, eu sou daquele grupo que gosta muito de estabelecer a diferença, dois momentos: houve o golpe militar, um tempo em que havia manifestações de rua, havia protestos, havia habeas corpus. A correspondência era respeitada, os domicílios também. Isso foi no dia 13 de dezembro de 68. A partir do dia 13, aí nós entramos de fato numa ditadura, com o fechamento do congresso, com a queda de todos os critérios jurídicos e institucionais e etc.
Cristina: Mas, o senhor disse que quando o senhor falou sobre o golpe, o senhor disse que inclusive a igreja na época aprovava o golpe, tinha uma, uma parte que não aprovava, o senhor podia esclarecer isso melhor?
Itamar: Sim, é fácil. Veja só, nós estamos em 1964, o Brasil estava numa convulsão social muito grande, muito rica não é? E, como parte de uma área que existia no país, o episcopado brasileiro caiu muito naquela história da carochinha do comunismo. Então, metade da CNBB, eu tenho esse manifesto até hoje lá em casa, metade da CNBB apoiou o golpe e a outra metade não apoiou o golpe porque eles estavam sensíveis a uma massa de propaganda muito grande e os mais desinformados, os mais alienados e os mais preocupados com uma porção de coisas, apoiaram o golpe, e era um momento muito importante na igreja, porque nós estávamos saindo do Concílio Vaticano II, que tinha virado a igreja do lado avesso, então, aquilo criou muita insegurança por uma parte do episcopado, daí a explicação do porquê que a igreja rachou ao meio em 64.
Helena: Na verdade, quer dizer, desculpa só pra encaminhar, é que a gente começou a falar da igreja, que a sua história pessoal é muito ligada à igreja; acho que é importante isso ser dito.
Itamar: É muito importante. Foi bom, Helena, você falar sobre isso porque eu tinha uma vinculação de militância desde 1949. Eu vivi todo aquele processo de renovação pré-conciliar, então a minha militância em igreja, ela era muito antiga e quando veio o golpe eu já tinha tido oportunidade, não só eu, mas muita gente tinha tido oportunidade de perceber, de criticar o que estava atrás desse golpe. Então, eles usaram a imagem de um governo estável, muito inseguro até, para colocar para a classe média que sempre foi preocupada com o bem estar e com as propriedades dela, diante disso tudo que estava acontecendo. Então, aquela mensagem que o grupo civil e militar, não é só militar, grupo civil e militar colocou, era toda uma mensagem assim, de criar uma insegurança que não existia. Hoje, se esse grupo estivesse aqui no Brasil, hoje, esse grupo estava preocupadíssimo (riso), hoje existe muito mais reformulação, muito mais riqueza, muito mais dinâmica do que naquele tempo. Agora, nunca lembrar que nós estávamos num continente chamado latino-americano, que estava na órbita ocidental dos Estados Unidos. Estou falando do tempo da bipolaridade, Moscou-Washington e o pessoal era muito sensível a essas propagandas. E aí a explicação.
Helena: Itamar, você podia falar um pouco agora assim sobre a sua prisão, que relação que a sua prisão tem com o seu vínculo com a igreja, como é que é isso…
Itamar: Ah, sim. A rigor, depois que eu comecei a viver a experiência da reclusão, a rigor eu fui percebendo…
Cristina: Não, da reclusão que o senhor fala…
Itamar: Reclusão, prisão!
Cristina: Mas quando que o senhor foi preso, assim…
Itamar: Foi em 1972, dia 28 de janeiro de 72, entendeu? A gente ficou quase um mês preso e eles queriam de fato saber de mim, porque eles sabiam que eu não participava de movimento clandestino, eles sabiam que eu não participava de nenhum partido político, então, eles sabiam da minha militância. Daí eu comecei a perceber claramente que eles queriam de fato era saber o que eu pensava, o que a igreja em Juiz de Fora estava pensando. Então, a minha prisão, no fundo, eles usaram o pretexto bem, bem concreto, mas no fundo era, queriam saber o que que estava acontecendo com a Igreja.
Cristina: Mas, eu queria voltar um pouquinho antes de 1972. O que culminou a sua prisão? Por que pelo que o senhor disse, o senhor era um professor e tinha uma atuação na igreja, e aí o que que isso levou à prisão?
Itamar: Foi importante você pegar isso, pinçar esses dois dados. Havia duas situações que incomodava muito a segurança. Havia em Juiz de Fora a então faculdade particular, chamada Faculdade de Serviço Social, onde eu lecionava “Doutrina social da igreja”, que era uma coisa totalmente contra todas as propostas do golpe e, ao mesmo tempo, eu militava dentro do ICB, aqui na universidade, e eu tinha à minha disposição auditórios, laboratórios e eu falava, falava porque eu me sentia totalmente descomprometido com o movimento clandestino e com o partido político. Então, eu falava o que eu pensava. Eles me questionavam, mesmo sabendo que havia entre os alunos pessoas ligadas ao serviço de segurança. Então, a intenção deles, eu estou insistindo muito nisso, era saber da minha militância como cristão.
Helena: E dentro da igreja o seu vínculo era com qual movimento?
Itamar: Ah, dentro da igreja eu participava, já desde 1958, com o Movimento Familiar Cristão que já tinha tido elementos presos no Brasil todo, foi quando eu percebi, realmente, é um momento sério porque incomoda. Então, eu me firmei nisso, então, se está incomodando é porque é sério. Então, vamos continuar. Agora, sabendo que eu estava sendo ouvido, censurado, gravado, mas eu…
Cristina: O senhor tinha essa consciência?
Itamar: Ah, tinha plena consciência, porque o que estava acontecendo comigo estava acontecendo com uma porção de pessoas. Não era nenhuma novidade não.
Cristina: E aí, é, em 1972 não houve um aviso, não houve nada, o senhor foi preso?
Itamar: Não, em 1972 aconteceu um fato que é o tal pretexto concreto que tiveram. Um aluno meu, que estudava medicina, que aliás foi barbaramente torturado, em Belo Horizonte…
Cristina: O senhor lembra o nome?
Itamar: Só sei o primeiro nome dele. Chama Domingos.
Cristina: Ah, será que é o Dominguinhos, que está no Rio?
Itamar: Não sei onde o Domingos está. O Domingos participava de um movimento clandestino, não sei se é AP, não sei. E ele me pediu aqui, se ele podia deixar lá em casa um pacote de propaganda porque uma pessoa ia buscar. Falei “Perfeitamente”. Ele foi lá, levou lá em casa e no mesmo dia outra pessoa foi lá e pegou o pacote, e na tortura ele falou que tinha deixado o pacote lá em casa. Foi o pretexto que eles tiveram pra pinçar “Opa, agora é, agora é o momento”.
Cristina: Pegamos o Itamar.
Itamar: Então, a partir desse pacote, que se perguntou muito pouco sobre ele, mas se perguntou muita coisa sobre o restante, eles queriam um pretexto e tiveram o pretexto.
Helena: Mas quiseram estabelecer alguma vinculação entre você e a AP?
Itamar: É, eles sabiam que eu não tinha uma vinculação assim direta com a AP. Sabia que lá em casa frequentava muitas pessoas desses movimentos clandestinos, né?
Helena: Porque o senhor recebia muita gente?
Itamar: Sim, eu tinha e eu tenho obrigação até hoje, de acolher as pessoas.
Helena: Então o senhor…
Itamar: Exatamente. E, tanto assim que depois eu continuei acolhendo as pessoas, familiares de pessoas que estavam presos aqui em Linhares, familiares de pessoas que estavam procurando assim um lugar onde pudessem conversar. A gente acolhia pessoas que vinham de fora visitar pessoas aprisionadas. Então, por uma questão de princípios da minha fé eu tenho que acolher as pessoas, entendeu? Eu não posso, em hipótese alguma. Até hoje nós acolhemos as pessoas. A gente acolheu uma pessoa escondida lá em casa, que depois eles ficaram sabendo. Esse escondido naquele tempo era muito relativo. Então, esse acolhimento era uma coisa assim típica de obrigação e de uma consciência de fé. Não era, não era sendo hospitaleiro não, era um acolhimento mesmo. Como a gente acolhia muitas pessoas também, então a questão era essa. Isso incomodava muito.
Helena: Relata aqui pra gente assim, o episódio da prisão.
Itamar: O episódio da prisão, na medida em que foram sendo presas pessoas que nós conhecíamos, de movimentos clandestinos, nós percebemos que o fecho estava fechando. As circunstâncias estavam fechando. E nós nos prevenimos. Agora, a qualquer momento, eles vão entrar aqui em casa. Então, o que que nós fizemos? Prudentemente, a gente espalhou as crianças com pessoas acolhedoras e deixamos só o nosso filho que tinha uns quatro anos em casa e, na medida em que foi fechando, nós ficamos de sobreaviso. Qualquer hora eles vão chegar aqui. Chegaram numa tardinha, de 28 de janeiro, numa sexta-feira, porque eles tinham uma técnica muito interessante, eles sempre prendiam as pessoas na tarde de sexta-feira, porque sábado e domingo eles desapareciam com a localização das pessoas. Eu só fui localizado porque o bispo de Juiz de Fora foi ao quartel general e o reitor da universidade foi ao quartel general e exigiu do general, que era o general Bandeira, que me localizasse. Que se não fosse o bispo e o reitor eu não estaria sendo localizado.
Cristina: E eles levaram o senhor pra onde?
Itamar: Eles levaram para Linhares.
Cristina: Então o senhor ficou direto em Linhares?
Itamar: Linhares. Foi quando eu tive um alívio quando eu vi pela beiradinha da caminhonete que eu estava indo para Linhares, porque eu sabia que indo para Belo Horizonte eu ia ser torturado, como as pessoas daqui que foram pra lá foram torturadas. Eu comecei a perceber que eu ia cair numa indagação, agora, conforme for a resposta eu ficaria aqui, conforme for eu iria para Belo Horizonte também.
Cristina: Aí o senhor chegou em Linhares numa sexta-feira?
Itamar: Numa sexta-feira, à tardinha. Cristina: O senhor ficou no isolamento. Itamar: Nós todos ficamos no isolamento. Cristina: O senhor foi torturado em Linhares?
Itamar: Não. Fisicamente eu não fui torturado. Eu fui muito humilhado. Foi muito difícil pra mim o dia passar ali na Getúlio Vargas e na Batista de Oliveira. A cadeia era no atual Conservatório. Então, foi muito difícil passar pela Getúlio Vargas e na Batista de Oliveira de mão algemada. Então, o que que eu fiz? Eu entrei assim, pra todo mundo ver. E pessoas que me conheciam ficavam assim, espantadíssimas. Eu fiz assim. E lá na cadeia nós fomos fichados como criminosos, com identidade, com fotografia e tudo, porque era um esquema de humilhação. A algema e a fichação das pessoas como criminosos – nós éramos criminosos – fazia parte do esquema de humilhação, e fazia parte também do esquema de humilhação a nudez. A nudez fazia muito parte da humilhação.
Cristina: Sim. Mas aí o senhor teve que ficar…
Itamar: Sim, eles desnudavam porque quando uma pessoa é desnudada ela perde muito “o dela”, a identidade dela. É um esquema humilhante, né?
Cristina: E dali, da Getúlio, o senhor foi direto pro Linhares?
Itamar: Voltei outra vez pra Linhares. Eu fui tirado um dia de Linhares para ir…
Cristina: À Getúlio Vargas?
Itamar: À prisão, à cadeia. Depois eu fui, retornei pra Linhares. Então, o esquema era esse.
Helena: Sempre nos deslocamentos, por exemplo, no ato da prisão, depois dos deslocamentos, sempre com algema?
Itamar: Nós só saíamos da penitenciária e do QG algemados, que é outro esquema de humilhação.
Cristina: Mas aonde o QG entra? Por que o senhor veio pra cá, pro centro, depois Linhares e o QG depois…
Itamar: Eles tinham uma pedagogia muito interessante. Não foram os militares que me prenderam, naquele tempo o que se chamava… Esqueci a sigla. Depois ela se desfez. Esqueci como ela se chamava, gente. Era uma instituição civil ligada à segurança. Então, eles que prendiam. Os militares, eles não…
Cristina: Sujavam as mãos…
Itamar: Não, de jeito nenhum. Eles prendiam e levavam a gente a gente por QG, aí sim, aí os militares assumiam, mas em nenhum momento dessa prisão, desses inquéritos policiais, eles não entravam. Então para todos os efeitos…
Helena: É o DOPS? O que você está tentando lembrar é DOPS?
Itamar: DOPS, é o DOPS! Esqueci. Depois ele acabou se esvaziando porque ele cometeu tanta gafe, fez tanta bobagem, perguntava coisas tão absurdas que passou a ser… é parte da pilhéria nacional. Então, você falava assim, que digamos assim, por exemplo, você falava num autor, filósofo, teórico famoso, que eles achavam que era alguém ligado ao trabalho de clandestinidade. Então, esse, esse DOPS foi, acabou extinto e foi assumido pelo DOI-CODI, que esse era mais duro. O DOI-CODI funcionava ao lado do QG, esses é que assumiram. O DOI-CODI que assumiu a investigação geral a nível de segurança nacional.
Helena: Fala um pouquinho sobre esse período em Linhares, a rotina na prisão, essas situações de humilhação, se ficavam te interrogando, como é que foi esse período?
Itamar: Dentro de Linhares a rotina era a seguinte, a gente ficava numa cela individual. Ninguém podia conversar com a gente, e a mim restava refletir, orar e esperar.
Cristina: Quanto tempo o senhor ficou em…
Itamar: Ah, fiquei quase um mês, eu não me recordo quantos dias. E todas as vezes que eles… eu só trocava algumas palavras quando alguém ia entregar a refeição, mais nada. Eles eram proibidos de falar conosco, e nós não podíamos falar entre nós mesmos.
Cristina: Então não tinha banho de sol, nada?
Itamar: Não, não. Tomava uma água de caneca e não tinha banho de sol, não tinha nada. Inclusive, você sabe muito bem que a Penitenciária de Linhares, ela foi construída pra criminosos comuns, não foi construída pra acolher pessoas que questionavam a ditadura. Ela foi improvisada como uma prisão. Isso é evidentemente a minha leitura.
Helena: E nesse período lá havia assim interrogatórios ou não?
Itamar: Como?
Helena: Nesse período eles faziam interrogatórios?
Itamar: Ah, sim.
Helena: Sempre?
Itamar: Sempre. Agora, os interrogatórios eram feitos tudo no DOI-CODI. Essa Penitenciária de Linhares entrou aí acidentalmente, porque eu podia ser colocado em outro local, mas ela entrou acidentalmente, entendeu?
Helena: E quando era pra depor?
Itamar: Era no QG.
Helena: Tiravam, tiravam…
Itamar: Sim. Tirava, algemava, desnudava, algemava e levava, depois voltava outra vez, e lá no QG todos nós tivemos que responder um inquérito a um capitão e ao promotor militar.
Cristina: O senhor se recorda de nomes?
Itamar: Sim. Vou falar nomes, não sei o nome todo, mas ele chamava-se capitão Berlangière e era promotor naquela época; um militar, o Simeão de Faria.
Cristina: O senhor chegou a conhecê-lo?
Itamar: Sim, eu o conhecia antes, tanto que ele ficou muito constrangido porque eu o conhecia. Conhecia meu pai…
Cristina: O senhor chegou a conhecer um juiz que foi cassado lá da Auditoria Militar?
Itamar: Não, assim não, filha, não estou me lembrando não. Eu estou me lembrando de um juiz que discordando do processo, que eles estavam usando, ele se afastou. Não sei se é esse, se foi cassado ou não foi cassado. Como eu me lembro de um advogado da polícia militar que também se afastou. Era o doutor Paletta. Ele teve um conflito de consciência, um conflito ético muito grande e falou “Eu não posso entrar nessa”. Ele se afastou. Mas assim, cassado não me recordo não.
Cristina: Como é que chama o juiz?
Helena: Antônio.
Cristina: Antônio.
Helena: É, Antônio Marques.
Itamar: Eu não me lembro de nomes. Não me lembro de nomes.
Helena: E nesse, nesses interrogatórios havia uma acareação com outros presos?
Itamar: Não. Houve uma acareação, uma acareação só, porque o que eu estava dizendo estava em contradição com uma pessoa que foi presa também. Essa era uma mulher, uma universitária. Eles usaram a famosa técnica de desnudá-la e ela abriu o jogo todo, e o meu nome entrou aí. Então, nessa acareação, eu contraditei com ela, ela falava uma coisa, eu dizia que não. Muitas coisas que ela havia falado, eu confirmei, que tinha acontecido eu negava, porque eu não estava ali à disposição daquele pessoal. Mas, eram negações que não comprometiam, mas eu queria ficar livre. Agora, havia muitas alegações fantasiosas, totalmente fantasiosas, que não se mantinham e eles mesmos depois perceberam. Inclusive, me trocaram a rua de residência, eles perceberam que havia muita contradição ali.
Cristina: O senhor disse em algum momento, inquéritos. Foi mais de um inquérito?
Itamar: Ah, sim. Foram uns quatro ou cinco inquéritos. A cada inquérito parece que eles fracionavam os inquéritos, e hoje eu percebo que a cada inquérito eles perguntavam especificamente sobre uma área.
Cristina: O senhor se recorda de alguma coisa assim?
Itamar: Não, o que eu me recordo, eu falei agora mesmo, que no fundo eu percebia que a minha prisão não estava ligada a nenhuma coisa que eles tinham pego lá em casa. Estava ligada a ação da igreja. Especificamente, eles queriam saber tudo.
Helena: O tal pacote foi o pretexto?
Itamar: É, foi o pretexto, o pretexto concreto. A documentação todo do Movimento Familiar Cristão, um dia eu vi toda ela numa mesa. Eles tinham a documentação toda. Me perguntaram sobre o Concílio, sobre uma porção de coisas. Eles estavam assim, querendo se informar.
Cristina: E a igreja, como que a igreja reagiu?
Itamar: Aqui, aqui em Juiz de Fora? Aqui me deu apoio. Quando eu falo igreja em Juiz de Fora eu falo bispo. O bispo me deu apoio. Mas ele se manteve discreto inicialmente. Ele não queria se envolver. Então, ele mandou elementos lá em casa pra apoiar minha esposa, para apoiar a situação. Agora, depois quando começou aquela história de não saber onde que eu estava, o bispo entrou e o reitor também entrou. O bispo, depois eu fiquei sabendo que ele disse pra o general “Eu quero saber aonde esse homem está”. Diz que ele colocou assim o indicador e falou “Quero saber onde está”. Depois eu fiquei sabendo, por isso tudo, que havia um mandato de prisão pra minha mulher também.
Cristina: E ela tinha algum envolvimento?
Itamar: Não, porque a interpretação que nós damos hoje é que se eu entrasse em contradição com alguma coisa, eles iam pegá-la pra ela confirmar ou não confirmar, entendeu? E eles estavam assim, totalmente desinformados de tudo. E foram se informando devagar.
Cristina: E quando o senhor saiu de Linhares, um mês depois, né, que o senhor falou?
Itamar: Quase um mês.
Cristina: E quando o senhor saiu de Linhares, como é que foi a sua volta? E a aula e a faculdade, o que aconteceu com a sua vida?
Itamar: Foi interessante você perguntar isso. Juiz de Fora era bem menor, né? Nós estamos em 1972, e a gente era muito conhecido. Pessoas que haviam sido presas eram muito conhecidas, inclusive eu. Então, eles tentaram minimizar a imagem e uma das coisas que eles usavam muito era caluniar as pessoas. E eu me lembro muito bem que eles espalharam na cidade que eu cheguei no Quartel General chorando. Era o modo deles tirar o impacto. Eu nunca chorei, é claro que eu não cheguei lá soltando foguetes, mas eu fiquei lá, eu cheguei lá deprimido, agora, jamais chorando, porque eu tinha a certeza que as minhas opções que me levaram à prisão eram opções da minha fé, não era questão óbvia de superficial e oba-oba. Era uma coisa muito mais profunda, né? Eles usaram muito isso para desmoralizar, entendeu? Como usaram também outras situações. Um dia um elemento da segurança falou pra mim que o Riani tinha sido preso debaixo da cama. E não foi. O Riani se apresentou ao QG. Era o modo que eles tinham de desmoralizar a pessoa.
Cristina: Mas quando o senhor retornou, o senhor retornou pra faculdade ou o senhor…
Itamar: Ah, sim. Eu retornei pra universidade, fui ao reitor agradecer. Fui ao bispo, agradecer. Retornei às aulas normalmente.
Cristina: Foi aceito, sem nenhum preconceito?
Itamar: Claro, claro, fui aceito normalmente.
Cristina: E na outra faculdade em que o senhor dava aula?
Itamar: Não, lá eu já não estava mais lecionando, porque eu já estava aqui em tempo integral na universidade, então eu não podia lecionar lá mais. Eu passei a lecionar depois no antigo Seminário Maior da Floresta, para os alunos de Teologia. Mas isso foi depois.
Helena: Agora, durante a sua prisão, assim, a sua família sofreu algum tipo de represália, algum tipo de…
Itamar: Não, não.
Helena: A família não?
Itamar: Não, quando eu falo família, aqui, eu diria só a minha esposa. Ela sofreu, é uma tensão e uma pressão muito grande. Agora, recebeu muito apoio, e eles também estavam sabendo das pessoas que circulavam lá em casa em nível de apoio. E eu tenho certeza que, como aconteceu com muita gente, eles ficaram muito preocupados com a repercussão da minha prisão. Voltando a dizer, nós estamos falando de uma cidade bem menor do que hoje, então, você imagina você se eu fosse preso em São Paulo, quem ficava sabendo? Agora, ser preso numa cidade pequena, aí a repercussão era outra.
Helena: Na época da prisão, eu não me lembro, o senhor ocupava cargo de direção no MFC?
Itamar: Não, não.
Helena: Não estava na direção?
Itamar: Ah sim, sim.
Helena: Já estava na direção?
Itamar: Eu participava daquilo que nós chamamos, estatutariamente, de equipe de coordenação da cidade. Nós fomos reduzidos, o Movimento Familiar Cristão, a doze casais. Depois então é que começou…
Helena: Naquela época?
Itamar: Naquela época começou então a se rever e começou muito timidamente a crescer novamente.
Cristina: E o seu processo? O senhor se recorda?
Itamar: Como?
Cristina: O seu processo?
Itamar: Olha, eu vou repetir termos legais que você deve conhecer melhor que eu. Eu não fui denunciado porque havia um processo da prisão, que aí eles escolhiam quem que iria responder julgamento.
Cristina: Então, não houve julgamento?
Itamar: Eu não entrei pra julgamento, porque mais uma vez se reforçava a ideia que eles queriam de mim era outras informações.
Helena: Passou por inquérito, mas não teve processo…
Itamar: Como é que se chama mesmo? Legalmente eu não fui pronunciado, eu não fui pronunciado. Quem não é pronunciado, como outros foram, que estiveram presos comigo. Quem não foi pronunciado, não participou do julgamento posterior, julgamento legal e etc. Existe a expressão pronunciado?
Cristina: Eu não entendo nada de crime, mas eu acho que é denúncia, eu acho que…
Itamar: É que naquele tempo eu lembro bem dessa expressão “Fulano de tal foi pronunciado”.
Cristina: É que aí o promotor, depois do inquérito concluído, o promotor tem que fazer uma denúncia. No caso, eles denunciaram, mas, geralmente, Simeão de Faria denunciava todo mundo.
Itamar: Eu tenho a impressão que a denúncia era coletiva, depois eles pinçavam quem que ia a julgamento. A minoria foi pra julgamento. A maioria não foi pra julgamento. Nessa maioria estava eu.
Helena: Do ponto de vista profissional, felizmente, isso aí não trouxe consequências, eu diria, de perda de emprego, nada disso aqui na universidade…
Itamar: Ficou uma consequência muito interessante. Anos depois eu fui eleito diretor do ICB, com a maioria absoluta. Eu percebi que a resposta era essa.
Helena: Era essa, né…
Itamar: No ICB nós tivemos a primeira experiência de eleição de diretor direto. Alunos, professores e alunos e a totalidade dos votos que me foi dada, eu percebi claramente que era uma resposta para o QG.
Helena e Cristina: Um desagravo.
Itamar: E eles devem ter entendido isso.
Helena: Do ponto de vista pessoal, familiar e tal, esse fato da prisão trouxe muitas consequências? Como é sua avaliação?
Itamar: Helena, aconteceu um fato fantástico. Eu me lembro disso. Naquela época, nós tínhamos um filho de quatorze anos, o mais velho. Eu chamei esse filho num quarto e disse pra ele “Oh, aconteceu isso, isso”, ele ouviu atentamente e falou assim “Pai, esse negócio de evangelho é pra valer?”, eu falei “É”. Pra mim valeu toda a prisão, porque o que vale é o testemunho. O restante não. O restante era muito pequeno. Houve consequência depois, para os filhos. É, houve consequência depois.
Cristina: De perseguição, que o senhor diz?
Itamar: É, a partir daí, oh Cristina, nos fomos, a família toda sofreu muita pressão. Por exemplo, nós temos uma filha, hoje professora da PUC, no Rio. Ela tinha 15 anos e tinha um jornal num colégio da cidade e esse jornal, um dia, caiu nas mãos da segurança. Eles tiveram o desplante de entrar no colégio e conversar com a minha filha, no sentido de pressioná-la. Uma menina de 15 anos.
Cristina: Filha do Itamar.
Itamar: Exatamente. A ideia é essa. E o filho mais velho, ele participava muito de movimento de teatro em Juiz de Fora; ele foi muito pressionado também. Então, era um esquema assim. A impressão que eu tenho hoje, 40 anos depois, é que eles tinham que manter todos, não só nós, mas todas as pessoas num esquema total de tensão. Então, enquanto houvesse essa sensação de tensão, havia de fato um, uma ideia assim: “Estamos sendo vigiados”, entendeu? A questão toda era essa. Inclusive aqui, no ICB também.
Cristina: O senhor tinha essa sensação?
Itamar: Não, isso era claro, muito claro isso. Qualquer coisa que eu falava o serviço de segurança mandava indiretamente um recado pra mim. É claro que eu não falava nenhuma inverdade. Por exemplo, eu me lembro que dois anos depois que eu saí da prisão eles prenderam um menina que trabalhava lá em casa, empregada doméstica. Detiveram ela um dia lá no QG e falaram com ela “Você não fala com ninguém que você veio aqui”. Ela falou comigo e eu falei “Pode deixar que eu vou falar”. No dia seguinte eu pus o microfone, antes de começar a aula e comecei assim “Olha, estou avisando a vocês que eles estão prendendo até empregada doméstica”. Isso deve ter chegado lá. E chegou pra mim depois a ideia de que eles não gostaram de eu ter falado aquilo. Eu não estou ligando pra isso. Porque era verdade. O que eu tinha medo era de alguma mentira, e a mentira eu creditava no nome deles, e a verdade eu debitava em meu nome. Essa era a ideia, em nome da minha fé.
Cristina: O senhor disse que recebeu muitas pessoas, acolheu muitas pessoas. Tem muitas pessoas desaparecidas, mortas. O senhor se recorda de algum nome que o senhor acolheu, que o senhor…
Itamar: Não, não. Olha, eu me lembro do… não do nome. Eu me lembro de uma pessoa que tomou refeição lá em casa e que depois eles mataram. A única pessoa que eu me lembro assim, nominalmente, de ter sido acolhida lá em casa, fez refeição conosco, é o Nilmário. Nilmário é deputado hoje?
Helena: Nilmário Miranda?
Itamar: É ele, saiu.
Helena: Nilmário Miranda esteve na sua casa?
Itamar: Ele tomou refeição lá em casa. Chegou lá de sandália de dedo, todo, naquele processo de alguém que sai da prisão. Agora essa pessoa, que é um rapaz, a minha mulher sabe o nome dele, mas eu sei que ele esteve lá em casa, tomou refeição lá em casa e foi morto.
Helena: O Gildásio?
Itamar: Não me lembro o nome dele, não me lembro do nome dele.
Cristina: O Nilmário teve preso aqui.
Itamar: Teve, teve sim.
Cristina: Em Linhares. Quando o senhor estava em Linhares o senhor se recorda de quem estava, ou o senhor não sabe, não tinha informação?
Itamar: Sim.
Cristina: De quem estava preso próximo…
Itamar: Sim. Posso citar nomes, um rosário de nomes.
Cristina: O senhor se recorda?
Itamar: Vou começar. Renê Gonçalves Matos…
Cristina: Ele estava em Linhares?
Itamar: Estava em Linhares comigo. O Luís Flávio Rainho.
Cristina: Seu marido?
Helena: Meu ex-marido, Jubel Barreto.
Itamar: Jubel Barreto. Deixa eu ver mais…
Cristina: Tinha mulher nessa época lá em Linhares?
Itamar: Sim, mas não em Linhares. Eles colocavam as mulheres em outra entidade, que eu não me lembro, não me lembro. Porque Linhares, repetindo o que já disse, não tinha uma infraestrutura pra isso. Então, eles improvisavam, improvisavam as coisas. Lá em Linhares não colocaram nenhuma mulher. As pessoas que foram presas, eu me lembro de duas, essas duas pessoas que foram presas, o Bispo de Juiz de Fora conseguiu que ela depois cumprisse até pena em entidades religiosas daqui da cidade. Umas duas assistentes sociais.
Helena: Mas voltemos aos nomes dos que estavam lá, você se lembra de mais alguém?
Itamar: Pois é, do Emílio Rainho. Ah, na memória está a fisionomia tranquila de um rapaz que presidiu o DCE da época, mas eu não estou lembrando, o rapaz que estudava engenharia, presidiu o DCE da época. Não estou lembrando o nome dele.
Helena: Paulo, Paulinho, Paulinho Parceiro?
Itamar: Será que é? Eu não, eu não tenho certeza Helena, eu não sei, não estou lembrando o nome. Muito simpático, estudava engenharia foi, era presidente do DCE.
Helena: É o Paulinho.
Cristina: E o senhor ouviu falar, porque dizem que em Juiz de Fora não aconteceu tortura. Isso, diz “Ah, Juiz de Fora é todo mundo bonzinho, não, não houve tortura”, mas algumas pessoas dizem que existe uma casa onde era praticada a tortura e que é lá no Mariano. O senhor não sabe disso?
Itamar: Não, não sabia disso não. Sei que o Riani foi torturado.
Cristina: Mas, aqui em Juiz de Fora?
Itamar: Aqui em Juiz de Fora.
Cristina: Ele fala que não. Ele fala que também que não.
Itamar: É como eles falam, na casa da morte também não houve tortura.
Helena: Mas assim, você nunca soube de fato aqui em Juiz de Fora de tortura?
Itamar: Assim, concretamente não. O único fato que eu soube, inclusive conversei com ele, foi com o Riani.
Helena: Sim.
Itamar: Que ele se apresentou pra ser preso e eles espalharam que ele tinha sido preso debaixo da cama porque é uma situação humilhante, você esconder debaixo da cama. Eles tinham tudo na mão. Então, eles podiam inventar calúnias, injustiças como queriam, mentiras. Eles eram capazes de criar qualquer situação. É uma cidade que uma boa parte da população era alienada da realidade, acreditava piamente.
Helena: Mas alguém do MFC ou da igreja, assim progressista – vamos chamar assim – da época, mas alguém foi preso assim, daqui de Juiz de Fora?
Itamar: Oh, Helena, eu não me lembro não. Aqui em Juiz de Fora, eu não me lembro não. Eu sei, por exemplo, de uma pessoa que eu estou esquecendo o nome dela, do MFC de Salvador e ela inclusive foi presa e morreu na prisão, de tortura. Não estou lembrando bem o nome dela.
Helena: Tudo bem. Acho que é isso. O senhor está lembrando de mais alguma coisa?
Cristina: Eu acho. Eu acho… Tem mais alguma coisa que o senhor gostaria de falar a respeito?
Helena: Acrescentar…
Cristina: É, acrescentar alguma coisa?
Itamar: Você vai ter que me ajudar, oh, Cristina, porque eram tantas coisas que aconteciam…
Cristina: E nesse todo, qual é a sensação? O que ficou pra sua vida desse…
Itamar: Pra minha vida, pra minha vida ficou o seguinte, foi um momento não só aquele na prisão, como também tudo que deu sequência, foi um momento em que eu pude sentir experiência de tentar ser coerente com aquilo que eu acreditava, com aquilo da minha fé. Com a minha condição humana frágil e etc. Mas foi um momento que eu tentei ser coerente. O que eu posso explicar você, entendeu? Porque na medida em que foi acontecendo isso, até em 1977 já tinha começado a esvaziar bastante os esquemas ditatoriais. Eles foram se esvaziando porque foram se contradizendo. A situação econômica mudou, o país, o mundo. Então, eles foram se contradizendo e se esvaziando na medida em que iam se esvaziando, as pressões diminuindo porque ficou insustentável, ficou insustentável. A opinião pública passou a ser mais consciente. Aconteceram eleições. Então, pela própria natureza, a mentira, ela se desmonta. A mentira é sempre perseguida por esse processo de implosão. À medida que ela implode e a verdade explode.
Helena: Até em que período, mais ou menos, que você sentia essa, assim, essa impressão de vigilância, de estarem te observando…
Itamar: É, eu vou tentar, eu vou tentar sem muita certeza, eu acredito que até 1976.
Helena: Ainda havia essa sensação?
Itamar: É, essa sensação de que eu estava sendo vigiado, que não devia ser uma coisa só minha, devia ser a sensação de todas as pessoas que estavam envolvidas em oposição. Devia fazer isso também com os partidos políticos daquela época, e foi se esvaziando, repetindo o que eu já disse. Agora, foi muito tenso de 1972 a 1975.
Cristina: Foi a pior época, de 1969 a 1975. Foi o pior, né?
Helena: É o período Médici, né?
Itamar: Pra você ter uma ideia, em 1977, o Movimento Familiar Cristão se reuniu em Curitiba. Lá em Curitiba, a coordenação do encontro, eles nos avisaram “Olha, existem elementos do serviço de informação aqui”. Obviamente, estavam lá exercendo a função deles, mas como era uma coisa que não me envolvia diretamente, eu estava só participando do encontro, embora o tema do encontro fosse desconfortável, então, pra segurança, mas eu não me envolvi direto. Mas havia até 1977, 1976, eu tenho a impressão que essa tensão existiu, depois foi diminuindo. Eles usavam muito atingir os nossos filhos pra dar recado. Era, era uma maneira de atingir os nossos filhos e dizer “Olha, nós estamos observando”. E o serviço também de gravação de telefone era muito primitivo, não era feito hoje, sofisticado. Então, você sabia quando estava sendo ouvido. Tinha um clique, você sabia. E a gente estava muito avisado sobre isso.
Helena: Que tinha que ter cautela.
Cristina: Tinha que ser, né…
Helena: Acho que é isso. Você tem alguma coisa a mais que você quer dizer?
Itamar: É filha, eu estou… porque é aquilo que eu perguntei a você. Falei com vocês duas que vocês vão ter que me provocar, porque é muita coisa. É muita coisa. Então, se você não me provocarem… eu respondi na medida da provocação. Se vocês não me provocarem eu não consigo lembrar bem das coisas, entendeu?
Helena: Acho que é isso.
Cristina: E a igreja, teve um tempo em que ela ficou fora também, né. Pra se defender, a igreja meio que…
Itamar: Não, não.
Cristina: Essas greves de fome que aconteciam no Brasil inteiro, o senhor se…
Itamar: Oh, Cristina, desculpe eu falar com você uma coisa que não sei se pra você é bem distinto, mas é bom estabelecer essa distinção. Existe a instituição e existe a igreja, como existe o direito e a OAB que são… a OAB é uma coisa institucionalizada, humana, portanto falha. A instituição igreja é humana, falha. Agora, tem igreja. A ideia é da busca da verdade, da busca da humanização. Essa igreja, da qual eu me refiro, ela começou a se opor frontalmente a partir do momento que começou a ser atingida; nós tivemos vários bispos presos. Então, eles perceberam “Opa, não é só laico não”, nós estamos sendo perseguidos também. Então, na medida em que freiras, padres e bispos começaram a se envolver, aí começou a ficar muito clara a situação, entendeu? Mas, inicialmente, era só o laicado, né? O pessoal ficava assim olhando de longe. E, ficou bem entendido?
Cristina: Sim. Eu acho que só faltava essa.
Helena: Seu Itamar, muito obrigada.