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José Villani Côrtes

Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora

Depoimento de José Villani Côrtes

Entrevistado por Fernanda Sanglard e Rosali Henriques

Juiz de Fora, 12 de setembro de 2014

Entrevista 013

Transcrito por: Rebeca Angel

Revisão Final: Ramsés Albertoni (09/10/2016)

 

Fernanda: José Villani, eu gostaria que o senhor se apresentasse, dissesse o nome completo do senhor, a idade, onde que o senhor nasceu, contasse um pouco da história de vida do senhor.

José Villani: Pois não, prazer muito grande, meu nome é José Villani Côrtes, eu nasci aqui em Juiz de Fora, em 2 de fevereiro de 1929, tenho oitenta e cinco anos.

Fernanda: Qual a profissão do senhor?

José Villani: Eu sou funcionário do Banco do Brasil, aposentado, mas eu sou contador, economista e advogado. Atualmente eu sou presidente da Associação dos Funcionários Aposentados do Banco do Brasil, aposentados e pensionistas do Banco do Brasil. Já estou lá há mais de dez anos como presidente da associação, fica difícil eu sair viu, difícil, a gente trabalha muito, conseguimos a sede própria da associação que fica na Rua Marechal Deodoro, na esquina da avenida Rio Branco, ali no antigo Rocha Hotel, ali é a nossa sede, no quinto andar.

Fernanda: O senhor se tornou bancário quando?

José Villani: Bancário eu sou desde rapazinho, desde 18 anos, 20 anos.

Fernanda: Alguém da família do senhor tinha algum envolvimento político, participava de sindicato, de partido político, de movimento estudantil? O senhor conversava com a sua família sobre política no ambiente familiar?

José Villani: Não, com a minha família eu sempre conversei, mas meu pai e minha mãe nunca participaram dessas coisas não.

Fernanda: Algum tio, algum primo…

José Villani: Não, não, ninguém.

Fernanda: Quando que o senhor entrou para o sindicato dos bancários?

José Villani: Pro sindicato dos bancários eu entrei… precisar o ano certinho assim eu não estou conseguindo não, sabe, mas eu devia ter o que, 28, 30 anos de idade.

Fernanda: Lá por volta de 1960, 1963…

José Villani: Antes, antes um pouco. Eu militava como bancário, como sindicalizado. Então, eu frequentava as assembleias, de maneira que eu fui me destacando através de falar nas assembleias, então eu fui eleito presidente do sindicato. Eu era presidente do Sindicato da Cooperativa do Banco do Brasil, presidente dos bancários. Era ali na Rua Batista de Oliveira a cooperativa, depois que eu saí, na época da revolução, acabaram com a cooperativa, fecharam a cooperativa, era uma maravilha, ajudava muito a nossa categoria, os sindicatos também participavam, ajudavam, mas depois da revolução, do golpe de Estado que deram, eu senti que as coisas modificaram muito, né? Ficou todo mundo afastado, então…

Fernanda: Onde que funcionava a cooperativa?

José Villani: A cooperativa funcionava na Rua Batista de Oliveira, na esquina da Barbosa Lima, logo depois, a Barbosa Lima… a cooperativa era ali, e o sindicato, eu adquiri a sede na minha gestão lá, como adquiri também a sede dos aposentados do Banco do Brasil, ali na Rua Marechal Deodoro, já na minha gestão já consegui duas sedes próprias pros aposentados e pros bancários ali. Eu tenho trabalhado muito, né?

Fernanda: Desde que iniciou o trabalho, né, no banco, o senhor já fazia parte do sindicato.

José Villani: Ah é, eu sempre fui sindicalizado, sempre fui sindicalizado…

Fernanda: Por volta de 1963…

José Villani: Porque o meu esclarecimento político, a minha posição política sempre me indicava que eu devia militar no sindicato, porque eu acho que trabalhador sem o sindicato dele não tem condição de evoluir, de melhorar, de reivindicar pra ele, melhorias pra ele, e tudo isso é feito através do sindicato. Então, eu participei intensamente da vida sindical, e lá fui eleito presidente do sindicato quando a revolução, revolução, esse golpe de Estado, né, de 1964, eu fui colhido aí e preso, e por aí a fora. Aí, começou a minha via crucis, né?

Fernanda: Senhor José Villani, além de fazer parte do sindicato, o senhor fazia parte de algum partido político nessa época?

José Villani: Eu já fui filiado a partido político, partido socialista, fui filiado mais tarde, eu fui filiado ao partido do Tarcísio, PMDB, né?

Fernanda: PMDB.

José Villani: Eu cheguei uma época aí, fui candidato a vereador, tive uns 400 votos, alguma coisa assim, mas também nunca trabalhei na minha candidatura não. Eu consegui uns panfletos aí, que me foram doados por colegas aí, e mais nada, não trabalhei mais nada, de maneira que eu tive uns 400 votos e estou muito feliz com isso, estou satisfeito, 400 votos chega pra mim, está bom, muito bom.

Fernanda: José Villani, o senhor se lembra do dia do golpe, o senhor se lembra do dia 31 ou do dia 1º de abril de 1964?

José Villani: Lembro, lembro…

Fernanda: O que é que o senhor lembra dessa…

José Villani: Eu lembro que, primeiro que… o seguinte, a revolução não foi no dia 31, a revolução começou antes, no dia 30, que eu fui preso antes da data que eles falam aí, a revolução começou um pouquinho antes. Eu acredito, acredito, eu não vou dizer com absoluta certeza, mas é difícil de eu estar errando sabe, onde a revolução começou, ela nasceu aqui em Juiz de Fora, eu acredito que eu tenha sido o primeiro preso da revolução do Brasil inteiro, porque quando eu cheguei preso lá na delegacia de Juiz de Fora, na Rua Batista de Oliveira, não tinha ninguém preso lá, só tinha eu, e lá eu fiquei, depois apareceu um rapaz que era funcionário da Escola Cândido Tostes que foi preso também, eu esqueço o nome dele agora, e, depois, apareceu outro e tal, e… mas o primeiro a aparecer lá na delegacia fui eu. E quando fui lá pro Quartel General, da delegacia Rua Batista de Oliveira pro Quartel General, eu cheguei no quartel, não tinha nenhum preso político lá, nenhum, me colocaram numa sala lá, com um cobertor assim no chão, e lá fiquei eu.

Fernanda: Senhor José Villani, qual a reação da família do senhor nesse momento que o senhor foi preso? O senhor já era casado?

José Villani: Já casado, com quatro filhos. A reação é a pior possível, né?

Fernanda: Onde o senhor estava na hora que o senhor foi preso?

José Villani: Eu estava na cooperativa, devia ser umas 7h30 da manhã, chegou lá um investigador da polícia e me falou bem assim “Eu tenho ordem pra deter o senhor”. E tinha um outro esperando lá em baixo, eu falei “O que que tá havendo?”, “Não, o senhor vai saber” e tal, e puxou a carteira de policial.

Fernanda: Era policial da polícia civil?

José Villani: Polícia civil, dali eu fui pro exército, quer dizer, o Quartel General.

Fernanda: Primeiro o senhor foi pra delegacia…

José Villani: Primeiro eu fui pra delegacia, depois eu fui pro quartel.

Fernanda: Eles interrogaram o senhor na delegacia?

José Villani: Não, na delegacia eles não me interrogaram não. Eu fui pra delegacia e lá eu fiquei aguardando sem saber exatamente o que estava acontecendo, aí veio lá um dessas caras da polícia, fui jogado lá dentro, jogado mesmo, não me colocaram sentadinho lá, eu fui empurrado e jogado lá dentro igual lixo, desse jeito.

Fernanda: E o senhor foi levado…

José Villani: Naturalmente estavam dando lá um exemplo do que eles iam fazer, implantar no Brasil, né, essa maneira de lidar com o ser humano não é, né.

Fernanda: Porque que o senhor acha que o senhor foi preso antes?

José Villani: Eu fui preso antes porque a revolução, chamada revolução, se iniciou em Juiz de Fora, e o Quartel General era ali, logo depois da Rua Batista de Oliveira, ali no bairro Mariano Procópio. Então, eu fui o primeiro preso e, também, sem outro significado nenhum, o meu movimento aqui era o mais… assim, vamos dizer, corajoso, mais atrevido pra época, eu movimentava muito mais, fazia greve, fechava os bancos, sindicatos, lá direitinho, então, naturalmente, eles podem ter falado “O primeiro a ser preso é o senhor José Villani Cortes”. Então, acharam por bem que eu seria perigoso e outros. Você veja aí no jornal que eu te mostrei, você vê que eu só ir preso sete dias depois do dia trinta e um de março, é que tão prendendo gente da revolução, está aí o jornal na mão da gente, está vendo, sete dias depois, eu não, sete dias depois é mais de uma semana. Eu fui o primeiro a estrear (risos), estrear a cadeia lá.

Fernanda: O senhor chegou a encontrar em algum momento na prisão com o senhor Misael que era diretor dos Correios na época?

José Villani: O Misael… eu conheci muito o Misael, mas foi depois de alguns dias que ele chegou lá.

Fernanda: Mas ele chegou aonde?

José Villani: Ele foi preso ali na delegacia, mas eu fui encontrá-lo eu já estava lá no QG.

Fernanda: Você foi encontrar com ele no QG?

José Villani: No QG. Ele foi levado pra lá. Porque, primeiro, eles estavam prendendo aqui na delegacia, depois passaram dias, direitinho, lá no Quartel General começou a chegar gente.

Fernanda: Então, ele chegou no QG depois do senhor?

José Villani: É, no QG depois de mim.

Fernanda: O senhor chegou a ficar em cela junto com alguém? Em algum quarto, algum lugar junto com alguém, ou ficava sozinho?

José Villani: Não, sozinho não, era… sempre tinha, geralmente era um lugar que tinha 3, 4, 5 pessoas, lá no QG tinha mais gente, tinha um salão lá, grande, cheio de gente, tinha talvez umas 10 pessoas, dormindo no cobertor no chão.

Fernanda: O senhor lembra quem eram essas pessoas?

José Villani: Que estavam presas comigo? Bom, tinha o da Escola Cândido Tostes que eu te falei que foi preso junto comigo, eu não me lembro o nome dele. O Misael, Misael, acho que era preso com a gente ali, o Misael, é difícil porque tem muito tempo, muito tempo, e eu já estou com oitenta e tantos anos, a minha memória não está a maravilha que era não, o ano passado eu tive acidente vascular cerebral, aí depois do AVC a minha memória caiu muito, mas eu era capaz de saber de cor e salteado o nome de todo mundo, mas o Antônio Armon, que era agente do IABB, Antônio Armon, lembrei agora, o Jair Hein, ele estava preso com a gente, mas muitos dias depois, uns oito dias depois é que ele apareceu lá. Aí passou mais um tempo eles botaram a gente num carro fechado e foi, me levaram pra Belo Horizonte, aí eu fiquei lá em Belo Horizonte preso, um tempo lá. Saí lá pro DOPS, lá em Belo horizonte, do DOPS depois eu fui pra um outro departamento do exército, da aeronáutica.

Fernanda: Lagoa Santa.

José Villani: É, Lagoa Santa, eu fui pra lá, pra Lagoa Santa. E fiquei um tempo lá na Lagoa Santa, de vez em quando, um dia lá, recebi visita da minha mulher, ela foi lá.

Fernanda: Como é que a esposa do senhor tomou conhecimento que o senhor havia sido preso, que o senhor…

José Villani: Olha, você sabe que eu não sei exatamente como é que ela ficou sabendo não, porque eu fiquei preso, incomunicável, devem ter falado com ela aqui, né, “Está preso”, ela deve ter assustado, muito assustada ela deve ter ficado. Eu devo muito a ela, o sofrimento que ela deve ter passado, mas eu não posso, é, são coisas que a gente não pode mudar, né?

Fernanda: E como é que ela fazia com os filhos do senhor, porque o senhor sustentava…

José Villani: Não, ela tinha a mãe dela aqui, tinha o pai dela, tinha pessoas da família e tudo, todo mundo se juntou, eu tinha a minha casa própria na avenida Rio Branco, então, sem perigo, ela conseguiu se virar. Sofreu bastante viu.

Fernanda: Quanto tempo o senhor ficou afastado, o senhor ficou preso no total?

José Villani: O tempo todo que eu fiquei preso? Exatamente o tempo todo. Bom, lá em Belo Horizonte eu fiquei um tempo bom, mais ou menos um mês, alguma coisa assim. Depois eu vim embora pra Juiz de Fora, fiquei na polícia lá, na… naquele bairro lá.

Fernanda: Santa Terezinha.

José Villani: Santa Terezinha! Lá eu fiquei bastante tempo.

Fernanda: 12º batalhão?

José Villani: É, aquele batalhão da polícia lá. Uma rua que sobe assim, é, esqueci o nome, daquilo lá. É isso aí filha.

Fernanda: O senhor foi torturado, senhor José Villani?

José Villani: Bom, você quer saber é o seguinte, negócio de tortura, é o seguinte, existe uma tortura que o sujeito pode ficar amarrado, preso, no lugar direitinho, mas sob o aspecto de, vamos dizer, abatimento moral, isso aí não tem nem dúvida. Desde o primeiro dia que levei bastante chute. Não queria que meu filho tivesse ouvindo não, mas se ele ouvir, maior, brasileiro (risos), tem mais de 15 anos, já tem mais de 15 anos já, então, pode ouvir à vontade. Eu desci lá na… quando eu desci lá na Rua da Bahia, no DOPS, lá na rua da Bahia, em Belo Horizonte, lá eu levei bastante, bastante tranco lá, sabe, inclusive segurando a roupa, porque o cinto da gente, eles puxavam o cinto da gente, e tinha que segurar as calças porque segurando a roupa você pode levar pancada a vontade, né? É uma coisa que eles usam muito fazer isso, esse pessoal que cuidava disso aí, esses bandidos aí. Eles te obrigavam…

Fernanda: Eles chutavam…

José Villani: É, você leva chute, pontapé, tapa na cabeça, soco. Isso aí é… isso é tranquilo.

Fernanda: Durante os interrogatórios ou em outros momentos?

José Villani: Não, interrogatório não, interrogatório a gente fica sentado, geralmente bota a mão na cadeira assim, e tal, e eles vão perguntando e você vai respondendo, mas eu vi colega, vi colega que no interrogatório apanhou, levou bastante, inclusive o diretor da faculdade de direito, doutor Tomás Bernardino, eu lembro.

Fernanda: Qual que é o nome dele? Tomás Bernardino?

José Villani: É, Tomás Bernardino, professor, cara competentíssimo, era diretor da faculdade de direito.

Fernanda: Aqui em Juiz de Fora?

José Villani: Em Juiz de Fora. Olha, você quer saber de uma coisa, você tá me perguntando essas coisas, tem coisas indescritíveis sabe, não dá, você tinha vontade é de ajustar com o cara, encontrar com ele, lembrar dele, quem é ele, direitinho e pronto, mas fazer um acerto de contas com ele, cara a cara, aí sim, mas, eles somem depois, desaparecem, são transferidos pra outro lugar.

Fernanda: Eles usavam algum codinome, algum nome que o senhor pudesse se lembrar ainda que não fosse um nome verdadeiro?

José Villani: Deles lá não, deles eu não sabia o nome deles não, sabia o nome deles não. Eu sabia o nome do general aí, general que estava na época aí era um general muito conhecido o nome dele, era o comandante aí da 4ª Região. Ele que organizou a coisa toda aí, porque ele era dum partido nazista aí que tinha aí, então, ele tinha prazer em prender comunista, ou dito comunista, porque também é o seguinte, tem camarada que era comunista e foi preso, tem camarada que não era comunista e foi preso, quem era simpatizante foi preso também. Então, todo mundo se misturou ali, agora, quem prendia, isso aí tranquilamente não era nada disso, era extrema direita, é partido de extrema direita. O nome no general ai na época é o…

Fernanda: Mourão?

José Villani: Mourão Filho! É isso mesmo, obrigado viu, a minha memória… Mourão é uma figura abominável, era general aí. Depois ele adoeceu, teve qualquer coisa, morreu.

Fernanda: E o senhor, seu José Villani, em Juiz de Fora, chegou a sofrer algum tipo de agressão? Quais foram as dificuldades que o senhor passou nessa época?

José Villani: Olha, teve uma vez que eu parei o meu carro ali na… vim da avenida Rio Branco no meu carro, quando chegou na esquina da prefeitura atiraram com chumbo no meu carro, você tá entendendo? Eu me lembro direitinho que eu estava com uma camisa assim, e pegou aqui assim, oh, na minha camisa, mas nunca soube de onde, a impressão que eu tenho é que o tiro saiu aqui do Edifício Clube de Juiz de Fora, na esquina da rua Halfeld, meu carro parou no sinal e atiraram no meu carro ali, isso aí.

Fernanda: Mas tipo, com chumbinho?

José Villani: É, chumbo.

Fernanda: Tiro mesmo?

José Villani: É. Deixa eu, ver outra coisa aqui que aconteceu comigo aí. Depois da revolução que você perguntou, né? Depois da revolução, já aconteceu muito de eu querer entrar num lugar direitinho, e perceber que tinha muita pergunta demais sabe, então, eu naturalmente, eu sou um pouco avesso a ficar em reuniões, isso, aquilo, a não ser que fosse reunião negócio de política, eu sempre frequentei muito isso aí e tudo, mas eu não sou de frequentar sociedade, clube essas coisa não, não sou ligado com isso não, porque eu noto que a minha maneira de pensar não se ajusta muito à maneira de pensar da maioria, sabe? A maioria que é vaidosa, só cuida de besteira, bobagem, só conversa coisas inúteis que não adianta nada, a pessoa tem que ser voltada pra parte, não é política, mas pra parte de ajuda à população, ao povo, o camarada tem que ser voltado para as realizações que o povo precisa, pra essas coisas, ficar conversando negócio de… que roupa que põe, o que é que faz, isso aí não. Eu posso até conversar, mas não me agrada isso, não me agrada.

Fernanda: Senhor José Villani, quando o senhor estava preso, aqui em Juiz de Fora, sofreu algum tipo de agressão dentro dessas prisões que o senhor falou que passou? Na delegacia, no QG?

José Villani: Agressões de soco e tapa não, mas, por exemplo, ali no quartel, a luz lá era muito forte e dormia a noite inteira com a luz acesa.

Fernanda: Lá no batalhão, né?

José Villani: No batalhão. Luz acesa em cima da cabeça da gente, e banho era gelado e de vez em quando. Uma vez lá me chamaram pra tomar banho, eu senti feliz da vida, porque já tinha passado mais de vinte dias que eu não tomava banho, entende? Então, você ficava se sentindo mal e tudo, e dormia mal também, entende, polícia na porta, tinha duas ou três pessoas deitadas no mesmo quarto, a polícia lá, e um soldado na porta lá.

Fernanda: Deitado aonde nesse quarto? No chão?

José Villani: Numas caminhas que eles tinham lá, umas caminhas deles, caminhas de soldado lá. Não é nada agradável, só você, um dia, e mais de meses, tudo. Um dia apareceu a minha mãe lá, mas engraçado é que na véspera eles tinham me chamado pra tomar banho e fazer a barba, quando chegou no dia seguinte eu ganhei, (risos) a minha mãe falou “Ah Zé, você tá com uma carinha boa!”, falei “É mãe, devo estar, eu fiz barba, e tudo”, aí não entrei em pormenores com ela não que eu ia assustar ela, né?

Fernanda: O senhor falou que teve em Lagoa Santa também.

José Villani: Lagoa Santa lá em Belo Horizonte.

Rosali: Em Lagoa Santa tinha violência?

José Villani: Não, não tinha violência não, a gente ficava era bem isolado, e um dia lá eu recebi visita da minha mulher com meu filho, esse não, é outro filho, eu me lembro que lá em baixo tem uma ladeirazinha assim de paralelepípedo, e chegou a minha mulher lá com ele e quando ele me viu cá em cima, assim, mas veio numa velocidade parecia que ele estava voando, sabe, que ele estava sentindo a minha falta, eu fiquei emocionado aquele dia, coisa horrível, meus meninos já estavam sem me ver há alguns meses, então, é brincadeira não.

Fernanda: Ele tinha mais ou menos quantos anos, esse que foi ver o senhor?

José Villani: O meu filho? Ele devia ter, de 64 pra cá, são quantos anos hein? 36 mais 14, 50 anos, é, ele devia ter uns 5 anos, 4 anos, por aí.

Fernanda: O Vitor está falando que acha ele devia ter mais ou menos uns 7 anos.

José Villani: É, tinha 7 anos, né. Falou, obrigado! O Vitor tem boa memória. Vitor: Fala das condições da cela que o senhor me falou, da privada sanitária… Fernanda: Das condições da cela que o senhor ficava, como é que era?

José Villani: Das condições da cela, banheiro era no limite, né?

Fernanda: Era dentro da cela?

José Villani: É, era uma porta, lá assim nos fundos, assim e pronto. Pra tomar banho, aqui no quartel aqui, a gente descia uma escada, passava numa área grande assim, tipo dum campo de basquete assim, cimentado, e entrava no banheiro lá, um chuveiro grande assim, água fria. Tomava um banho, mas gelado.

Vitor: Pode falar, eu acho que o senhor tá meio assim…

José Villani: É porque está sendo gravado, né?

Vitor: Mas é pra falar mesmo, pode falar tudo.

Fernanda: Pode falar tudo. Porque tem muita coisa que você não está falando que você já me contou, e que eu sei, e que se você quiser eu vou até falando as palavras.

José Villani: Me dá uma deixa aí, porque a minha cabeça.

Vitor: Corredor polonês.

José Villani: Ah, isso aí é demais, isso aí é quando a gente desceu, quando a gente desceu do carro, lá em Belo Horizonte…

Fernanda: No DOI-CODI.

José Villani: É, lá a gente levou bastante cacetada lá, é porque tinha aquele pessoal dos lados assim, você segurava, eu falei aqui, você segurava a calça, porque estava sem cinto, né, aí você tem que ficar assim, senão você fica sem calça no meio da rua, né, e mandando paulada na gente, soco, pontapé.

Fernanda: Fazendo corredor polonês?

José Villani: É corredorzinho. É um estreito assim, você passava e pá! Isso teve muito, muitas vezes assim.

Fernanda: Muitas vezes?

José Villani: É, muitas vezes, eu passei por umas duas ou três vezes, mas tem outros que iam num sei aonde.

Fernanda: Era no DOPS ou no DOI-CODI?

José Villani: Lá em Belo horizonte? Era DOPS.

Fernanda: Quando que eram essas ocasiões, senhor José Villani, que o senhor passava por essas circunstâncias?

José Villani: Geralmente, não isso aí é quando a gente descia lá, quando a gente chegava lá, agora, às vezes, camarada era interrogado lá sempre à noite, sempre à noite, camarada era interrogado lá. Eu vi, eu assisti, o Thomás Bernardino, que era diretor da faculdade de direito, e o Raimundo Nonato também, que era advogado, ele era como o Thomás Bernardino, eu ouvi bastante grito deles viu, agora eu não sei, tinha um cara que eu sabia o nome do oficial que batia neles, o sujeito é covarde, tem gente que é covarde. O sujeito pra ser daquele jeito ele tem que ser educado pra aquilo, o camarada sob uma disciplina apropriada, não vacila em fazer qualquer maldade, ele é educado pra maltratar os outros, né, então.

Fernanda: O pessoal diz, senhor José Villani, que aqui em Juiz de Fora, além desses lugares que vocês foram presos, no QG, no batalhão da polícia militar, na delegacia, existia um lugar, no Bairro Mariano Procópio, em que algumas pessoas também eram levadas pra prestar o interrogatório, ou apenas pra passar por sessão de tortura, o senhor já ouviu falar disso? Tem algum conhecido que já contou algo?

José Villani: Tinha um outro lugar, ali, quem sobe ali, é uma rua de subida assim, tem uma rua ali que eles prendiam as pessoas ali também sabe, mas eu não sei, é aquela rua que vai ali pro quartel ali na Santa Terezinha. Tem uma rua que sobe assim, né? Do lado direito tem um lugar ali que as pessoas eram levadas pra lá, mas eu não fui pra lá não, não fui lá não, eu fiquei foi um tempo lá naquele quartel, lá em cima nessa rua ali, porque teve umas duas ou três vezes que eu já tinha saído, mas que eu fui chamado pra lá, pra eles fazer, estão interrogando alguém lá, e eu tinha que ir lá pra explicar, quando falou isso assim, não sei que lá, camarada falou meu nome lá, queria que eu confirmasse ou não, agora, eu me considero assim suficientemente esclarecido, pra poder, eu tentei, eles estavam me perguntando, perceber o que eles estavam querendo. Então, eu escapuli de muita coisa, eu escapuli de muita coisa, eu saía fora, mas tinha camarada que falava bobagem lá, querer bancar valente no meio daquele pessoal ali, tem que ficar quieto, ficar numa boa e pronto, ele tem que saber se conduzir também, é uma vida muito difícil de ser preso político viu, porque eles fazem o diabo lá pra arrebentar com a gente, o que for possível eles fazer eles fazem, e eu estou aí na minha vida carregando na minha cuca aqui todas essas coisas. O tempo já passou muito, passou muito, já tem muito o que fazer, sempre tive muito o que fazer, então procuro, com o meu trabalho, cobrir certas coisas que caem na minha cabeça, fora os meus problemas pessoais que eu costumo ter.

Fernanda: Senhor José Villani, muita gente do sindicato do senhor e dos sindicatos de Juiz de Fora foram presos também?

José Villani: Ah, muitos, muitos! Oh, do sindicato dos bancários, eu fui preso, eu e o Armom é que fomos preso, agora, tem o Jair Hain, esse que está no retrato ali, tem o do Correio lá, tem uma porção de gente aí, tem camarada que estava preso comigo que eu nem conhecia, fiquei conhecendo, quando eu fui preso no primeiro dia passou uma hora, duas horas depois apareceu um outro preso lá, era um camarada que era da Escola Cândido Tostes, não sei se ele era professor lá, eu sei que eu esqueci o nome dele, já morreu, eu tenho sorte também que estou vivo, porque tem uma porção de gente que… a maioria já morreu, você falou que o do Correio morreu, né?

Fernanda: O Misael?

José Villani: O Misael morreu, coitado, eu vi um negócio dele no jornal, botaram errado lá, falaram que o Misael era um outro camarada lá, que era um cara que estava sentado em uma cadeira lá atrás, eu esqueci o nome do jornalista lá que falou isso, telefonei lá pro jornal, mandei chamar, consegui falar com ele no telefone, falei “Olha, um negócio que você falou aqui está errado”, ele desligou o telefone e não falou mais comigo, ele informou errado no jornal. Eu tinha um jornal lá do rapaz.

Fernanda: Senhor José Villani, nesse período, também, o sindicato do senhor era ligado a alguma central sindical?

José Villani: Olha, sindicato, depois que eu saí do sindicato, pessoal que foi pro sindicato era tudo lá deles lá, sabe? E, inclusive, colega do Banco do Brasil, Antônio, que foi pro meu lugar lá, indicaram ele pra ficar no meu lugar lá e cabou, sem eleição, sem nada, e disseram que estavam defendendo a democracia, não tinha eleição, não tinha nada, eles botavam o sujeito lá e cabou, democracia deles é essa aí, mais ou menos.

Fernanda: Nesse período todo que o senhor ficou preso, quem foi o advogado do senhor?

José Villani: Meu advogado foi o… o que depois conseguiu, eu consegui, eu tenho os documentos ali, eu tenho aquilo tudo ali sabe, o meu advogado foi um que faleceu aí, tragicamente, repentinamente, ele morreu aí, é, com quatro letras começa com E, tenho que lembrar o nome dele.

Fernanda: Eron?

José Villani: Não, não é Eron não, era… eu tenho lá, inclusive, agora que saiu no jornal a minha… como é que chama, hein, Vitor, quando a… mas não é habeas corpus não.

Vitor: O senhor conseguiu no STF?

José Villani: É, no Supremo Tribunal lá. Vitor: O senhor conseguiu um habeas corpus. José Villani: Foi um habeas corpus?

Vitor: Foi.

José Villani: Eu quero saber o nome do advogado. Sei lá, tem ali o nome dele lá.

Fernanda: Nos documentos que o senhor vai passar a gente consulta, tá? Não tem problema não. Eu quero saber se o senhor conseguiria identificar alguém se o senhor visse fotos, visse algum documento, se o senhor conseguiria identificar alguém que prendeu o senhor ou que estava nos lugares que o senhor foi preso.

José Villani: Alguém que foi preso junto comigo?

Fernanda: Não, que prendeu o senhor. Alguma das pessoas, ou dos policiais ou das pessoas do exército.

José Villani: É capaz de eu lembrar alguns nomes aqui, mas morreram tudo. Graças a Deus já morreram! (risos) Cada um que morria eu morria de rir (risos). Cada um que eu ouvia falar “Ah, fulano morreu”, “Ótimo, que beleza, hein, mas morreu mesmo? Beleza! Vamos tomar uma cerveja aí, pronto, acabou”. Eu não estou lembrando não, mas ali eu tenho isso tudo, se eu mexer ali, na minha papelada, eu lembro disso tudo.

Fernanda: E o processo do senhor, o senhor respondeu processo, o senhor chegou a ser julgado onde?

José Villani: Bom, eu, aqui na praça Antônio Carlos tem um negócio da auditoria ali, fui denunciado e etc. Eu e mais 14 ou 15, eu tenho o nome deles todos ali comigo, entende, eu tinha que ver, eu tenho o nome deles todos ali e no habeas corpus que eu consegui a relação, foi em conjunto, então, tenho nome deles todos ali.

Fernanda: Quem concedeu foi o juiz na época?

José Villani: Não, foi lá em Brasília.

Fernanda: O caso chegou a ir parar em Brasília?

José Villani: Ah, foi, eu fiquei com um advogado aqui, em Brasília, pra todo lado aí. Fernanda: E aí, até que senhor conseguiu, e no final a sentença do senhor foi qual? José Villani: Ah, tem que ver ali, a sentença final foi…

Fernanda: O senhor chegou a cumprir a pena toda, senhor José Villani?

José Villani: Não, não, se eu tivesse cumprido a pena eu tinha saído da cadeia há pouco tempo, parece que era 12 anos, né?

Fernanda: 12 anos?

José Villani: É, 12 anos. Mas, somando aquelas prisões todas aqui deve dar 1 ano, 8 meses.

Fernanda: Uns 8, 9 meses?

José Villani: É.

Fernanda: Senhor José Villani, o senhor passou pelo processo de anistia? Teve os direitos reconhecidos mais recentemente?

José Villani: Sim, fui indenizado, pelo governo de Minas e federal também.

Fernanda: O senhor se importa de mencionar a indenização do senhor?

José Villani: Não, não me importo não. Do estado de Minas minha indenização acho que foi R$ 30.000, R$ 20.000. Pequena, mas a indenização maior que eu recebi foi do governo federal, foi maior, mas aquilo ali foi um prejuízo enorme que eu tive porque eles estavam pagando, teve um camarada que recebeu mais de um milhão de indenização, entende, aí eles cortaram aquilo tudo e passou pra R$ 100.000, R$ 50.000, sei lá.

Fernanda: E tem algo a mais, senhor José Villani, que o senhor gostaria de contar, que o senhor de repente esteja lembrando aí que eu não tenha perguntado?

José Villani: Alguma coisa que você não me perguntou? Olha, eu vou te falar uma coisa, sabe que que eu acho? Eu acho é o seguinte, que nós aqui em Juiz de Fora estamos em uma região extremamente reacionária, porque em outros lugares ouve falar que há muito mais compreensão da coisa, tem muito mais companheiros na mesma briga, na mesma luta, e aqui não, aqui é o seguinte, camarada falava que o sujeito era comunista, saía todo mundo correndo aqui, sem ser, se os meninos soubessem o que é ser comunista ia procurar o sujeito pra ser ajudado, pra ser esclarecido, mas fica com medo, com medo, porque existe… dentro disso existe uma parte religiosa nisso daí sabe. Inclusive, quando eu estava preso uma vez… é, a gente vai lembrando, uma vez, nós fomos colocados lá em Belo Horizonte, numa sala assim, como se fosse assim a exibição dos bichos de jardim zoológico sabe, aquilo tudo enfileirado assim, nós ficamos tudo em pé, aí abriu a porta lá, entrou general, juiz, aquilo tudo pra conhecer os monstros. Compreende? Estava em pé lá, então, esse pessoal aí, acho que tinha padre, era cheio de padre que ajudou a eles, viu, lotado, então, eu tenho essas diferenças. Pior, você sabe o que que é pior nisso? Porque você guarda essas coisas e isso fica povoando o seu cérebro, porque, às vezes, eu vou pensar e você fica cheio de preconceito e fica desconfiado, entende? Mas eu não, eu sou super livre pra pensar, então, o camarada, esse camarada aí, esse aí era dedo duro, eu não dou nem confiança pra ele, compreende, mas, tem pessoa que não está preparada, não tem cabeça. Porque isso tudo se estrutura em cima de um conhecimento de causa, conhecimento de porque ele está lutando, o que que ele está querendo, eu tenho consciência absolutamente do que eu estou querendo, o que eu queria e o que eu pretendo ainda se eu ficar vivo muitos anos, não vou ficar mais, mas eu sei exatamente o que eu quero. Eu quero a sociedade mais justa, eu quero é direito pra todo mundo, eu quero uma limitação na receita de cada um, pra poder dividir pra quem precisa mais, eu quero um processo de igualdade relativa, procurar elevar mais o nível das pessoas que estão lá em baixo, quero mais justiça social, né, então, é isso aí que eu estou querendo. Então, quando acontece alguma coisa que se enquadra dentro disso que eu estou querendo eu fico numa boa, feliz, quando não fica eu também compreendo, é aquele negócio, pobre deles que eles não sabem que fazem (risos), pobre deles, não sabem o que estão fazendo, ficam fazendo besteira aí, de montão aí de montão, eu vejo no jornal aí notícias de coisas da prefeitura fazendo isso e aquilo, coisas que eu não faria nunca na vida, nunca, e que eu gostaria de ajudar todo mundo, não, não ajuda, faz uma outra coisa completamente diferente, vai fazer não sei o quê, pra iluminar num sei aonde, o camarada, às vezes, não tem o que comer e eles ficam procurando coisa engraçadinha pra fazer.

Fernanda: Só pra terminar senhor José Villani, o senhor se considerava comunista naquela época?

José Villani: Não, eu vou te falar uma coisa, comunista pra mim é um cara muito reacionário, acho que comunista está pouco pra mim (risos). Eu acho que comunista é pouco, porque comunista se encaixa mais na parte política compreende, e eu quero mais, eu quero que politicamente as coisas sejam modificadas, quero que a escola seja modificada, quero que a maneira de educar seja modificada, essas coisa toda eu penso, passa pela minha cabeça, eu gostaria que fosse assim, então, comunista é até reacionário pra mim, eu acho que ainda tá pouco.

Fernanda: E o senhor nessa época, o partido do senhor, o sindicato e o senhor, pessoalmente também, tinha uma ligação e aprovavam as medidas aprovadas pelo Jango?

José Villani: Não, o João Goulart era bem intencionado, ele não era apoiado. Ele tinha uma parte grande do poder, compreende, do poder econômico também, contrário a ele, então, estava impossível do Jango governar, ele não ia conseguir andar, com a estrutura que estava toda em volta dele, era contrária a ele, porque o pessoal que estava combatendo o Jango era o outro lado da coisa, os nazistas brasileiros, entende, são reacionários, camarada que não quer modificar a sociedade em nada, quer continuar tudo do mesmo jeito, achando que está tudo muito bom, e tem uma certa parte de problema religioso que segurava também as pessoas, cheio de camarada religioso de esquerda que podia, ajudava a gente, mesmo aquele padre na inauguração do sindicato que estava ali, ele era, como que chama aquele que usava aquela roupa branca, que está na foto aí, aquele camarada era bom, entende? Então, tem gente boa pra todo lado, dentro das religiões, fora das religiões, agora, num modo geral, eles são ligados a um reacionarismo muito grande, são muito reacionários, camarada mistura política e joga religião em cima da política, eu estou vendo aí que tem uma porção de candidato aí de religião, que é muito agarrado com a religião dele, ele não pode fazer justiça, porque religião não pode entrar na questão econômica, isso aí não tem nada a ver. Religião é uma coisa e política é outra. Querer entrar na política pra religião se sobrepor à política não dá. Religião é lá e política é aqui, camarada, simples fato do camarada ter uma função religiosa não dá pra ele ser político, ele não pode assumir certas posições porque ele não pode, o santo não deixa, entende? A pessoa tem que ser livre, tem que ter liberdade de pensamento, liberdade de ação, direitinho, tudo dentro do respeito a cada um, a todos nós, todos nós temos que ser respeitados, então, o camarada sendo respeitado e respeitando o outro, o amigo o companheiro dele, ele não precisa de religião não, não tem nada a ver, religião é uma coisa boa, mas a política bem feita e honestamente executada é uma coisa super boa, porque a política modifica a situação das pessoas, aliás, a obrigação política é a posição da pessoa se modificar pra melhor. É progredir, é socialmente evoluir, essa é que é a função da política. Agora, religião já é diferente, você vê um camarada que tem uma determinada religião, tem uma religião aí que mudou porque não podia fazer transfusão de sangue na mulher dele, a religião não permitia, e isso aí é o fim do mundo, né, fim do mundo, pessoa morre e não pode fazer a transfusão de sangue por causa da religião, religião não deixa, então, isso aí não existe, isso devia ser até proibido, né?

Fernanda: Senhor José Villani, muito obrigada pelo depoimento do senhor.

José Villani: Filha, eu é quem agradeço você, e quero dizer da minha felicidade em rever você, porque você esteve aqui comigo uma vez, era um outro assunto que nós tratamos, era uma assunto, era política também, você gosta de política, bom demais, e pergunta bem, crava bem a sua pergunta e vai exatamente no assunto, é um assunto que eu gosto, viu? Mas eu estou afastado da minha associação lá, mas a associação lá é beleza (risos), funciona tudo que é maravilha, tudo maravilha, e tem gente contra também, mas cada um na sua, né?

Vitor: Mas você estava numa cela que tinha água até aqui… Tinha um vaso sanitário que estava cheio de bosta…

José Villani: Cheio de bosta, exatamente, não, mas isso aí é o seguinte.

Vitor: Justamente, mas assim, na época que o senhor foi interrogado com estrangeiro aqui, você tinha, não tinha americano também? Tinha um português que morava aqui na PR, no Castelinho.

José Villani: Ele morreu. Fernanda: Ele sumiu na época? José Villani: Não, ele morreu.

Fernanda: Como era a cela que o senhor estava? Com água…

José Villani: A cela com água era aqui em Juiz de Fora, era aqui em Juiz de Fora. Cela com água, bosta, é isso aí.

Fernanda: Como é que era o lugar?

José Villani: Eu quero lembrar aqui, mas eu não falei mesmo isso aí não, né?

Fernanda: Pode lembrar com calma, a gente não está com pressa.

José Villani: Eu estou querendo saber aqui, porque o Vitor me falou, agora eu fiquei confuso. A cela com água onde é que era gente?

Vitor: Você tinha… lembra que você tinha um caderninho e caso se você fosse preso, aí você andava com um caderninho dentro do bolso, dentro da calça e tinha um lápis pequenininho, um lápis e uma borracha e aí era uma coisa pra você não ficar doido.

José Villani: Eu ia fazendo quadradinho.

Vitor: Isso.

José Villani: Não, mas isso aí é que eu arranjei lá, eu arranjei lá em Belo Horizonte, porque se não anotar… eu fazia uns desenhinho assim, tipo quebra-cabeça pra eu movimentar a minha cabeça, entende? Pra eu não ficar atrofiado. Porque eu sempre fui muito assim agitado mentalmente, sabe, agora eu estou com…

Vitor: A viagem que você fez pra Belo Horizonte.

José Villani: Aquilo é buraco pra socar a gente.

Vitor: Conta isso que você foi no chão do caminhão com gasolina.

José Villani: É, gasolina, eles botaram gasolina, assim, eles tinham depósito, uns latões de gasolina lá dentro, então, eles pararam o carro no meio da estrada, no escuro, compreende, pra ninguém ver a gente, tirava aquelas latas, botavam gasolina no caminhão e não paravam no posto de gasolina, assim, você… pra gente ser visto não, enchia e ia embora. Tinha uma outra coisa que você falou.

Vitor: Que você foi daqui a Belo Horizonte numa estrada de terra.

José Villani: Ah, é, não, a estrada é o seguinte, onde tinha buraco, e na beirada, eles passavam pra socar a gente, ali não tinha banco pra sentar não, isso é, isso mesmo.

Fernanda: Ia deitado pra não aparecer?

José Villani: Não, tudo é fechado com uma lona, ninguém via a gente não, mas é que no chão assim não tinha almofada, não tinha nada não, não tinha banco, era madeira, ia socando a gente, quebrando a gente no meio lá.

Fernanda: Ia algemado?

José Villani: Não, não estava algemado não, mas a gente ficava segurando assim, porque socava, sabe, você não conseguia dormir. Daqui pra Belo Horizonte foi assim.

Vitor: Quantas horas de viagem?

José Villani: Ah, caminhão é mais devagar um pouco, umas três e meia, quatro horas de viagem, daí pra mais. 4, 5 horas, porque parava pra por gasolina, caminhão bebe pra diabo.

Vitor: Quatro horas?

José Villani: É por aí.

Fernanda: E essa cela que o Vitor lembrou que o senhor já contou pra ele que ficava com água.

José Villani: É, mas isso aí tinha um negócio desse… assim mesmo.

Fernanda: Era sempre?

José Villani: É, em Juiz de Fora, pera aí, isso foi em Juiz de Fora, viu? Não, não era sempre não.

Fernanda: Batia aonde?

José Villani: Não, na altura do sapato, assim, oh, não era assim de mergulhar não, mas você ficava assim molhando o sapato, o sapato encharca, cabou, fica úmido.

Fernanda: Ficava muitos dias assim?

José Villani: Não, isso aí eu me lembro, eu quero lembrar exatamente porque isso aí depois foi modificado, não estou conseguindo encaixar onde é que foi, se aqui no QG da polícia, ou foi lá em Belo Horizonte, eu acho que foi aqui em Juiz de Fora mesmo, viu? Aquilo ali, eu vou te falar uma coisa, pessoa ali é nojento pra burro, não gosto nem de lembrar viu, me faz é mal isso aí, mas vamos lá, é… não estou lembrando não, deixa eu ver aqui. Lagoa Santa, eu não estou lembrando não, agora que o banheiro era assim, depois fazia assim era o chuveiro, era grande lá, maior que essa casa aqui, tinha um monte de cama lá, é isso aí.

Fernanda: Está ótimo, não tem problema não. Aí a gente pode fazer assim, quando o senhor também lembrar de alguma coisa, o senhor está com o meu telefone pode ligar.

Vitor: Não, tem uma história de toalha molhada.

José Villani: Isso aí não, você tinha toalha pra tomar banho, mas se ela tiver molhada acabou.

Vitor: Não, não, é que te bateram de toalha molhada.

José Villani: Não, não me bateram de toalha molhada não.

Vitor: Então quem que foi? Teve alguém que você viu?

José Villani: Tem, isso aí tem, que os outros tomava toalhada molhada lá tem, uai, isso aí é… Você sabe o que que acontece? O Thomás Bernardino e o Nonato, Raimundo Nonato, era o advogado daqui, eles levaram tudo quanto é tapa, pescoção direitinho, gritaram muito, você tá entendendo, mas foi aqui em Juiz de Fora, no QG aqui, eu sabia o nome do tenente, que fazia isso com eles.

Fernanda: Era no QG ali.

José Villani: Ali no museu, antes do museu é uma entrada que vai lá pro negócio do exército assim, você sabe o que acontece, no exército tem gente boa dentro do exército, tem cara bom, mas você não sabe porque é tudo uniformizado, você vê falar um nome ou outro ali, mas você não guarda, tem camarada lá que uma vez eu fui no… me lembro direitinho, trocava a guarda, de sargento, então me lembro que eu cheguei lá, tinha um sargento entrando lá, e ia trocar naturalmente o tenente do dia, ele falou comigo assim “Oh, você se cuida porque o camarada que vem aí ele não é brincadeira não”, ele me avisou, foi esse que pegou o Nonato e o Thomás Bernardino, e eu fui embora lá pra minha caminha lá, tinha cama lá, e fiquei lá quietinho, mas depois eles chamaram o Nonato e o coisa lá, era esse camarada, esse tenente, e foi lá com certeza que deram uns tapas neles lá, bateram neles.

Vitor: Conta das vezes que você foi seguido, de que entraram na sua casa, derrubaram seus livros, cataram livro seu.

José Villani: Ah, mas livro meu não, cataram meus livros aí, uai.

Vitor: Você tinha livro que era livro…

José Villani: Não, isso aí não, livro da pesada eu sempre tive, tenho até hoje aqui.

Vitor: (risos) Eu sei. (risos)

José Villani: Não é da pesada, você tá entendendo, pra eles… pra eles é um livro que não dá pra aguentar, né?

Vitor: Mas que você quando morava, depois você saiu de Juiz de Fora, aí você pegava vários ônibus porque você não podia fazer o trajeto do lugar que você estava pra Juiz de Fora.

José Villani: Ah não, isso aí é, depois disso tudo, eu estava transferido pro banco lá pro Mato Grosso. Fui transferido pro Mato Grosso.

Fernanda: O senhor foi transferido pro Mato Grosso depois?

José Villani: É, Maracaju, não tinha nada lá, agora diz que a cidade melhorou um pouquinho, mas então…

Fernanda: O senhor foi transferido por conta disso.

José Villani: O banco me transferiu porque queria ver se eu pedia pra sair, e eu fiquei lá, mas lá, invés de eu ir direto num ônibus, eu parava, parava em Araçatuba, tem uma cidade mais pra perto de São Paulo lá, depois chegava em São Paulo, de São Paulo pegava um ônibus, vinha pro Rio de Janeiro, do Rio de Janeiro vinha pra Juiz de Fora. Andava pra burro.

Fernanda: Mas o senhor fazia isso por quê?

José Villani: É porque eu não deixava sinal, camarada pode estar me seguindo, eu andava assustado também, eu tratava de parar num lugar, pegar outro ônibus e vir.

Vitor: Fala que o senhor foi seguido no Rio, que você tinha uma mala pra você poder fugir no escritório do seu advogado.

José Villani: Tinha, mas isso aí são coisas diferentes, né?

Fernanda: Mas pode falar.

José Villani: Isso aí, lá no Rio, tinha um camarada aqui em Juiz de Fora que era oficial aqui, em Juiz de Fora, que ele me olhava muito lá no Rio, eu estava em Copacabana lá, andando lá, assim, direitinho, vinha ele, e me querendo dizer assim, parecia que ele queria dizer assim “Oh, estou aqui, hein”. Você está entendendo?

Vitor: Lembra que você foi chamado num lugar lá no Rio, que aí você chegou não tinha nada.

José Villani: Ah, isso já aconteceu comigo mais de uma vez, camarada ligar pra minha casa e falava “Vem cá, Villani” e tal, “Eu estou aqui”. Como se fosse um companheiro, eu ia lá no tal bar e não tinha ninguém lá, você está entendendo? Eles queriam saber se eu, você sabe por que que eles fazem isso? Se você se negar a ir, eles marcam você, agora, eu falo, não tem dúvida não, eu vou aí te ver você, eu ia lá, naturalmente, eles me viam, mas eu não sabia quem era, sabe como? Então, se eu fui e ele viu que eu fui, ele falou “Não, ele não está arrumando nada, senão ele não vinha, né?”. Isso tudo tem a minha armação com eles também, porque lá no Rio tem muita entrega pra gente lá, camarada lá olha a gente muito, porque lá é muito grande.

Vitor: E aquela vez da metralhadora, que colocaram a metralhadora, lembra que você sempre falou, lá na associação você sempre falava disso, “Ah, eu desci a rua Halfeld com a metralhadora na boca”.

José Villani: Não, isso aí não.

Vitor: Teve sim pai, eu escuto isso desde pequeno.

José Villani: Não, não (risos). Você era pequeninho, está chutando coisa, metralhadora na boca não, na boca não (risos).

Vitor: Não, que os caras te pegaram na rua Halfeld e você desceu com a metralhadora, entendeu?

José Villani: Ah é, logo naqueles dias da revolução lá, nos dias da revolução, tinha soldado ali, então, a gente desceu lá, estava fazendo uma greve, estava um movimente danado na rua, e eles estavam armados, então, quem estava na frente do movimento lá, eu e outros, direitinho, eles foram armados perto da gente assim, querendo, não é ameaça não, é “Oh, nós estamos aqui”, entende? Então, você tinha que fazer o que eles queriam que fizesse, não o que você queria fazer.

Vitor: Às vezes que a Vani foi seguida.

José Villani: Não, isso aí eu não sei como que foi não, isso aí é com ela lá. Você diz a Vani, a minha ex-mulher teve qualquer coisa assim, ela que sabe lá, parece que andaram correndo atrás dela lá, correndo atrás dela, tomando conta dela, sendo vigiada, né?

Fernanda: E a Vani ainda esta viva, senhor José Villani, e mora aqui em Juiz de Fora?

José Villani: Está viva, mora. Tinha isso antigamente, viu?

Vitor: E o camarada que era seu vizinho que era militar lembra? Ele era seu vizinho na avenida Rio Branco.

José Villani: Já morreu há pouco tempo.

Vitor: Ele era militar, o que aconteceu? Naquela época.

José Villani: Não, eu… escutava era o meu telefone. É, isso aí eu não falei mesmo não, falar o nome dele, ele é irmão de um camarada aqui de Juiz de Fora, oh… Deixa eu ver aqui, como é que era o nome dele, rapaz, engraçado, né, esse pessoal tudo já morreu e eu estou vivo (risos), mas não estou muito bom não, o camarada aí, nome dele é o major… ele tem um irmão que era locutor de rádio aqui em Juiz de Fora, o irmão dele era locutor de rádio.

Fernanda: Ele era o quê? Ele era general, o que que ele era?

José Villani: Eu acho que ele era major ou coronel, não quero embolar muito não, porque ainda sobra pra gente ainda, viu?

Vitor: Sobra não.

José Villani: Sobra! (risos) Sobra sim, mas pera aí, deixa eu ver como que é o nome dele… Ele ficou doente aí, ficou com essas coisas assim, a cabeça dele, a cabeça dele enguiçou (risos), a minha não enguiçou não.

Vitor: Mas o que ele fazia?

José Villani: Ele era de um negócio de informação do exército.

Vitor: Tinha o seu telefone grampeado, né?

José Villani: É, ele mesmo falou comigo uma vez, “Eu escutei você falando”. Uma vez eu telefonando, acho que foi pro Vitor, ou pro outro filho, Vadinho, meu outro filho que é bem mais velho que ele, ele falou comigo assim “É, eu escutei você telefonando pro seu filho”, “Uai, mas escutou como?”, “A, seu telefone tá…”. Quase que eu lembrei o nome dele aqui. (risos)

Vitor: Lembra que até 1989, mais ou menos, tinha uma história de um negócio de telefone grampeado…

José Villani: Tinha, era isso aí, ele escutava as minhas conversas no telefone, entende, porque, embora tivesse acabado aquilo lá direitinho, ficava aquele resto, por exemplo, ficava escutando a gente sabe.

Fernanda: Ele foi te contar isso bem depois?

José Villani: É, muito depois, ele falou comigo “Eu escutei você telefonando pro seu filho”, “Uai, mas escutou como?” “Ah, seu telefone é bloqueado…” não sei o que lá.

Vitor: E aquelas suas identificações? O senhor lembra, eu tinha 12 anos, isso em 1996, eu fui querer tirar passaporte, pra poder tirar visto, pra poder ir nos EUA, pra ir na Disney, aí, você ficou com medo de eu não conseguir tirar visto por causa de você. Porque você tinha sua inscrição na…

José Villani: Não, eu não consigo tirar não (risos), ficha suja.

Vitor: Pois é, onde? Onde você tinha ficha suja?

José Villani: Lá no DOPS, uai.

Vitor: Mas você tem até… acredito que você tenha documentos em outras agências internacionais não?

José Villani: Não, isso aí, é o seguinte, não é exatamente isso aí não. É o seguinte, o meu nome ficou anotado, gravado, internacional, nessa linha aí, negócio de Estados Unidos que gosta de perseguir os outros, aquilo lá é uma democracia de araque, aquilo é conversa fiada, aquilo é democracia que manda fuzilar os outros, enforca os outros, eletrocuta os outros, é democracia mais besta essa, camarada qualquer, eletricidade nele, tal, taca um choque no sujeito, mata o sujeito, não é assim não pô, entende? O camarada de cor nos Estados Unidos está morto, pegou o camarada, mata o camarada, camarada mais escurinho um pouquinho assim está morto.

Vitor: Qual que era a sua preocupação comigo quando eu ia viajar?

José Villani: Não, é porque você ia viajar, ia ter que tirar um documento aí pra provar, pra poder viajar, aí, você falou comigo que ia tirar documento, aí, eu falei “Cuidado com esse negócio de tirar documento no meu nome aí, porque meu nome está aí…”. Meu nome está até hoje, se chegar aí nessas, na embaixada aí, no cônsul americano aqui em Juiz de Fora, deve ter meu nome no arquivo dele lá.

Vitor: Não era numa lista de alerta não?

José Villani: Não, deve ser uma coisa desse tipo assim, mas sempre tiveram, sempre tiveram, ué, na revolução, eles anotaram o nome daquele pessoal todo, todo mundo que foi preso aí, procurado, eles têm tudo lá. Eu sou manjado lá, nesse negócio de embaixada americana. Ih, eu sou figurinha fácil lá, pode ir lá, pode ir lá pra ver.

Vitor: A última coisa que eu quero… (risos)

José Villani: Ele é polícia, está me… (risos)

Vitor: E o português lá que deixou uma carta, uma carta que era pra mulher dele, aí ele… Ah, eu não lembro também, essa história é muito antiga.

José Villani: Não, português é o seguinte, ele morava na África, num país lá, português vive zanzando de um lado pro outro pra trabalhar, mas em Portugal mesmo eles não trabalham não, gostam de trabalhar nos outros países, e a mulher dele fica lá com os pais dele, lá em Portugal (risos). O português, meu amigo pra chuchu, fiquei preso com ele um tempo. Como é que era o nome dele? José, Antônio, Pedro, Manoel, Joaquim, também não pode por outro nome, você já viu português chamado Lincoln? (risos) Não tem! William, português que chama William, não tem (risos). Ninguém, português é Zé, Mané, João, Pedro, é, uai (risos). Eu estou certo, vocês que tão errado. Mas o português, o português, como é que é o nome do português rapaz, meu amigo.

Fernanda: Não tem problema não lembrar o nome.

Vitor: O que aconteceu? Só fala o que que aconteceu com ele.

José Villani: Uai, ele ficou sem a perna dele, teve que amputar a perna, morreu. Morava aqui nesse lugar perto aqui de Juiz de Fora ali.

Vitor: Castelinho, né?

José Villani: Não, Castelinho é aquele lugar que tem negócio de… na hora que vai atravessar rio pra ir pro estado do Rio ali, tem um lugar ali que tem uma casa grande ali, ali que era o sítio dele, é, tem uma casa grande na beirada assim, ele morava naquela casa ali.

Fernanda: Tem uma pontezinha, ele era economista, não era?

José Villani: Não, não, ele era… eu esqueço o nome dele.

Fernanda: Não tem problema não lembrar. Vamos fazer um combinado, o que o senhor lembrar depois daqui o senhor anota pra mim e a gente combina e eu volto aqui.