No dia 1 de agosto a professora universitária Mariléa Venâncio Porfírio esteve no estúdio da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora para prestar depoimento à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF). Na ocasião, a ex-militante contou suas experiências na militância do movimento estudantil e durante o período que esteve na prisão.
Estudante ainda na época, Mariléa militou nas frentes dos movimentos da Juventude Universitária Católica (JUC), Ação Popular (AP) e chegou a ser secretária do Diretório Central dos Estudantes. Após se formar na Faculdade de Serviço Social em 1969, passou em um concurso do antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e foi trabalhar em Belo Horizonte, onde atuou também diretamente com os movimentos operários, por meio da AP.
Em 1971 enquanto se preparava para se mudar para São Paulo, Mariléa foi presa em Belo Horizonte. A professora ficou nas instalações do DOPS, onde foi torturada. “‘Guerra é guerra, vocês perderam’, foi a primeira coisa que ouvi. Aquilo já me causou um impacto assustador.”, conta sobre o primeiro momento na prisão. Segundo a depoente teve que ficar nua e sofreu vários interrogatórios com sessões de tortura no final. Durante 15 dias, a ex-militante foi torturada com tapas e choques por várias partes do corpo a fim de revelar os nomes das pessoas que participavam do movimento da AP. “Colocaram um balde com água nos meus pés e me davam choques nos mamilos, nos ouvidos e nos dedos.”, conta.
Mariléa ficou presa durante um mês na capital e no mesmo ínterim foi trazida arbitrariamente para Juiz de Fora. Na sua volta para a cidade, ficou em prisão domiciliar, na casa dos pais, até maio de 1972 e depois liberada. Amedrontada, a professora se muda para São Paulo e passa a viver de pequenos trabalhos, porém é surpreendida com a demissão por justa causa de seu antigo trabalho no INPS.
Em março de 1973 respondeu a processo na Auditoria Militar da 4ª Região acusada de participar de reuniões, distribuir panfletos contra o regime militar e possuir livros de cunho comunista. Mariléa disse, ainda, que contou com a ajuda de um amigo, o Bispo Dom Geraldo Maria de Moraes que conseguiu junto ao juiz auditor que ela e outros presos políticos cumprissem pena em outros locais de detenção.
Segundo a professora, falar sobre os momentos que sofreu na prisão foi uma barreira, entretanto após ir trabalhar em uma unidade de assistência às mulheres vítimas de violências domésticas a fez e conhecer as outras realidades. “Trabalhar com Direitos Humanos fez desabrochar uma coisa que estava muito fechada e da qual eu não falava.”.
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