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“Eles me puseram dentro de uma câmara frigorífica e fecharam” – Avelino Gonçalves

AvelinoO ex-engenheiro e ex-professor universitário Avelino Gonçalves Kosch Torres viveu na infância a ditadura de Getúlio Vargas, o chamado Estado Novo. Seu pai teve que ir para o interior de São Paulo para não ser preso. Já seu tio, sócio de seu pai, foi preso, fato que marcou Avelino profundamente.

 

Mais tarde, quando era estudante de engenharia e participava do Diretório Acadêmico da faculdade, numa reunião votou a favor da posse de Jango. Seu pai, que era integralista, denunciou-o então à polícia como comunista.

 

Avelino formou-se em 1962 e estava lecionando em 1964, ano do golpe civil-militar que instaurou a ditadura. Ele conta que os alunos eram retirados de sala e levados para depor compulsoriamente. No mesmo ano, o professor montou uma empresa de refrigeração industrial, em que um dos sócios era José Pedro Reis Horta, irmão de João Carlos “Comunista”. Através da livraria que João Carlos abriu em 1967, Avelino teve condições de estudar parte da ideologia contrária e da ideologia vigente naquela época. Foi assim que começou a militar contra a ditadura.

 

Avelino declara que tinha resistência em filiar-se à luta armada contra a ditadura: “Eu,pra matar uma formiga, era problemático, ainda mais pra entrar numa luta armada. Então eu não me via de corpo inteiro em um processo desse”. Apesar disso, considerava importante e interessante participar dessas reuniões, e chegou até a contribuir financeiramente para a publicação de um jornal desse grupo militante, o “Independência ou Morte”.

 

Em 1973, foi preso como subversivo. Nesse episódio, foi levado de Kombi com um capuz sobre o rosto até um lugar em que o colocaram nu numa câmara frigorífica. Após horas dentro do local, foi retirado para ser inquirido. Nesse inquérito, Avelino conta que foi agredido com socos no abdômen, quando afirmava que não sabia responder a uma pergunta. Além disso, em outros depoimentos, sofreu ameaça de ser transferido para a Polícia do Exército (PE) do Rio, no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).

 

No depoimento ao Comitê pela Memória, Verdade e Justiça de Juiz de Fora, Avelino afirma a importância da Comissão da Verdade: “Geralmente as histórias são feitas, descritas e registradas pelos vencedores. Essa comissão está dando uma oportunidade aos perdedores de também exprimirem a verdade dos acontecimentos que ocorreram efetivamente ou até mesmo a sua visão dos acontecimentos”.

 

Tem interesse neste depoimento? Acesse a transcrição na íntegra.