“Eu acredito que eu tenha sido o primeiro preso político, porque quando eu cheguei na delegacia só havia eu”, contou o aposentado do Banco do Brasil, José Villani Cortes de 85 anos em depoimento à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF).
Estando à frente da presidência da Associação dos Funcionários Aposentados e Pensionistas do Banco do Brasil (AFABB) há 10 anos, à época do golpe era Presidente da Cooperativa do Sindicato dos Bancários do Banco do Brasil, que localizava-se na rua Batista de Oliveira, fechado durante a ditadura militar por representar uma ameaça ao novo regime que se implantava. “O meu movimento aqui era o mais corajoso. Eu fazia greves e fechava os bancos”, contou.
Às 7h do dia 31 de março de 1964 a vida de José Villani tomaria um rumo diferente: “Eu estava na cooperativa quando chegou um carro de polícia e me jogaram dentro, como um bicho”. Casado e pai de quatro filhos pequenos, a família não foi comunicada de imediato sobre sua prisão.
Após o ocorrido, foi levado para a delegacia de polícia e depois para o Quartel General (QG) da 4ª Região Militar, onde foi interrogado e mantido com outros quatro presos políticos até ser transferido para Lagoa Santa em Belo Horizonte. “Aqui em Juiz de Fora, fiquei em uma cela com àgua na altura dos calcanhares e fezes por todo lado. Nós dormíamos com uma luz forte na cabeça e o banho era gelado.” Em Belo Horizonte foi mantido no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), ele se recorda de ter recebido agreções físicas no local, além de humilhações. “Levei muitos chutes, socos, tapas e pontapés”, contou.
Ele permaneceu, ao todo, nove meses na prisão. Não cumpriu a pena toda que chegaria a 12 anos de reclusão. Por conta disso respondeu a um processo, mas conseguiu um habeas corpus, expedido por um juiz de Brasília que relaxou a prisão.
Devido o ocorrido, após a soltura foi transferido para um banco no município de Maracajú (MS). Ele se recorda que, quando vinha à Juiz de Fora visitar a família, fazia vários trajetos diferentes para não ser seguido. Revelou, ainda, que costumava guardar uma mala pronta no escritório de seu advogado no Rio de Janeiro, caso precisasse sair do país.
Em 1979 passou pelo processo de anistia Estadual e Federal (Lei N. 6.683 de 28 de agosto e 1979), vindo a receber indenização nas duas instâncias. “Eu quero uma sociedade mais justa, direitos para todos e igualdade relativa. Eu quero mais justiça social”, desabafou o aposentado.
Tem interesse neste depoimento? Acesse a transcrição na íntegra.