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“Então, isso é importante dizer, e repito: algumas pessoas, especialmente as mulheres que participaram do processo, sofreram muito” – Renê Gonçalves de Matos

 
 

Casado com Regina Gonçalves, o farmacêutico e bioquímico Renê Gonçalves de Matos foi estudante, professor e reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Enquanto aluno da Faculdade de Farmácia, ele fez parte do Diretório acadêmico do curso e chegou à presidência do Diretório Central dos Estudantes (DCE), em 1968 e, por esse motivo, sofreu perseguição política no período da ditadura militar.

 

Em depoimento ao Comitê pela Verdade, Memória e Justiça, cedido à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF), Renê afirma que a partir do momento em que entrou para a Universidade, passou a ter sensibilidade sobre as questões políticas e o momento difícil pelo qual o país passava à época da ditadura e que, ao terminar o curso de farmácia, decidiu sair de Juiz de Fora, mas quando retornou, foi preso e permaneceu encarcerado por vinte e quatro dias, sendo que, por dez dias, ficou incomunicável. Ele relata também, que muitas pessoas de seu relacionamento foram presas e torturadas em Belo Horizonte. Fala do sofrimento e do desgaste pelo qual ele e seus companheiros passaram durante todo o processo. Comovido, Renê fala do sofrimento das famílias dos presos e justifica suas ações, suas lutas contra um regime que limitava a liberdade dos cidadãos. Acusado de envolver-se em conflito com membros da sociedade brasileira de defesa da tradição, família e propriedade durante uma manifestação, ele desabafa dizendo: “Naquele momento você sabia que tinha toda uma sociedade, em tese, contra você. Pelo menos o status quo era todo contra aquilo que, de fato, a gente estava lutando”.

 

Regina Gonçalves fala da pressão psicológica por que passou à época da prisão de seu marido. Segundo ela, a falta de informação sobre o que estava acontecendo com os amigos e parentes, era uma coisa violenta. O julgamento de Renê foi um momento difícil para o casal, pois temiam que fosse condenado e como isso afetaria suas vidas. “Uns dias depois do julgamento eu passei mal e eu estava grávida e quase perdi a minha filha”. 

 

Quando perguntado, sobre a importância de revelar esses documentos secretos, Renê relembra que ele e Regina, naquele tempo sua noiva, trocavam muitas cartas, pois ele tinha ido para Teófilo Otoni para terminar um processo. Segundo ele, estas cartas continham muita coisa sobre a história do movimento e sobre a história de Juiz de Fora, mas, infelizmente, foram queimadas, porque temiam por sua segurança e de outras pessoas envolvidas na luta contra a repressão. Para Regina, a decisão de queimar as cartas foi tomada por medo de comprometer sua família também, mas defende que toda a verdade deve vir à tona.

 

 

Tem interesse neste depoimento? Acesse a transcrição na íntegra.