O advogado e professor universitário aposentado Winston Jones Paiva, 73 anos, em depoimento à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora, falou sobre as leis que vigoraram durante o AI – 5 (Ato Inconstitucional N° 5), sobre presos políticos que defendeu, processos, julgamentos, autoridades militares, ameaças, tortura e sobre a troca de presos políticos por embaixadores sequestrados pela resistência.
Winston formou-se em 1965, pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora. Durante a graduação, presidiu o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Cerca de 10 dias após o golpe, foi detido por cerca de três horas, por um grupo paramilitar. Foi questionado sobre os livros que tinha em casa. “Eu tinha vários livros que podiam ser considerados subversivos. Livros que eu tive que enterrar, para evitar problemas”, disse.
O advogado contou sobre elementos ligados ao regime, infiltrados em movimentos de resistência. “Um cidadão apelidado de ‘Chuchu’- não me recordo o nome dele – comparecia a várias cidades: Juiz de Fora, Barbacena, Ouro Preto, Congonhas, Belo Horizonte, Brasília, São Paulo… Ele entrava em contato com algumas pessoas e depois dizia que essas pessoas faziam parte de um grupo de resistência, posteriormente apelidado de Corrente. Pouco tempo depois, descobriram que ele era um elemento infiltrado pelo regime, assim como o Cabo Anselmo.” As denúncias de “Chuchu” resultaram no “Julgamento da Corrente”, em que foram julgadas 117 pessoas. Todos foram absolvidos, pois foi comprovado que não se conheciam.
Durante o período ditatorial, o advogado atuou em diversos casos envolvendo presos políticos, como o Processo dos 18, o Processo dos Intelectuais, o Processo da Colina e o Processo da Corrente. O advogado recordou que era necessário ter muito cuidado para não ser confundido com subversivos ao defender seus clientes. “Eu ficava muito preocupado, pois eu sabia que estava sendo acompanhado o tempo todo e não sabia onde aquilo ia parar”.
Casos de violação de direitos também foram citados por Winston. Ele ressaltou um acontecimento ligado a um grupo de resistência conhecido por “Colina”. Durante a madrugada, militares invadiram uma casa onde pessoas ligadas à resistência se reuniam. Uma dessas pessoas tinha uma metralhadora; dois militares morreram. “Em virtude disso, os envolvidos foram violentamente torturados”, recordou.
Segundo Winston Jones, a montagem de depoimentos era uma prática comum. “Interrogavam pessoas, montavam as histórias; essas pessoas eram arroladas como testemunhas umas das outras.” O advogado recordou que durante o Julgamento do Processo da Corrente, o promotor responsável, ao ler partes dos depoimentos, alterou as informações que eles continham. “Dois escrivães olhavam a cena assustados. Perguntei o que era. Eles responderam: ‘Ele não está lendo, está inventando’.”
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