A Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora gravou o depoimento do advogado e professor universitário Rafael Sales Pimenta, 55 anos, que falou sobre a prisão política de seu falecido pai, o professor aposentado da UFJF Geraldo Gomes Pimenta, e sobre seu irmão, o advogado Gabriel Sales Pimenta, assassinado em 18 de julho de 1982.
Geraldo teve várias profissões. O ex-militar combateu na Segunda Guerra Mundial e trabalhou em diversos bancos. Engajado em movimentos sindicais, começou a militar no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na década de 1950. Junto com Clodesmith Riani e outros líderes sindicais da época, formou o grupo de sindicalistas do PTB. Presidiu o Sindicato dos Bancários de Juiz de Fora por dois mandatos. Na década de 1970, tornou-se professor universitário. Formado em Jornalismo, Ciências Sociais e Economia, foi um dos primeiros professores da Faculdade de Economia, ajudando a estruturar o curso. Deu aulas nos cursos de Economia, Filosofia, Letras e Jornalismo.
Membros do Movimento Familiar Cristão (MFC), Geraldo e sua esposa, Maria da Glória Sales Pimenta, acolhiam pessoas em sua casa e com o auxílio de vizinhos e amigos ofereciam refeições. Algumas dessas pessoas aproveitavam esse espaço para fazer reuniões com temáticas ligadas à resistência. Em sua casa havia um porão, onde foi encontrado um panfleto informativo do partido comunista. O professor foi detido para prestar esclarecimentos. Foi julgado e absolvido. Devido às perseguições políticas, Geraldo encontrou dificuldades para manter seu emprego, não evoluindo na carreira docente, terminando por se aposentar como professor em regime 20 horas pela Universidade Federal de Juiz de Fora. “Meu pai tinha medo de ser preso a qualquer momento. Aos finais de semana, sumia de casa, com medo de ser detido. Dar aulas, em um lugar e horário fixo era sua maior preocupação. Facilmente poderia ser encontrado”, relatou Rafael.
Gabriel Sales Pimenta sempre se destacou nos estudos. Passou em 1º lugar no vestibular de Direito na UFJF e em 4º lugar no concurso do Banco do Brasil, sendo lotado em Brasília. Conheceu a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica e foi convidado para advogar pela CPT em Conceição do Araguaia. Pouco tempo depois, foi transferido para Marabá, cidade paraense próxima a Serra Pelada, devido aos conflitos locais, ligados à extração de ouro e invasão de terras. Gabriel assumiu a defesa dos trabalhadores rurais e da construção civil da região. Em um ano e meio, criou quatro sindicatos, contrariando o sistema de poder local. Foi assassinado em 18 de julho de 1982.
O jovem advogado ajudou a fundar o partido político Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em Marabá. Esse era um partido que abrigava opositores ao regime militar. Nessa cidade existiam apenas os partidos Arena 1 e Arena 2. Gabriel conseguiu levantar candidatos pelo partido. O estopim para sua morte foi a invasão de 160 famílias a uma fazenda abandonada. Grileiros compraram a terra e conseguiram uma liminar de restituição. Gabriel conseguiu um mandato de segurança, porém foi assassinado três semanas antes do julgamento, aos 27 anos. “Os mandantes não queriam que ele comparecesse à audiência. O mandato de segurança foi aceito e as famílias ficaram com a terra. Vivem lá até hoje. Ás vezes, vamos visitá-los”, comentou Rafael Pimenta.
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