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“Sofri muitas agressões, fui inquirida, tiraram minha roupa, ameaçaram dar choque nos seios” – Marilda Villela Iamamoto

A professora titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),Marilda (14) Marilda Villela Iamamoto contou à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora detalhes de sua prisão durante o regime militar. “Fui sequestrada na porta da minha casa”, lembrou.

 

Marilda é assistente social, formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde teve início sua militância. Durante a faculdade, nos anos de 1967 a 1971, militou no movimento Juventude Universitária Católica (JUC), participou ativamente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Serviço Social e também do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Representou a Faculdade de Serviço Social na Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESS), que articulava questões relativas à formação acadêmica e ao movimento estudantil. O movimento era vinculado à União Nacional dos Estudantes (UNE), que à época era considerada ilegal.

 

   Vinculada ao movimento Ação Popular (AP), durante o Congresso da UNE, que ocorreu em Ibiúna no ano de 1968, Marilda ajudou a organizar “pequenos comícios” em ônibus e espaços públicos juiz-foranos, denunciando prisões efetuadas pelo regime. “Nunca participei da luta armada. O que fazíamos é o que hoje o movimento estudantil faz, numa instância democrática”, ressaltou.

 

   Assim que se formou, a assistente social foi convidada para ministrar aulas na Universidade Católica de Minas (UCMG), hoje Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) e posteriormente foi aprovada em um concurso do antigo INPS, hoje Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), passando a ser lotada na Coordenação de Bem Estar no serviço de assistência ao menor excepcional, em Belo Horizonte, cidade onde ficou detida no DOI-CODI por 62 dias. Por intermédio de um professor da PUC-Minas, também militar, pode receber a visita de seus pais nos primeiros dias de cárcere. “Ele dizia que rapidamente eu seria liberada, mas aí bateu a conexão com o movimento estudantil de Juiz de Fora, e resolveram me manter detida”, recordou. 

 

Marilda relatou à CMV-JF as agressões sofridas e o que viu no tempo em que ficou presa. Nos dois primeiros dias de prisão, ficou sem dormir, passou mais de 24 horas sem água e comida. No terceiro dia, começaram as torturas físicas e a tortura psicológica intensificou-se. Tapas, socos nos ouvidos, choques nas mãos e ameaças eram constantes. “Sofri muitas agressões, fui inquirida, tiraram minha roupa, ameaçaram dar choque nos seios, na vagina… agressões do ponto de vista da minha pessoa como mulher”, relatou. Marilda afirmou não ter sofrido abusos sexuais e que jamais houve ameaça verbal de estupro. “Uma noite saíram comigo, em uma caminhonete cheia de homens, e me levaram pra uma estrada. Achei que eles iam me matar, iam me estuprar, sei lá. Estavam me usando como isca para procurar outras pessoas”, recorda.

 

     Após esse período no DOI-CODI de Belo Horizonte, foi julgada e condenada a seis meses de prisão. Não havia presídios femininos em Minas Gerais. Dom Geraldo de Moraes Penido, na ocasião, bispo de Juiz de Fora, interviu e a assistente social cumpriu a pena em Juiz de Fora, no instituto João Emílio. Após ser libertada, Marilda se casou, e sofreu na pele, junto com seu marido, a perseguição da ditadura. Perderam várias oportunidades de emprego, em diferentes lugares do país, o que ela denominou como “Caça às bruxas”. Foi anistiada em 2006 e atualmente contribui com a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, numa pesquisa financiada pela FAPERJ, sobre a repressão no campo.

 

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