A CMV-JF ouviu o depoimento do economista Marco Aurélio Marques, 58 anos, filho do juiz auditor da Justiça Militar Antônio de Arruda Marques.
Em 1966, o juiz saiu de Campo Grande com a esposa Mitze da Silva Marques e os cinco filhos – Antônio José Marques, Luiz Guilherme Marques, Marco Aurélio Marques, Maria Helena Marques e Maria Célia Marques Faria -, indo com a família para Juiz de Fora, atraído por uma vaga que surgira na auditoria militar da região. No inicio de 1967 ele assumiu o cargo, onde permaneceu por dois anos. Porém, em fevereiro de 1969 veio a notícia de sua cassação, baseada no Ato Institucional n° 5. O juiz foi destituído de seu cargo sem aviso prévio ou indenização.
No depoimento, Marco Aurélio Marques disse que as decisões tomadas por seu pai não coincidiam com os interesses do governo militar daquela época, o que teria sido a principal motivação para sua prisão. “Meu pai foi o primeiro juiz cassado aqui em Juiz de Fora, ele não julgava os processos de acordo com a vontade dos militares. Na época, dezenove pessoas de Lavras, inclusive o escritor Rubem Alves e o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Nilson Naves, foram absolvidos em uma decisão judicial dele.”
Após o ocorrido, a família de Antônio de Arruda Marques enfrentou grandes dificuldades. Em uma cidade que pouco conhecia e com cinco filhos para criar, ele contou com o apoio de alguns vizinhos e amigos. Sendo o terceiro filho mais velho, Marco Aurélio tinha 11 anos quando tudo aconteceu e lembrou com detalhes os momentos que sucederam. “Contamos sem dúvida nenhuma com apoios generosos de pouquíssimos amigos e que continuaram dando a assistência que precisávamos. A cassação envolvia realmente a intenção de tirar todas as condições do indivíduo viver. Não tinha direito à indenização, ao aviso prévio e à pensão. Para se ter uma ideia, meu pai foi cassado em 1969 e minha mãe só veio a receber a primeira pensão em 1984 pelo Ministério da Fazenda, um salário que não condizia com o que ele recebia”.
Marco Aurélio contou ainda que a situação emocional e psicológica de seu pai ficou tão abalada que em 1990 ele faleceu. O economista disse, no entanto, que todos os momentos que passaram serviram como uma alavanca, pois todos os irmãos conseguiram estudar e se formar e hoje cada um tem a sua profissão. “Não se pode querer que a nossa memória seja deletada, não é assim que funciona, o que se vivencia não esquece. O efeito disso, na nossa vida, tem que ser transformado para que o impacto venha a ser diminuído e amenizado. Aí sim, conseguiremos transformar aquilo que foi ruim numa alavanca e poderemos partir para melhor.”
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