O professor aposentado da UFJF Itamar David Bonfatti contou à Comissão Municipal da Verdade sobre sua prisão em 28 de janeiro de 1972 – período em que vigorava o AI 5 (Ato Institucional N°5). Libertado cerca de um mês depois, ficou detido no presídio de Linhares. Ele contou que durante o cárcere sofreu tortura psicológica intensa, nudez, humilhação, calúnias, injúrias e incertezas eram práticas comuns, utilizadas pelos militares para intimidar.
Bonfatti afirmou que as prisões ocorriam preferencialmente nas sextas-feiras, à tardinha, possibilitando que os militares desaparecessem com a localização do preso. “Fiquei aliviado quando vi, pela beiradinha da caminhonete, que estava indo para Linhares. Sabia que se fosse levado para Belo Horizonte, seria torturado.”
De acordo com o professor, sua prisão foi motivada pela militância na igreja católica, dentro do Movimento Familiar Cristão e não pelo fato alegado pelos militares. Um de seus alunos, à época, pediu para ele guardar em sua casa um pacote com panfletos do partido comunista, para outra pessoa pegar. Ele aceitou, mesmo sabendo do que se tratava. Pouco tempo depois, esse rapaz foi preso e torturado. Durante uma sessão de intensa tortura, contou sobre a ajuda do professor nessa empreitada.
Durante um dos interrogatórios, Bonfatti viu sobre uma mesa toda a documentação do Movimento Familiar Cristão. As perguntas feitas eram relacionadas à sua atuação na igreja e pouquíssimas ao fato ocorrido. “Eles sabiam que eu não participava de nenhum movimento clandestino ou partido político. Então, percebi claramente que eles queriam saber o que as igrejas de Juiz de Fora pensavam.” relatou.
Na época da sua prisão, ele lecionava no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e na Faculdade de Serviço Social da UFJF, onde ministrava a disciplina “Doutrina Social da Igreja”, que apresentava conteúdo contrário às propostas do regime. Embora não fizesse parte de partidos políticos ou movimentos clandestinos, Bonfatti não restringia sua fala aos interesses do regime militar. “Eu falava o que pensava, mesmo sabendo que entre os alunos haviam pessoas ligadas ao serviço de segurança.” Por conta de seu posicionamento religioso, acolhia pessoas que vinham a Juiz de Fora por diversos motivos, recebia parentes de presos políticos e pessoas que participavam de movimentos clandestinos.
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