Edson Nogueira da Silva, aposentado da Companhia de Estrada de Ferro Leopoldina, contou, em depoimento à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora, uma história pouco conhecida. Se sentindo ameaçado pelos militares, o Almirante Aragão enviou comunicado para os ferroviários que impedissem o general Mourão de chegar ao Rio de Janeiro. Assim, no dia primeiro de abril de 1964, o maquinista José de Souza acatou as ordens e atravessou a composição na Estação de Leopoldina. Os pracinhas não puderam continuar o trajeto, mas Mourão conseguiu se reunir com os outros generais. O maquinista foi levado pelos militares ao DOPS e jogado do oitavo andar. Na ocasião, a morte foi considerada suicídio.
Em 1965, Edson foi acusado de participar de um movimento de resistência contra o regime, que teria, segundo os militares, financiamento de países estrangeiros. “Me pegaram na estação e empurraram, por eu estar com algemas cai e bati com a boca no chão, o que causou a quebra dos meu dentes”, lembrou. Trouxeram-no para ser interrogado em Juiz de Fora, onde passou mal e precisou ser internado na Santa Casa de Misericórdia da cidade. Depois de uns dias, por descuido da Polícia, que não ficou de guarda na porta do quarto onde estava, Edison aproveitou e fugiu. Nos anos seguintes, a Companhia ferroviária, por perseguição, fez com que ele trabalhasse em 35 estações diferentes, onde não existiam condições adequadas para se viver.
Essa forma de punição durou até 1972, quando seus companheiros do movimento sindicalista começaram a aparecer mortos. Então um dos colegas disse que ele seria a “bola da vez”. Edison, com medo, tirou férias e não voltou mais para o trabalho. O “Partidão” lhe forneceu documentos falsos, para que ele conseguisse encontrar a família, que se encontrava em Pernambuco, também fugida da repressão. Depois de passar por vários lugares até retornar em 1979 a Juiz de Fora, onde reside atualmente com a família.
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