Ismair Zaghetto foi um dos jornalistas que participaram da série de entrevistas que a Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF) realizou para tentar compreender as relações entre imprensa e ditadura. Nascido em Juiz de Fora, ele diz ser um privilégio estar com 80 anos e poder acumular tamanho aprendizado. Zaghetto recorda ter vivenciado, como jornalista, momentos cruciais da história. Mas, apesar disso, ele sente saudades da vida acadêmica, quando foi professor de sociologia e filosofia.
Juiz de Fora tinha dois grandes jornais – o Diário Mercantil e o Diário da Tarde – quando ele começou a trabalhar. Eram os impressos dos Diários Associados, nos quais Zaghetto chegou a ser editor-geral. Segundo ele, os periódicos “encarnavam a tradução da cidade de Juiz de Fora”. Para Zaghetto, “o jornalismo antigamente era diferente. Hoje, formam-se comunicadores sociais”. Na sua época, os jornalistas eram professores, médicos, engenheiros, que tinham o jornalismo como hábito e escreviam amadoramente.
Ele lembra que, por conta da proibição de algumas reportagens no período da censura, os editores passaram a publicar matérias fora de contexto, como receitas de bolo. Era uma forma de denunciar a censura vivida dentro das redações. Entre os casos rememorados, está o de um amigo de redação, que acabou publicando matéria que havia sido censurada. Ao chegar ao quartel, o jornalista teve a carteira profissional rasgada pelo comandante.
De acordo com o jornalista, o mais difícil na época da ditadura militar foi justamente a figura do censor na redação. Conforme Zaghetto, esse profissional da censura era trocado periodicamente para não criar laços de amizade com os jornalistas. “De algum modo, em graus menores ou maiores, uma farda sempre intimida.” Mas a autocensura também é apontada por ele como uma consequência: “A autocensura é terrível, essa sensação (de se censurar) é terrível”.
Apesar da presença do censor nos jornais, Zaghetto destaca que não existia nenhum arquivo oficial que proibia a publicação de notícias, e o próprio jornal ficava incumbido de, cotidianamente, registrar as novas proibições. Um dos fatos curiosos citados pelo jornalista diz respeito à notícia de que o presidente Juscelino Kubitscheck havia falecido. Os censores informaram que devia ser publicada, no entanto, com “meia emoção”.
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