Em seu depoimento à Comissão Municipal da Verdade, o jornalista Wilson Cid, 74 anos, contou sobre sua participação no jornalismo nas décadas de 60 e 70, e comentou como era a dinâmica da repressão no período da ditadura.
No momento do golpe, Wilson era redator na Rádio Sociedade e também trabalhava no jornal Diário Mercantil. Ele contou que às vésperas da queda do presidente, a sensação de que algo estava para acontecer era presente nas redações. Havia uma enorme movimentação no aeroporto da Serrinha, com várias autoridades do estado e do país.
“O primeiro preso do golpe foi o Diretor Regional dos Correios”, lembrou. No dia 31 de março de 1964, o clima na redação foi relativamente normal até as 17 horas, mas, às 19, já havia uma censura nas emissoras de rádio para não transmitir a Voz do Brasil. No dia seguinte, às 9 horas, o programa da Rádio Sociedade já estava totalmente censurado.
De acordo com o jornalista, os donos dos jornais associados, Diário Mercantil e Diário da Tarde, se colocaram a favor do golpe militar. Por isso, sofreu com duas censuras: a militar e a da própria empresa onde trabalhava. Wilson recordou que a polícia chegava com um telegrama, que deveria ser assinado pelos responsáveis, informando a censura de determinadas reportagens. No lugar do texto censurado ficavam espaços em branco ou receitas culinárias.
Pela forte repressão da época, os jornalistas da cidade não tiveram oportunidade de cobrir as prisões e torturas feitas pelo regime militar: “Ficamos inteiramente afastados da liberdade de comunicação”. Para ele, a marca mais grave deixada pela ditadura foi o medo que o jornalista tem de assumir a informação, pelo receio de sofrer com represálias. “Isso é muito constrangedor para a profissão”, lamentou.
Wilson Cid não tinha grandes militâncias partidárias, apesar de ter participado por alguns meses do MDB, o atual PMDB. O jornalista afirmou que poucas pessoas filiaram-se ao partido na época, por medo da repressão.
Tem interesse neste depoimento? Acesse a transcrição na íntegra.