Apesar de ainda ser um menino quando o golpe de 1964 foi deflagrado, o editor-geral do jornal Tribuna de Minas, Paulo César Magella, traz lembranças vívidas da ditadura militar, e principalmente dos anos finais do regime, quando já atuava como jornalista em Juiz de Fora. Com uma memória invejável, o jornalista se recordou em entrevista à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora que muitas vezes eram os censores que levavam a notícia às redações. Segundo ele, em algumas ocasiões os avisos das informações que não poderiam ser publicadas pela Rádio PRB3, onde atuava, acabavam informando os jornalistas do que ocorria. “Sem querer eles nos avisavam de coisas que não sabíamos. E aí, como o aviso de censura tinha chegado só para a gente, passávamos a notícia para os jornais do grupo (Diários Associados) e eles publicavam.” PC, como é mais conhecido, lembra que essa era uma das poucas maneiras de driblar a censura e veio a ocorrer em um momento de repressão menos intensa.
Contudo, na maioria dos casos, as imposições do regime autoritário acabavam sendo aceitas nas redações. “Um censor aparecia com uma nota dizendo que determinada matéria não poderia ser publicada”, e os editores, cautelosos com as publicações, seguiam as orientações com o intuito de evitar represálias.
Entre as coberturas que participou durante o período da ditadura, PC se recorda das visitas de políticos a Juiz de Fora. “Foi a primeira vez que vi um presidente da República de perto”, diz ao falar da passagem do general Ernesto Geisel pela cidade. Outro momento marcante foi entrevistar Leonel Brizola no início dos anos 1980: “Era cativante ouvir Leonel”.
Outro caso destacado pelo jornalista diz respeito a um processo envolvendo colegas de profissão. “Fazíamos vigília na Auditoria Militar para cobrir o caso dos 18.”. A menção diz respeito à cobertura feita pela imprensa sobre o processo instaurado pela Justiça Militar em 1981, que ficou conhecido como “Julgamento dos 18”. Na ocasião, foram julgadas 18 pessoas, inclusive três jornalistas, entre eles Renato Henrique Dias, por noticiarem um manifesto de sindicatos e movimentos estudantis que denunciava suspeitas de fraude na acusação de um professor pela Lei de Segurança Nacional. Antes disso, conforme PC, a cobertura dos processos julgados em Juiz de Fora era bem menos destacada nos veículos de comunicação, já que havia dificuldade de acesso à Auditoria e aos processos.
Nascido na cidade de Santos Dumont em 1953, o jornalista lembra do medo que sentiu no dia 31 de março de 1964: “A movimentação era grande, os vizinhos saiam de casa para servir ao Exército.” A notícia foi recebida pela família através do rádio e, seu pai, que era ferroviário – filiado ao PTB e fazia parte de movimentos políticos, logo tratou de contar ao filho que o presidente havia sido deposto por militares. Apesar do conhecimento político e envolvimento partidário do pai, PC diz que ele não sofreu represálias durante o período ditatorial.
Apesar de ainda não entenderem a dimensão do que ocorria no país, PC diz que ele e os colegas se manifestavam como podiam. Ainda no colégio, protestavam “colocando as cadeiras uma em cima da outra na sala de aula.”
Seu primeiro contato com o jornalismo foi aos 17 anos, na Rádio Cultura de Santos Dumont, quando havia acabado de se formar em contabilidade. Depois, enquanto estudante de direito na UFJF, em dezembro de 1975, começou a trabalhar no quadro dos Diários Associados. Seu primeiro trabalho de destaque foi uma manchete na edição de domingo do Diário Mercantil. A reportagem era sobre um discurso feito em Juiz de Fora pelo advogado, jurista e escritor Heleno Cláudio Fragoso. “Devo a ele e ao Wilson Cid (jornalista) o meu ingresso no jornalismo.”
Tem interesse neste depoimento? Acesse a transcrição na íntegra.