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“Eles pegavam os civis, mandavam despir e mergulhar embaixo da cama. Jogavam água fria em cima deles”- Lauro de Almeida Mendes

LAUROOs membros da Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF) Antônio Henrique Duarte Lacerda e Jucelio Maria ouviram o depoimento do professor aposentado da UFJF, Lauro de Almeida Mendes, 80 anos. Na época da ditadura ele era capitão do exército em Nioaque Mato Grosso (MT), atualmente Mato Grosso do Sul (MS), e respondeu a um processo militar por ter sido considerado subversivo ao regime, vindo a ser absolvido mais tarde.

 

Lauro de Almeida contou que no dia da renuncia do ex-presidente Jânio Quadros, um general reuniu os oficiais e perguntou a cada um quem iria assumir a presidência. Em posse da Constituição do Brasil nas mãos, Lauro de Almeida respondeu que seria o vice-presidente. “Nesse momento, alguma coisa dentro de mim disse que eu havia assinado a minha sentença de término de carreira.”

 

Em 30 de abril do mesmo ano, Lauro de Almeida foi preso e levado para Aquidauana (MS), acusado de ser simpatizante às ideias comunistas. Na época com 29 anos, casado e pai de dois filhos pequenos, ficou preso durante 66 dias neste local.

 

O mesmo general responsável por sua prisão solicitou que fosse aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as relações do capitão com o “mundo” subversivo. “Lamentavelmente, assisti cenas deprimentes de oficiais novos, inexperientes, que queriam se projetar diante dos comandantes. Eles pegavam os civis, mandavam despir e mergulhar embaixo da cama. Jogavam água fria em cima deles”, contou.

 

Lauro de Almeida foi processado pela Justiça Militar, porém o juiz auditor militar que julgou o caso, Antônio de Arruda Marques, identificou a ausência de crime e espediu uma ordem para libertá-lo. O pedido foi recusado pelo general, que solicitou ao juiz que reabrisse o caso. Lauro de Almeida foi reconduzido à Corte Marcial aqui em Juiz de Fora. Após comprovada sua inocência foi absolvido por unanimidade.

 

Contudo, ele passou por muita dificuldade, ao procurar por emprego se deparou diversas vezes com o preconceito. Porém os obstáculos não o impediram, prestou concurso para a UFJF e passou, “Contra tudo e contra todos havia sido aprovado. Estava no Departamento de Física”. Segundo o professor, durante uns cinco anos, continuou sendo observado pelos militares. “Eu tenho feito de tudo para que Deus me dê o dom do esquecimento, porém eu quero o reconhecimento da lei correta”, declarou.

 

Tem interesse neste depoimento? Acesse a transcrição na íntegra.