Os constrangimentos enfrentados pelos jornalistas durante a ditadura militar integram as lembranças de Antônio Geraldo Carvalho, o Toninho Carvalho, Bem humorado, o fotógrafo contou à Comissão Municipal da Verdade (CMV-JF) sobre o dia em que foi retirado de um restaurante segurado pelas calças por militares. Ele tentava fotografar o então presidente da República, Arthur da Costa e Silva: “Fiquei com os pés suspensos no elevador. Fui segurado pelas calças.”
Toninho iniciou sua carreira no jornalismo como revisor da Gazeta Comercial, em 1964. No fim dos anos 1960 foi para o Diário Mercantil, já como fotógrafo. Fotografou julgamentos de presos políticos na Auditoria Militar, que funcionava na Praça Antônio Carlos, e entrevistas na Penitenciária de Linhares. Normalmente, era necessária autorização do oficial de Justiça, do juiz ou do promotor Simeão de Faria, para realizar fotos na Auditoria. Algumas vezes, Toninho foi impedido de fotografar e, para escapar da prisão, ia embora sem as imagens. Em outras situações, fotografou escondido, sem usar o flash.
“Os militares censuravam tudo, inclusive as fotografias.” Na visão dele, os fotógrafos eram os mais prejudicados. “Nós éramos ‘pau-mandados’.” Censores entravam nas redações e os negativos eram levados para avaliação antes da publicação das fotos. Apenas aquelas fotografias que eram aceitos pelos militares, voltavam à redação, o resto do filme era cortado e ficava com o Exército.
No dia 31 de março de 1964, Toninho recorda da partida das tropas em direção ao Rio de Janeiro para derrubar o presidente João Goulart. “As mulheres jogavam flores. Acreditavam nas vantagens da revolução.” Conforme o fotógrafo, um ano após o golpe, ainda havia comemoração na cidade e ele não compreendia como as pessoas poderiam celebrar o que estava ocorrendo: “Havia faixas pelas ruas de Juiz de Fora com os dizeres ‘Viva a Revolução!’”
No início da década de 1980, quando a “repressão já era mais branda”, o movimento estudantil de Juiz de Fora, liderado pelo Diretório Central dos Estudantes, organizou uma manifestação pela melhoria do transporte público. Na ocasião, Toninho refugiou-se em um prédio para fotografar a manifestação, já que os militares não permitiam fotografias: “Eles estavam tomando as máquinas dos fotógrafos e quebrando.”
Tem interesse neste depoimento? Acesse a transcrição na íntegra.