As experiências na Penitenciária de Linhares no período da ditadura militar foram o alvo das declarações de Gilney Viana à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF). Gilney, que atualmente vive em Brasilia e foi coordenador do projeto “Direito à Memória e à Verdade” da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, veio a Juiz de Fora no dia 28 de janeiro de 2015 prestar depoimento à CMV-JF e contribuir com as pesquisas do colegiado. Ele iniciou seu envolvimento com o movimento de esquerda após se aproximar de um amigo que lia jornais e livros de reflexão comunista. A partir daí, começou a participar de reuniões do PCB e atuar em grupos de guerrilha urbana.
Como ativista, rompeu com a tendência de políticos conservadores da família, participando de movimentos de esquerda. Apesar de toda a agitação política da esquerda naquela época, disse que foi um choque quando o golpe de 1964 se instaurou, pois ninguém do partido esperava. “Há quem diga que o golpe teve o seu sucesso porque a esquerda não tinha uma visão de resistência a ele”, provocou Gilney, que discorda dessa versão.
Como guerrilheiro, assaltou bancos e “puxou” carros como forma de reagir contra a repressão. Foi detido em várias ocasiões e ficou recluso em algumas unidades, como as penitenciárias de Ribeirão das Neves e Ilha Grande, o DOI-Codi do Rio de Janeiro e a Penitenciária de Linhares. Após a última prisão, em 1970, cumpriu pena por cerca de dez anos, quando ficou detido no Rio de Janeiro e depois foi trazido para Juiz de Fora. Quando chegou aqui, ficou sete dias no Quartel General, no Bairro Mariano Procópio, onde foi interrogado e depois levado para Linhares. Gilney relembrou que, juntamente com ele, cerca de 80 presos, entre homens e mulheres, constituíam a população carcerária. Apesar de não ter sido torturado fisicamente em Juiz de Fora, relatou constrangimentos e pressão psicológica, além de casos de agressões de colegas. No Rio de Janeiro sim ele disse ter sido duramente torturado, quando chegou a passar por uma noite inteira de agressões.
Em Linhares, por muito tempo não podia ter contato com a família, e ele relata que dentro das celas também havia fiscalização pelos militares. Era uma particularidade de Linhares ser vigiado por 24 horas e não poder ter cortinas nas celas. “Eu não estive na prisão, eu vivi na prisão. Eu militei, escrevi,estudei e casei em Linhares. Fiz do limão uma limonada”, afirma Gilney ao relatar sobre o período que esteve preso na cidade.
Segundo o militante, havia articulação dos militantes dentro da penitenciária, e eles montavam coletivos para poder argumentar com a administração carcerária. Eram orientados pelas respectivas organizações, para que todos fizessem denúncias sobre torturas. Ao todo, Gilney Viana permaneceu em Linhares por sete anos e três meses. Depois foi transferido para a penitenciária Milton Dias Moreira, no Rio de Janeiro, onde ficou detido por mais dois anos e sete meses. Atualmente, Gilney reside em Brasília, é membro da Comissão Camponesa da Verdade e atua em outras frentes de defesa dos direitos humanos.
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