Cláudia Regina Sell de Miranda é irmã da militante Sônia Soares de Miranda, que foi encontrada morta em 1977 na casa em que vivia no Rio de Janeiro. O caso foi encerrado como suicídio, mas, de acordo com Cláudia – que prestou depoimento à CMV-JF em 5/12/2014 -, a morte de Sônia nunca foi explicada corretamente pelas autoridades.
A depoente tinha grande admiração pela irmã, que ganhou uma bolsa de estudos em 1975 para estudar energia atômica no Instituto Militar do Exército (IME) do Rio de Janeiro. Sônia também cursou Farmácia e Bioquímica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde se envolveu com os grupos militantes de esquerda Comando de Libertação Nacional (Colina) e Partido Operário Comunista (POC). Por conta disso, começou a ser perseguida pelos militares. Preocupada, a família da estudante pediu para que ela voltasse e concluísse a faculdade em Juiz de Fora. “Lembro de uma vez que nós entramos no ônibus vindo de Niterói e a Sônia falou comigo: ‘Claudia, não levanta do ônibus porque tem um policial vigiando a gente’.” Segundo a irmã, Sônia fora presa algumas vezes em Juiz de Fora por conta da grande repressão da época, mas era liberada em seguida por ter parentesco com um militar.
“Ninguém na minha família aceita o suicídio da Sônia, porque ela não tinha motivos para isso”, afirmou Cláudia. A depoente, sempre muito emocionada, contou que os laudos, na época, acusaram cheiro de gás no apartamento e que o mesmo estava lacrado antes da entrada dos policiais. Uma tia encontrou um bilhete em cima de um móvel da casa. De acordo com Cláudia, o conteúdo do papel era de uma despedida e não de suicídio. Ela disse que, por conta desses fatos, sua outra irmã, Solange, ficou muito abalada e teve que ser internada em um hospital psiquiátrico. “Com a morte da Sônia, a Solange pirou. Na verdade, a ditadura não matou uma irmã, ela me tirou duas irmãs”, lamentou a depoente.
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