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Clodesmidt Riani

Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora

Depoimento de Clodesmidt Riani

Entrevistado por Comitê pela Memória, Verdade e Justiça Juiz de Fora

Transcrito por: Yasmin Machado e Rodrigo Costa Yehia Castro

Revisão Final: Ramsés Albertoni (01/04/2017)

 

Riani: De duzentas mil, duzentos mil trabalhadores, duzentas mil pessoas, os jornais fizeram, teve um colosso. Aí, já no dia 25, já saiu o Ademar de Barros numa passeata, depois aquele negócio de conta como… deputado, esse negócio todo. Agora, foi justamente isso aí. Aí, deu a semana santa, mas o aí os mineiros, os mineiros não, os marinheiros tiveram um problema lá. Foram reunir os metalúrgicos, os metalúrgicos deram problema, aí eles foram presos, aí os que foram lá para prendê-los lá, o cara era do contra, mas fez um comício lá para aderir. O pessoal, então, largou as armas e ficaram todos juntos, aí eu fui chamado correndo, e o Jango foi chamado correndo. Então, nem estava sabendo, né. Porque nós tínhamos o negócio de… Aí quando eu, eu saio daqui, vou lá. Acho eu vou lá às 3h da tarde, mais ou menos, mais ou menos 3h, então eu telefono para o… “Como é que é? Eu estou chegando aí, me chamaram”, “Oh rapaz, vai direto para a Federação dos Estivadores porque o negócio não está bom não e não sei o que”. É dia 30, dia 30. Aí o resultado, eu fui para lá, quando eu cheguei lá, eu vi, de tarde, mais ou menos, uns 140 líderes sindicais, mas não tinha ninguém que tinha conhecimento comigo, não é, porque sindicato nem sempre reunia como a gente lá, mais a federação representando a confederação. Nesse caso lá, aí… no Rio, e voltei. Eu estava no salão… O que você quer, filhinho? Justamente depois do resultado… São Paulo, porque tinha participado com eles lá e resolveram então ser… em Salvador, aí a diretoria então saía da… Ia sair da reunião das Confederações Nacionais, tá certo, veio Sindicato Nacional, que era muito difícil, mas tinha, então, que escolheriam seu líder. Eu fui escolhido para presidente, não estava presente, foi escolhido Osvaldo Pacheco e o nosso tesoureiro, agora esqueci o nome do tesoureiro, mas não tem problema, não. Então, escolheu-se a diretoria. E, felizmente, entre nós, eu e Pacheco, a diretoria funcionou muito bem. E o CGT, então, ficou como órgão mesmo muito importante, porque o pessoal acreditava na diretoria. Porque os estivadores acabaram… né. Então, pegou mais rodoviários e pegou também a aeronáutica. Então, um problema sério, chegou até ter greve também dos aeronautas, teve um problema sério, e posso até especificar se vocês quiserem a greve, e foi… Resultado, então a CGT passou a ter muito… qualquer problema, e as greves então. Então, eu posso até citar uma greve que eu estava, que eu ficava sábado até o meio-dia, eu saía, almoçava no caminho, e vinha para Juiz de Fora, para minha casa. Mas depois eu passei a não ir à minha casa mais porque é muita gente pedindo emprego… sacrifício, emprego e mais não sei o que. Então, eu passei a ascender no PTB, eu passei a ser também do PTB, então eu fazia reunião, atendia o pessoal, na hora da reunião, na hora da reunião, pronto, a gente via e é assim. Eu estava lá ao meio-dia para sair, aí me chega dois elementos lá. Um é o Hércules Correio, que eu já até olhei uma vez, se vocês depois quiserem que a gente fala lá, falar o que o Zé era para mim, o negócio do livro, está por aqui… É, então ele era comunista, deputado estadual, era primeiro secretário, arrumou com Lacerda lá, com o Lacerda, ele passou a primeiro secretário lá… E ele era o líder do movimento sindical do Rio, da Guanabara, ele falava Rio-Guanabara, do Rio. Então, do pessoal da Guanabara. E o Pacheco, o Pacheco então era da estivadora, esse negócio todo, depois… Então, o movimento era muito forte ali na região do Rio de Janeiro. Resultado, o CGT teve as maiores representações que foram possíveis, e a gente reivindicou e conseguiu muita coisa. Depois, se vocês precisarem, eu tenho aí essa parte de vitórias e essas coisas todas, questão das greves e tudo. Então CGT, aí que ficou famoso, né, o CGT. E acabou nas eleições, eu acabei sendo reeleito, essas coisas aqui, e a… Mas, aí, tinha as representações internacionais, aí eu passei a ser, também, membro de representação internacional porque a minha não tinha, apresentava… Então, todo ano tinha porque nós pertencíamos à OIT, Organização Internacional do Trabalho, porque, assim, nós só tínhamos o Bureau Internacional do Trabalho. Então era, pra você ter uma ideia, em 1960 fui eu, justamente, para lá, e fiquei nos Estados Unidos. Depois em 1961, então saiu o Jânio Quadros, o Jânio foi à uma representação da CNTI quando ele era presidente ainda, então, foi também apresentado o meu nome, o Jânio Quadros me mandou para a 7ª Conferência Nacional dos Sindicatos Livres, e foi em, justamente, na Argentina. Depois daí, quando é 1962 eu já entro. Então eu fui membro… brasileiro já com extensão do trabalho da OIT, na Suíça. Quando foi 1963, um colega meu não quis, a CNTI ia ficar sem representação, achei um com ele todos, nenhum diretor, para chamar gente do interior é mais difícil, aí eu tive que ser também, e nessa que eu fui lá, por exemplo, houve um problema com o ministro da fazenda, o… ministro da fazenda, e eles então puseram a verba da viagem, então eles pagavam, o governo pagava, né… Então resultado, nossa federação, indústria, comércio e rodoviário, né, rodoviário. Resultado, aí eu falei com ele “Oh ministro, telefonei, a gente nem tinha pegado… a gente procurava saber… Houve um erro do senhor”, “O que que foi, Riani?”, “Não, aconteceu um… Santiago, né. Então… Não, porque o senhor pôs três membros, e nós temos cinco, agora, confederações. Ah, não, agora nós temos condições de arrumar, temos, sim senhor. O senhor pega esse dinheiro que o senhor pôs para nós, os três, o senhor põe para cinco”, “Então pode?”, eu falei “Pode. Aquele que não puder interar para ele, não vai, ué. Se tiver interesse…”, ele falou “Não, perfeitamente”. Peguei dois, esses dois, um só foi desbancado porque eu não gostei da atitude dele, um foi como delegado, eu fui como assessor, e os outros… Mas aí ficou, os dois que foram da esquerda, né. E dos nossos que ia, só de direita. Aí chegou lá, daí pronto, passa a ter a reunião do Bureau Internacional do Trabalho. Aí dois não votavam de cá, os de cá não votavam de lá, mas os quatro votaram em mim. Aí tinha mais de cem votos internacionais para ser do Bureau Internacional do Trabalho. E olha, embora da revolução, um dos que tinham maiores condições, qualquer país que eu visitasse, tanto patrão como empregado, queria eu, me receber, que era bureau internacional. E o Jango, que tinha dinheiro, ajudou lá tudo… do Psol. Então, a gente ficou numa situação muito boa aí, então a minha apresentação todos queriam. Imagine que nós também exigimos do dr. Jango para tirar o elemento assessor dele sindical, que era um cara que só se vendo, chegou até a me oferecer uma… lá, quatro federações, já tinha oitenta sindicatos, o senhor não me conhece… vai ter dinheiro… “Não me interessa, o senhor vai me desculpar”. Mas a gente ficou, corretamente, e exigiu do dr. Jango, exigimos, e exigiu para tirá-lo e o Jango concordou. Nós tínhamos dois colegas presos, metalúrgicos também, em São Paulo, então deviam ser de esquerda mesmo, e ele com… no quartel militar lá, para… aí prendeu o cara. Nós queríamos que o Jango tirasse, mas tem que ver, a gente vai ver isso tudo. Aí eu falei “Não, você dá um telefonema para o general, que eu vou lá”. Ele telefonou para aquele ministro da guerra do dr. Jango, então eu fui, chegou lá, marcou a audiência comigo, e ele não estava, saiu fora. Aí eu peguei e fui lá atrás de nossos colegas e tal, saber a situação. E falei “Não, isso aí que vocês fizeram está errado, mas vocês têm o direito de ficarem livres e responderem ao processo, né”. Foi que nós, então, falamos. Aí, quando chegou na minha posse, olha o retrato aqui, o Jango está na posse, o presidente estava lá também, na posse. Então… estava lá, queria soltar os colegas presos, e acabar também com o assessor, o Jango concordou, não tinha problema nenhum. Nós tivemos sorte porque na minha ida lá, conversei com advogado e tudo, deu problema porque a, não é auditoria não, o outro nome que dá na… reunida ali, esqueci o nome agora. Então a…

Comissão: IPM?

Riani: Não, era já… cisão, era cisão ali, só que é a primeira que tem o nome, depois tem o tribunal, tem o supremo, era a primeira, eu esqueci. Mas aí, resultado, ficaram nervosos e pintaram com o nome… porque nós soltamos eles, e o cara… do exército, não queria que soltasse, né. Então, rolou o maior problema, e começou assim. Mas acabou, e a gente teve… Agora, a questão do afastamento, o que deu o afastamento… não tinha quem podia ir, aí quando chega na hora, a presidência de São Paulo, do governo de São Paulo e Rio… impressionar o Jango para quê? “Aí, Riani, nós pedimos audiência, eles deram audiência, vamos lá”, “Não, eu não vou não, porque não tenho nada, não tenho problema”. Chegou na época… pô, “Vocês vão desculpar, mas vocês não apresentaram, eu convidei o Riani duas vezes, e o Riani não aceitou”. Aí a turma veio toda para cima de mim “Oh, Riani, ele…”, “Eu não aceitei”, “Mas não aceitou por quê?”, eu falei “Eu não sou nenhum bobo, ué, ficando marcando audiência como vocês”. É mesmo, ué, não estou certo? Está certo, não aceitei ficar com o Jango. Posteriormente, sem querer, eu e ele, a amizade nossa foi maior, ele me levou para os Estados Unidos numa reunião oficial, né. Eu fui na… Aí ele me perguntou assim “Oh, Riani, você já viu o Diário Oficial? Oh Riani, você já fez o seu enxoval?”, “Oh Jango, que conversa é essa de enxoval?”, “Você não leu o Diário Oficial, aí, não?”, “Não, eu não li Diário Oficial nenhum, dr. Jango”, “Mas lê o das… que eu te espero”, “Está bom”, e fui embora. E fui ver no Diário Oficial, eu estou na comitiva dele, o ministro de relações interiores, o ministro dele, o secretário de segurança, e não sei o quê, senador tal e tal, e põe o… aí também. Fomos lá junto com Kennedy, reunimos, almoçamos com ele, o Nelson Rockfeller, aquele negócio todo, bom e vai… Agora, vou te falar uma coisa, acho que esse… nos Estados Unidos que eu… sabe por quê? Na reunião que o Jango foi, acho que recebido pelo Congresso, qual é o lugar que é? Se é… Tinha um nome aí, tem um nome lá, mas não me lembro da representação, você vai e tem um salão só para… se não é o Congresso que foi, foi em outro lugar. Mas quando ele chegou, sem exagero, palma, rapaz, mas um minuto e meio, eles aplaudiram para ele chegar lá em cima, mas tudo… Eu também estava de, como é que chama, smoking, né, aquela borboleta (risos). E aquilo tudo alinhado, pretinho, aquele negócio… Fiquei bobo de ver muita gente, quero dizer, tudo é América, né. Nós tínhamos que estar lá com o Jango, aplaudindo o Jango de pé. Quando ele chegou, apresentaram ele lá na mesa, outra vez, uma coisa louca. Então, eu mesmo notei aquilo. Aí, depois não conseguiu lá o que precisava, que era arrumar dinheiro com os Estados Unidos, que ele que é… não foi, você sabe disso, o negócio de Juscelino é que deixou um bocado de dívidas, normal, normal que ninguém chiou, nem nada disso. Mas os militares que não queriam deixar o Jango assumir gastaram muitos milhões ali naquele problema, de dólares, sabe, mas ninguém fala sobre isso. Então, eu fui lá, passei a tarde com o doutor, mas a gente falava, João Goulart voltou de cabeça erguida, não é, embora não conseguiu acordo, mas foi uma reunião assim. O CGT ficou… aí eu não aceitei isso, mas eu me lembro de onde eu estava com o Hércules e com o Jango porque houve o salário mínimo de 1964, fora as outras reivindicações que se vocês precisarem eu dou para vocês. Mas tem aqui, se vocês quiserem, nós vamos decifrar agora mesmo. Mas o que que acontece nessa questão do Jango, nessa questão aí eu falei do Jango. Então, houve a coisa do salário mínimo, mas não foi do salário mínimo, a turma estava querendo romper com João Goulart. Aí telefonaram para mim “A turma aqui fechou o problema aqui e decidiram, vão romper com o João Goulart”. Eu não tenho nada com isso, eu não sei porque estão… todo mundo. Não, é estivador, é isso, e pá, pá, e estão pensando até na greve geral, quem é que vai comandar, quem que não vai. Aí me ligaram para falar, não pode… não estou nem sabendo do assunto, ninguém me convidou… “Não, mas dá um pulo aqui, eu estou te pedindo”. Eu tinha um amigo muito bom lá, que era comum, né, que eu pus até na direção do CNTI junto comigo, segundo secretário, um cara bom, muito sindicalista mesmo, podia ser comunista, mas era sindicalista, não discutia problema. Eu cheguei lá, e o… falou “Está assim e assim como negócio do Jango, não sei o quê, o pessoal está lá, nervoso. Vamos até lá”, mas eu falei “Não, não vou. Eu não daria apoio, só queria saber direitinho”, “Ah, vamos, vamos. Oh Riani, está passeando?”, “Estou, eu vim visitar a minha família, mas vocês estão reunidos aí, não estou sabendo de nada, e tal”. Aí, resultado, aí me chamaram para a mesa, aí quando começaram a conversar o assunto, falou “Não, mas quero saber a opinião do Riani”, aí eu falei “Não posso dar opinião, a… é de vocês, vocês que têm que decidir”, aí falou “A decisão nossa, nós estamos chegando a esse ponto, que o Jango também não dá audiência, não dá nada”, “Oh, vocês vão me desculpar… acontece que o Jango acho que nunca negou audiência para sindicato que eu saiba, que o Pacheco que está aí, grande companheiro de vocês aí, eu encontrei com ele lá duas vezes, embora não tinha intimidade, nem conversei com ele, ele não conversou comigo. Eu não conheço o Pacheco direito, agora está no CLT”, aí ele estava “Não, mas o Jango é muito difícil”. Aí um outro falou assim “Oh Riani, dá para você arrumar uma audiência para nós?”, “Ah, isso aí vocês vão me desculpar, posso telefonar, mas se quiser vocês mesmo telefonam, eu dou o telefone para vocês”, “Ah, não!”. Aí aprovaram que eu devia conversar com o Jango a respeito da audiência. Quando eu telefonei para o Jango, o secretário lá, acho que parece, eu não tenho certeza, que o Jango falou “Se for o Riani, pode atender. Se for o Riani…”. Porque todo lugar que eu ia tinha ministro, tinha lá com o Jango, queria dinheiro de tudo, que era aquele ministro que resolvia tudo, muito delicado, só para você ver, não é, uma coisa maravilhosa. Telefonei, “Oh, tem um problema muito sério aqui, pá, pá…”. E eu na mesa, e aí ele falou assim “Então, Riani, vou passar para o Jango”, “Dr. Jango, o senhor vai desculpar, o pessoal está reunido aqui, me chamaram aqui, eu não tenho nada contra eles, mas estão nisso aqui para arrebentar com o senhor, por causa disso…”, “Oh Riani, fala com eles que eu estou mandando o meu avião, agora, para buscar vocês aí”, “Companheiros, vocês vão desculpar, o doutor falou que o avião já vem apanhar vocês, aí”, “Ah, pelo amor… ah, eu tenho que mudar a roupa! Pô, eu tenho que fazer isso…”. Eu não tenho nada… é você. Aí fomos por lá. Eu queria falar para você que vê, que não sou eu, não. Quando nós chegamos lá na reunião, tenho até uma fotografia aí, tem um general, eu esqueci o nome agora, eu ia té falar que ele era secretário do governo, de segurança, chefe da Casa Militar. Um deputado que eu não gostava dele, federal, e um retrato do João Goulart, pode notar que tem um retrato de vocês aí, que eu tenho um retrato, sabe. Vão até gostar. Então, ele falou assim, o Jango, “Eu quero que os trabalhadores falem a verdade”. Ah, rapaz… “Senhor presidente”, parecia que ia cair um negócio lá. “Senhor presidente, foi vossa excelência que falou que o custo de vida tem 70%, isto é, para nos dar uma miséria de aumento…”. Rapaz, aquilo estava estralando lá, e o Jango acabou… Ele acabou de falar, não tinha mais ninguém para falar, aí eu falei, “Oh Jango, quero explicar para o senhor que eu estou com eles, vou ficar com eles, porque eu vou ficar na luta, vou aderir à luta, vou ficar com eles. E vou falar com o senhor, quando for fevereiro do ano que vem, eu vou querer 100% de salário mínimo, doutor. O senhor quer que eu fale a verdade, vou falar”. Acabou, e eu não vi nada escrito, mas é que me comunicaram muita coisa que iam fazer, é que o Jango teve a humildade de retirar os 40%, a mensagem para o Congresso, e mandou 60%. Não. É, 60%. Você já pensou? Quero dizer, então acabou, né, mesmo com briga, resolveu. E quando foi, o que eu queria falar quando eu estava chegando naquele ponto, que eu estava indo para a Europa e tudo, quero dizer, então, o negócio de salário mínimo, o Jango falou “Riani…”, “Oh doutor Jango, o negócio do salário mínimo vem aí, uns três meses”, ele falou “Não, Riani, faz o seguinte, conversa com o ministro do trabalho, gente muito boa e tal, e eu vou dar uma palavra com ele”, “Está bom”. Olha só, eu peguei um mapa do Brasil desse tamanho assim, lá na CNTI, e fiquei, porque eu já estava acostumado com a outra que… estudando aquilo tudo, é a bolinha vermelha, um alfinete verde, é um azul, então, essas ainda pode, com essas de cá não pode, as dos estados vão ser assim… Aí falei com o ministro “Seu ministro, o senhor faz o seguinte, o senhor manda um ofício pedindo todas as confederações de patrão e empregado para dar opinião a respeito do salário mínimo, o que eles podem resolver do salário mínimo, que vai ter, que vai ter essa decisão e tal, de um decreto do governo, e vai decidir”. Então, eles tinham acabado com aquele negócio de comissão, né, eu nem lembrei disso, eu nem sabia nem disso. Aí, resultado, aí quando acaba, nas últimas horas lá, quando uns chama e outros chama, e aquele negócio, então ficou o… que no início de fevereiro saía o aumento, não tinha problema nenhum. Mas a gente não falou assim mais o quanto nós queríamos, 100% pelo menos, eu citei no meu caso ali no estudo. Aí eu vou para a Europa, quando eu chego de manhã lá… o meu tesoureiro, que ele morava na própria, sentei num quartinho, porque ele era de Rio Grande do Norte, então, não ia pagar aluguel, né. Então, telefonei para ele “Como é que é, tudo bem?”, “Não, não assinaram, o salário mínimo não saiu, não”, “Como não saiu, não publicaram?”. Aí eu fiquei, eu estava nervoso. “Não, rapaz…”. Ele tinha um jeitinho especial, “Não, rapaz, calma”, “Calma, não, rapaz…”, ele falou “Calma aí, o ministro do trabalho achou o seu trabalho tão bom, e ninguém apresentou outro, que ele pediu o doutor Jango para não viajar de manhã, sábado, para fazer uma homenagem que você merece”. E o Pacheco, que é um líder do movimento sindical ofereceu de dar dez mil pessoas. Quando é, por exemplo, dia de semana, descobri que dá cem mil. Vou te explicar… cem mil para cima, não é para baixo, não. Resultado, ele falou “Oh Riani, e agora nós vamos te fazer uma homenagem, então, está marcado para o meio-dia, doutor Jango vai, o movimento sindical vai dar dez mil trabalhadores, e você vai ainda ser orador para agradecer em nome dos trabalhadores, tinha a confederação… maior, né, então foi aquele negócio. Falei “Bom, e agora, como é que fala? Falar perto do presidente, tem que ser por escrito e eu não sei escrever discurso”. Paciência, né, vamos lá, então fomos. Então, tá, não tem problema nenhum, chegou lá, reuniu de fato, tinha lá, se não tinha lá dez mil, cinco mil, já estava até muito bom, porque foi no palácio, né? Foi feito no palácio. Aí, o orador fui eu, então eu agradecendo, agradeci, mas como para você ver como é o negócio, eu não devia falar nada à Jango, sabe. Quando foi terminando, quando terminei de fazer a leitura, falei “Seu presidente, eu queria falar com o senhor o seguinte, o senhor está de parabéns, porque o senhor, hoje, já passa a ser, oficialmente aí, está com estabilidade, porque hoje está fazendo dez anos que o senhor está aí, né, porque o senhor foi justamente em 1954, foi o ministro do trabalho aí, em 22 de fevereiro, hoje é 22 de fevereiro de 1964, então…”. E falei com ele “Aquele coronéis que ficaram contra o senhor por causa de salário mínimo naquela época, eles, hoje, são generais de confiança de vossa excelência”. Puta merda, eu… o Jango. Falei “Puta que pariu, e era melhor…”. O Jango me deu a mão, falou, depois que eu terminei de falar, me deu a mão e falou “Oh Riani, você furou o gol”, “Ué, você me deu a bola, né!”. Pô, agora os caras traíram a gente lá, e se fodeu tudo. Então para você ver como é que eram as coisas que a gente fazia direitinho, correto, digno, é uma beleza… a gente fazia. Aí, resultado, a gente ganhou 100% também em 1964. Agora para você ver, o Lula que é o Lula nunca deu 10%, mas a… econômica não pode, mas isso… Mas, uai, como é que no meu tempo, de dez anos podia resolver isso. O Juscelino, não, o Juscelino não queria negócio de comissão, mas o… chegou lá. “Oh Riani, vem aqui em São Paulo bater um papo”, “Mas o que que é?”, “Eu estou preocupado, o salário mínimo, agora não tem negócio de comissão? E os patrões me ofereceram 50%, eu estou achando bom para os trabalhadores”, eu falei “Oh, de fato não está mal, mas o…”, “Não… o não”, “Não, agora, Juscelino, não pode porque você me deu um choque aí, espera aí, eu vou pensar”. Porque eu tinha mexido com isso, agora surgia até presidente da república me chamando, é bom, mas eu já conhecia ele. Telefonei para dois caras de São Paulo, sabe. Um até de esquerda, mas muito bom de muita coisa. Mas… vim dois, já veio seis, meia dúzia, sabe. Chegou lá querendo discutir os problemas, mas eu não ia discutir problema, eu não sei o que os colegas querem, mas não, eu sei que está com problemas, eu falei “Eu não, absolutamente”, e falei “Vocês vão me desculpar, mas vocês não podiam falar para ninguém trazer mais ninguém, você são visitantes, são…”. E depois iam fazer reunião que eles quisessem, interromper tudo, não tem problema, mas não está… Aí, eu falei, “Oh, a única coisa que eu acho assim, os 50 está bom porque ninguém mexeu com negócio de salário mínimo, não é mesmo? Agora sai de estouro, o presidente da república, mas agora vamos ver”. Então, pois é, eu pedi mais 10%, aí o Juscelino… 60%, nós aceitamos, não tem problema. Mas aí, um filho da mãe de um… que eu nem conhecia, falou “Não, nós não aceitamos, 70% vão pagar…”, falei “Oh, vocês vão me desculpar, mas você pode ficar com a sua greve, pode ficar com os seus 70%, eu estou indo embora, porque eu não tenho nada com isso”. Aí, ficaram apavorados, né, aí chatearam o cara lá, aí falei com eles “Não pode, eu posso levar para o Juscelino uns 60”. Quando foi… “Foi tudo bem, eu reuni, e tal…”. Falei com ele e tudo, aí ele falou “Não, Riani, 60 não… 50”, “Pois é, mas o que que o senhor vai dar como, por exemplo, o senhor…”, ele falou “Não, você tem razão”. Então está resolvido. Resolvemos, foi em 1956. E os outros não foi mais eu que participei do movimento e tal. Mas, então, a gente, eu, estudava esses assuntos quando podiam ter cabimento e discutia, e tal, e a gente ia… Então, olha para você ver, então eu chego lá e tem essa homenagem para mim, não é, oh, foi uma maravilha. E assim, agora, resultado, nós vamos sair para a questão de reforma agrária. Um dia chego perto do doutor Jango, não sei por que, “Oh doutor Jango, o senhor tem medo do Lacerda? Por que várias vezes comigo o senhor tem medo do Lacerda?”, “Não, por quê?”, “Uai, o senhor nunca fez, eu estou aqui agora no Rio, o senhor nunca fez um comício do PTB aqui”, falou “Não, então marca a data”, falei “Igual o Juscelino, uma vez, também foi isso de marcar a data, foi a estratégia dele”. Eu trouxe ele aqui, foi um festão. Aí o resultado, “Você marca a data”, pois então, 24 de agosto vem aí, ele falou “Não, Riani, 24 de agosto tenho que estar com Getúlio no Rio Grande do Sul”, disse “Então, 23”, “Então está feito”. Agora, como é que eu vou marcar um comício no Rio se eu não tenho ninguém para fazer comício?. Passei um aperto, primeiro liguei para os estudantes, que sempre é bom ter um homenzinho, né. Então, eu não tinha conhecimento lá, não, porque o Guedes aqui chegou a ser até preso, fugido daqueles, né… Aí, resultado, meu telefone, vai um “Eu tenho um problema, assim e assim, e nós estamos pensando aqui, fazer um momento assim, e tal”, “Ah, não, Riani, negócio de Getúlio é levar flores lá, levar… É gente velha só, levar vela, as mulheres levarem flores, e tal”, falei “Não, não é bem isso, não. Eu queria conversar, discutir o problema em outro sentido. Ah, então tem o diretor aqui”, falou “Então chama para mim”. Aí chamou o diretor e falou “Oh Riani, mas o que você pensa?”, falei “Não, eu estou com um negócio de reforma agrária, de reforma de base, esses negócios todos; então, no comício, se eu for falar, vou falar disso. Você que é o estudante, você fala o que quiser, pelos estudantes, uai”, ele falou “Oh, Riani, conta com a gente, 100%. Eu vou reunir a diretoria amanhã, você pode contar com o apoio nosso, coordenador, essas coisas, respondeu “Então está bem”. Mas eu fui para dormir, rapaz, não dormi. No outro dia, eu fiquei passando mal. Mas como é que eu vou reunir esse povo? Começou, ficaram sabendo, engraçado, falou que não deixava eu fazer. Bom, ele tinha razão, no jeito político dele. Aí, depois, quando foi de noite, eu lembrei do presidente do PTB, que era um cara muito legal lá, eles falavam que ele era meio doido, agora eu não lembro o nome dele. Talarico, já ouviu falar do nome dele, pelo menos, né, Talarico. Aí, teve… deputado, falar com o senhor assim “Oh Riani, onde é que você está com a cabeça, rapaz? Eu nunca fiz isso aqui com Getúlio”. Pois é, fica lá os velhos levando velas, as mulheres levando flores, e o PTB de nada. Falei com o doutor Jango, ele aceitou. “Oh Riani, não dá nem um passo que eu, o PTB vai por o povo lá”. Então, no jornal, quero dizer… para escolher um orador lá, aí tinha uns caras que queriam falar, outros que queria falar, outros que queriam, o Pacheco então achou ruim, aí eu falei “Isso aí eu não tenho interesse de falar. Eu entro, passo, arrumo, mas de falar, não tem necessidade de ficar prendendo e falando toda hora, então não falo”. Então, resultado, “Vamos fazer o seguinte, O Pacheco vai fazer o discurso, vai fazer, escrever o discurso lá do jeito dele, e Riani, você faz um dos seu também, e nós aqui vamos discutir o que nós aprovamos, porque tem que ter por escrito.” Aceitei, mas não tinha condições para isso, não. Primeiro porque nos advogados trabalhistas, eu não confiava muito, mas confiava no cara da Bahia que era colega, de maneira que redigir lá o que… Então ficou ótimo… do modo de entender. Eu não diria com todas aquelas palavras, em si, né, eu não tinha condições para isso…. Tirada em 33, agora você por aí, vê. Aí, então tá, chegou na hora de aprovar lá, na hora que leu do Pacheco, leu, palma, todo mundo, e eu até bati palma, estava bom, eu fiquei satisfeito, né. Mas o meu… para o cara dar um jeito lá, ele falou que não vinha de avião, como é que ia trazer no outro dia, apertei com ele, ele arrumou e mandou, sabe, o que eu pedi. Aí, chegou na hora, falaram “Vamos ler o do Riani”, falei “Não, então pode ler aí”. Aí leu tudo direitinho. Aí ficou empatado, “Só quem pode decidir isso é o nosso advogado que está aí”. Que eu nem conhecia, era nordestino, era nortista, que estava colaborando, mas não ganhava nada… de noite, mas ele estava trabalhando já na previdência lá… Então, nós estávamos falando a respeito do comício lá no Rio, né. Foi até que bom porque um jornal que a gente lembra, deu 40 mil pessoas, mas no outro deu 80 mil. Quero dizer, então, foi um momento, né, que acabou dando resultado pelas indicações que tinha a fazer de reformas de base, essas coisas todas. Agora, nisso aí, a gente procurou trabalhar da melhor maneira e tudo, nós fomos bem também com as questões do Ministro de Trabalho, que não tinha, o pessoal não tinha audiência, não tinha nada, né? Mas comigo mudou a figura, porque de vez em quando eles me viam com o Jango, qualquer coisa eu também reivindicando, e até para você ter uma ideia, por exemplo, nós fomos… Aí resolvia fazer o 1º de maio lá, que estava chegando lá, para ver se a empresa vende mais, que até no exterior faz até hoje, né, uma coisa daquele tipo, enfim, as confederações. Aí eu mandei um ofício para as confederações, que era pelego, né… sabe. E resultado é que eu queria reunir para ver se a gente podia marcar um lugar, então marcamos. “Não, podemos reunir, não, senta aí mesmo e tal”. Alegre e satisfeito. Então reunimos, “Vamos fazer o 1º de maio?”, “Vamos” “Vamos fazer púlpito?”, “Vamos”. Aí, infelizmente, rapaz, aí a turma da esquerda atrapalhou tudo, vou te dizer… Bom, chegou o 1º de maio, bom, aí resultado, ficou… as confederações ficaram, “Não, Riani, você apresenta, você chegou a falar, você que teve a ideia , a gente vai recuperar o 1º de maio, sabe”. Porque a CNTI era contra um que teve da esquerda lá. Aí, tá, tudo bem, marcamos, marcamos às 7h da noite, tudo direitinho e tal, tudo mais ou menos arrumado. Aí recebo um telefone do próprio doutor Jango “Oh Riani, às 3h lá no aeroporto” falei “O que que é? Não, doutor Jango, tenho compromisso”, “Não, rapaz, 3h lá, não abro mão, não, 3h”, eu falei “É, o que que vai acontecer, né”, aí o falou: “Ah, não, é que ele vai para Volta Redonda, sabe”. Aí quando eu chego lá no aeroporto, lá o aviãozinho, pegou o avião e eles correram até a gente, sabe por quê? Estava todo o gabinete dele novo, né. Da época, tá certo? Foi em 1962, né, 1961, né. Então estava o gabinete, estava em 1962, estava Tancredo Neves, estava Franco Montoro, ministro do trabalho, todos eles, aquele que morreu no mar, o…

Comissão: Ulisses.

Riani: Ulisses Guimarães, né, e também estavam tudo lá. O… lá, o avião não era grande, não. Aí só cumprimentei, entrei também, não conversei com ninguém, o Tancredo só cumprimentando, sente no meu lugar. De repente, aí fomos embora. Aí quando nós viemos embora, ele me chamou, o Tancredo, pra sentar com ele na frente, falou “Oh Riani, o presidente está te chamando”. Pois não, cheguei lá, doutor Jango perguntou se eu queria falar com ele. “Oh doutor Jango, espera aí, dar os parabéns primeiro ao senhor porque o senhor foi maravilhoso”. E o que estava lá era um mar de gente, até acostumei no outro comício que eu falei, teve uma vez… Mas era uma coisa que eu nunca tinha visto… “Estou certo?”, “Não, o senhor saiu muito bem e tal…”. Aí sentaram, “Não Riani, queria que você me representasse agora de noite lá no comício, né, de 1º de maio”, “Por quê? O senhor está…”, “Não, não dá para eu ir e tal, não sei o quê”, “Não, doutor Jango o senhor vai me desculpar, agora não posso, se eu vou falar em nome das federações, das confederações, e eu vou falar em nome do senhor, doutor, não tem jeito, como é que eu vou arrumar? Não, não tem, doutor Jango, e agora o senhor tem dois casos, um é o… né, para representar o senhor”. Ele era representante da… d… da administração dele. “Mas o senhor tem o Franco Montoro aí, do Partido Democrático Cristão, que está se dando bem conosco, está sendo, eles estão satisfeitos com ele”, “Ah, não, então chama ele”. Eu chamei o Montoro, aí ele falou com o Montoro, e o Montoro “Ah, então está bom”. E depois, pegou e falou “Oh Riani, vamos fazer o seguinte, na hora que for lá, você vai no meu carro, nós vamos juntos”, “Então está bem”. Na hora que eu desço lá, juntamente nós chegamos lá no hall de entrada, um colega corre lá e me avisa “Riani, só tem comunista lá. Mas está cheio de faixa, que nem pode andar. Faixa de pá, queremos o partido PC, querendo mais isso, aquilo, mas não tem só, mas não tem jeito, então algum colega quis ficar, o sindicato saiu fora de manhã”, e falei “Meu Deus do céu!”, aí o ministro “Oh Riani, vamos embora?”, eu falei assim “Oh ministro, você vai me desculpar, eu estou recebendo aqui uma comunicação, o senhor ministro pode ficar ciente que até o Carlos, o Luís Carlos Prestes, está lá”. Você imagina, até o Carlos Prestes estava lá. Erro deles, né, fazer um negócio desses, porque estava… Aí resultado, ele falou “Eu não vou, com o governo, se meter nisso agora com Carlos Prestes”. Está bem, paciência então, não sou eu que está falando, é o… Aí foi lá, mas fiquei sem jeito porque… aquele jeito de pensamento dele, mas fui lá, cumprimentei o Carlos Prestes, né, e saí por um outro caminho, quando me deram a palavra lá, não falei nem cinco minutos, fiquei todo sem jeito porque eu tinha dado a ideia, né, e eles perderam porque depois não podia convidar mais para fazer um negócio desses. O que é que aconteceu para 63 é fácil, o Congresso, né, da CNTI não tinha saído o primeiro que desmanchou, fui lá e pus o segundo, e eu fiz pelos estados. Rio Grande do Sul: a primeira reunião lá no sul, pá rá rá, na região do sul, vamos fazer um para, fazer um para trabalhar no Congresso, Pernambuco. Então vamos fazer nordeste, São Paulo; aí eu levei, o ministro do trabalho aceitou. Pinheiro Neto aceitou para ir comigo no Rio Grande do Sul, aí foi uma beleza, porque ele ficou satisfeito, alegre; quando nós estamos vindo com ele, ele foi chamado lá para conversar com o 1º Ministro, então o 1º Ministro falou assim: “Essas aqui são notas que você que deu no jornal? Eu fiquei sabendo disso direitinho porque eu não estava perto. “Sim, senhor, (pois eu sou jornalista?)”. “Mas o que você fez aqui não é possível”. Falou: “Não”. Ele falou assim: “Então você se desfaz disso aí”. “Não, não vou desfazer o que fiz, não”. Ele falou: “Ó, então você se exonera”. Falou: “Eu não vou me exonerar”. “Então, você está exonerado”. É o embaixador que está lá nos Estados Unidos, só pode ser mandado de quem? Dos Estados Unidos. (inaudível) embaixador de lá. Aí, então quer dizer, o Ministro fez isso, o 1º Ministro acabou, exonerou Pinheiro Neto. Ó, ele tinha vindo comigo lá, né, no mesmo avião, aí contou isso. Numa conversa lá com o Jango em torno do negócio lá de (supra?), o nome, então, reforma agrária, Superintendente de Reforma Agrária, sabe, Supra, né? Superintendente de Reforma Agrária. Pois é, doutor Jango. Aqui, aí outro problema, que o sindicato do Rio e de São Paulo combinou de romper com o Jango porque ele tirou o ministro que estava mais ou menos ligado com isso, você está entendendo? Eu não estou sabendo de nada, estou em Belo Horizonte, aí recebo um telefonema, e eu não tinha dinheiro para o avião, rapaz, eu fiquei sem tirar dinheiro lá na CNTI, na assembleia. Arrumei uma caminhonete emprestada, mas vindo de Belo Horizonte para parar no Rio, né, para atender um pedido dos colegas de trabalho. Quando eu chego lá, isso é para vocês ficarem bem cientes, quando eu chego lá, aí um moço me reconheceu: “Ô, Riani, e tal”. Então eram amis ou menos uns vinte, no máximo umas trinta, umas vinte pessoas aqui do Rio, não muita gente de São Paulo, uma turma de uns dez, mais ou menos, aí faltava 15 minutos, dei sorte de chegar a tempo da, naquele lugar humilde, o (inaudível) que era (inaudível), companheiro, e falou: “Ô, Riani, mas não abre aqui, não sei o quê”. Eu falei: “Isso aqui, eu não sei de nada, eu não sei do que se trata, e tal”. Mas ele foi para (inaudível) e me chamou e foi me contar: “Que é isso e isso. Não abrimos mão e já estamos combinados. Se seu Jango não for, nós vamos para a greve geral, e não sei o quê”. “Mas isso é problema de vocês, eu fui só chamado, não sei de nada”. Aí, de repente, vem um carrinho passando lá, um Volks, né, e o portão abre lá, e o Jango entra lá, e tal. Aí vem uma turminha lá de uns quatro ou cinco: “Ô, Riani, mas não abriu”. Aí eu falei: “Mas eu não tenho nada com isso, eu não pedi nada, não pedi para ele atender nada, não estou sabendo de nada, fui convidado, ninguém está conversando comigo”. Aí que vieram os (inaudível) e “Ó, vocês aí estão (empacando?) aí… Não sei o quê lá, que quem passou com o carro aí é o Jango, o Jango, aquele carro é dele, ele mesmo dirige”. E é mesmo. Uma vez, eu sei que me chamou, foi para a casa da mãe dele, Dona Vicentina, e voltou comigo, eu voltei no carro dele, ele dirigindo e eu do lado dele, ele (inaudível). Mas ele, antes de (inaudível) “Quem é esse cara? Quem é esse cara?” Né? Eles reunidos lá, e aí falou: É um tal de Riani, um negócio de sindicato, eu nem sabia quem era. Aí, resultado: Na reunião lá, eles estão em reunião, e eu não fui na reunião, sabe? Eu estou no corredor, sentei aqui. “Eles estão lá reunidos?”. “Eu não sei disso direito, não conversaram comigo. Como é que vai romper com o Jango? Nem capacidade nós temos para isso”. Aí deu um cadinho e veio um assessor do doutor Jango e falou: “Ó, o presidente está chamando você”. Falei: “Eu não vou, não”. Daí a dez minutos, eles discutindo lá, aí vem: “Ó, o presidente está te chamando lá”. Eu falei: “Eu não vou”. “Mas ele é presidente ”. Falei: “Mas eu sou presidente disso, sou presidente daquilo…”. Aí ficou puto o cara lá, e voltou. Aí quando acabou a conversa lá, aí eu falei aqui, pensei aqui comigo, para você ver como é que eu era: Se eu fosse o Jango, eu não recebia os cumprimentos do Riani. Ó, eu não (inaudível) eu, porque ele vinha e eu ia cumprimentar, (inaudível) eu não fui, como é que ele ia vir aqui, você está entendendo? Você entendeu agora?

Comissão: Entendi.

Riani: Na hora que ele veio na frente, com a diretoria, o presidente sempre vem na frente, é a autoridade, aí na hora que ele veio, eu fui lá para encontrar com ele, peguei a mão dele, ele olhou para mim assim, e falei: Ô, doutor Jango, o presidente da república Getúlio Vargas quando não pôde manter o Ministro do Trabalho da classe operária, ele não durou seis meses. O Jango fez assim, ó, pegou a outra mão comigo, me levou para o divã, sentou, já meio diferente, falou: “Ô, Riani, repete isso para mim”. Aí eu repeti para ele, rapaz, ficou de cabeça baixa, rapaz. E quando deu dez horas da noite, me acharam, eu já estava no terceiro hotel, que de vez em quando (inaudível), explicava: “O Zé mandou te pegar em tal lugar, ó”. Ás vezes o cara é até gente nossa, ó, aí o cara ia à força, tinha três, já era o terceiro hotel, dez horas me descobriram porque o 1º tesoureiro é o único que sabia, sabe, para onde eu ia ou não, e as vezes em certo lugar, eu já costumava até ser pego, porque eu já sabia que (era comunista?) safado, aí eles falavam: “Ele é um cretino safado”, né? Eles falavam e então era assim, mas não esqueci, mas não ele deixei falar de Juiz de Fora. O senhor não disse de Juiz de Fora, não falou? “Então vem aqui e deixe ele falar”. “Eu não, uma turma”. Fui à (inaudível) e chamei o povo para descer do morro porque matou Getúlio Vargas, e agora estão falando que Getúlio não pode ser, o Juscelino não pode ser candidato porque é ladrão. Aí não deixamos falar, a polícia veio, deu problema, mas não falou, sabe? É, resultado: Aí o Pinheiro Neto me telefona dez horas: “Ô, Riani, o que que aconteceu aí? Mandei o cara te buscar para gente tomar um whisky”. Falei: “Não tomo whisky”. “Então um vinho”. Falei: “Não, não tomo nada. E vou falar mais uma coisa com o senhor, seu ministro, é que…”. Ele já não era mais ministro, né? Naqueles dias, ele tinha caído. Ele falou assim: “Ô, Riani, mas olha, ô, Riani…”. Eu falei: “Não, não vou, o senhor vai me desculpar, não vou, que me horário de governo é dez horas, e já é dez e meia, eu já estou tirando a roupa”. “Não, não, Riani. O Jango pediu para conversar com você, você conversou com ele uma coisa, e ele mandou eu conversar com você”. Falei: “Então está bem”. Aí falei: “Então me manda um carro”. Ele falou: “Ó, Riani, está aqui o ministro, o presidente da república ficou meio chateado com o negócio que você falou, você então está com a razão nisso”, mas não sei lá o que que tem… Eu falei: Não, foi isso e isso, e agora tem esse problema aí, a gente vai decidir. Ele foi, e falou: “Não, Riani, mas aí, a gente vai…”. Aí, resultado: Eu peguei e sugeri ao Jango, falei na Supra, então, Superintendente de Reforma Agrária, né, porque ele ia ficar prestigiado. Rapaz, quando eu estava lá decidindo isso, o Jango falou assim: “Riani, formidável, Riani, fala com o Brizola – que ele estava saindo da reunião, ele sabia, – o Brizola está na sala, fala com o ele”. “Por que falar com ele? Eu já estou falando com o presidente”. Aí, o Brizola, agora, saindo, sem mentira nenhuma, ele deu um passo, dois, no terceiro, eu cheguei a armar o pé para chutar o tornozelo dele, para ele cair assim, sabe? Olha, eu falei: “Ó, Brizola, eu queria falar com você, conversar com o senhor sobre isso, assim…”. Ele: “Não, eu já tenho o candidato”. Falei: “Não, Brizola, porque…”. “Eu já tenho um candidato”. Aí pela terceira vez: “Brizola, eu preciso conversar…”. “Não, já tenho um candidato”. Naquela hora, Deus me ajudou que eu não dei o chute o no tornozelo dele ali; ele pegou e colocou um cara safado lá que não valeu nada, ficou seis meses, e ainda demos sorte que o Jango levou outra pessoa que eu indiquei, que é o, esse que eu estou te falando, que era o Ministro de Trabalho, foi do Juscelino, trabalhou 25 anos com o Juscelino, e capacitado. Então, eu discutindo com o sindicato também esse negócio da reforma agrária, como é que se, querendo ver só cem metros numa lagoa lá do nordeste, queria 500 metros, aí não pode, tem a margem, que não sei o quê, esse negócio todo, e a gente não entendendo, mas o (inaudível). Aí, resultado, como lá, nessa reunião que nós fizemos também, em 63, né, a gente, até negócio de discurso. Eu não falei? O meu prevaleceu, o meu, explicou a razão, ficaram bem, sabe? Então a gente, o discurso também não foi eu que li, e falava na reforma agrária também, sobre negócio de reforma de base. Aí, resultado: o do Brizola não deu certo, aí o Jango botou esse aí, então esse estudou, estudou conosco, reuniões, mais reuniões, e aquele negócio todo, aí vão acertando, acertando. Detalhe: então ficou resolvido, e nesse que eu fui homenageado lá com o Jango, sabe, que foi justamente em 63, que foi dia 22 de fevereiro, ele falou assim: “Ó, então vamos ver agora esse negócio da reforma de base”. Então já era 64, aí, conforme eu não falei, eu vou repetir que não sou que falou, aí o, justamente, o (inaudível) Correa, que era comunista, que era tudo isso, mas era o líder lá, a gente lá, reuniu para lá, (inaudível)e ficasse escutando isso, mas então ele foi e falou assim: “Mas, doutor Jango, se for num dia de feriado e um domingo, o máximo que eu posso trazer são dez pessoas, dez não, dez mil, mobilizar o pessoal. Agora, se for num dia de semana dou para o senhor de cem a cento e vinte, e conforme for, até cento e cinquenta”. O Jango falou assim: “Então está bom, então vamos ver aqui o dia de semana”. Aí quando chegou, nem no dia 13 de março, ó, fevereiro nós tínhamos reunido, e agora vocês não deixem eu esquecer que o que é mais importante, que você pediu, eu estou saindo fora, mas vou chegar agora lá, é o negócio de a gente de decidir a questão da Revolução. Então nós também tínhamos reunido a Marinha, o Exército e a Aeronáutica para ver também o que nós tínhamos aprovado o, não quero dizer projeto, mas é um projeto, uma espécie de projeto, a gente pode dar um outro nome aqui, agora eu esqueci o nome que eu queria dar, é o mesmo que um projeto, é um projeto mesmo. Então ali, o Exército, e a Aeronáutica aprovaram o processo; o Jango manda me chamar, que eu não estava lá, mas eu não estou representando (inaudível), não é assim também, não, é ou não é? Você está entendendo? E eu vou, aí para não perder tantas horas lá no Palácio e tal, aí eu estava com dois colegas, da (comuna?) de São Paulo, que era diretor meu lá também, segundo secretário, e o meu tesoureiro, eu falei: “Não, vamos lá comigo, que eu vou lá sozinho, vamos lá comigo”. Chegou lá, rapaz, deixa eu ver se eu anotei aqui, não mexi, não, acho que vocês nem nunca viram isso. Espera um pouquinho… (remexe em papéis)

Comissão: Vira para cá um pouquinho.

Riani: Marinha, Exército e Aeronáutica aí, ó, aí, o que que está escrito aqui? Em cima aí, vê o que diz aí, reforma… Reforma agrária verde oliva. Reforma agrária verde oliva… Está vendo? Oito de fevereiro. Está vendo? Então estava decidido no nosso ponto de vista, e o deles não está, nós, operários e o governo, não está? Porque o Jango falou primeiro, está aqui o Jango falando, depois o Ministro do Trabalho está aqui, assinando aqui, Almeida Guerra, e sabe quanto (inaudível), nós que (inaudível) o governo, porque não é (inaudível)Então ficou cinquenta milhões para o Exército, trinta milhões para a Marinha, e vinte para começar, que eles tinham que viajar, medir, fazer a medição, eles (inaudível). Então, está aprovado. Então, eu não sei se eu tenho aqui, mas eu faço, se você quiser levar, se você quiser levar também, vou te dar. É que, aí foi que eu e a CGT estudamos o assunto, vou te contar aqui, CNTI, escuta aqui, boletim mensal, então aqui está escrito, justamente isso aí, eu mandei para todos os sindicatos de (inaudível), mas o (inaudível) desse projeto aí, está aqui, está vendo? Está aqui, esse daí. Então não tem problema, então nós reunimos nosso CGT, então vamos fazer, aí com o CGT é aquilo que eu falei que eu cheguei com o Érico lá, e o Jango, então, marcou o dia 13, sexta-feira. Eu falei: “Nossa, doutor…”. Ele estava tomando o Whiskyzinho dele lá, e eu estava tomando não sei o quê, que eu não bebo, um guaraná, e seja o que for lá, comer uma coisinhas que a gente estava sem almoço, aí eu falei, aí o tesoureiro: “Não, doutor Jango, espera aí, sexta-feira 13, não. Em Minas, nós não aceitamos, não. Sexta-feira 13 dá problema”. Não, ele viu a agenda e falou: “Não…”. “Beleza, doutor Jango”. Sorridente, ele: “Não, Riani, está achando melhor, então está bom para o dia 13 mesmo”. A gente tinha estudado direito para o dia 13, e ficou para o dia 13, mas eu vou te dar, justamente, a nossa convocação do Congresso, eu tenho aqui a convocação do comício do dia 13. Aí, peguei, dei uma reunião rápida com os colegas, mas é, nem isso eu pude dar rápido porque naquele dia, eu tinha chegado mais ou menos cinco e meia, seis horas da Europa, né, (inaudível), o negócio do salário mínimo, que eu expliquei para vocês, aí, né? E aí, como esse negócio, lá, demorou mais, ele chamou eu e o Érico lá para conversar ainda, aí ficou aprovado. Aí, (falei?): “Mas, ó, tem um problema de umas leis lá que o Santiago está encarregado, não sei se o senhor vai reunir com ele lá para ver com a comissão, para decidir”. “Bom, vocês podiam ir lá”. Bom, a gente saiu de lá do Jango lá pelas seis, sete horas para ir lá no estado do Rio, que ele morava lá, o Santiago, então eu fiquei meio apertado. Aí quando eu vou sair, o Jango fala assim: “Ô, Riani, hoje é aniversário do Érico, você aproveita e dá os parabéns ele lá para mim”. Bom, para você ver como é que eu estava: sem almoço, sem janta, tendo que (procurar?) Santiago. Bom, chegou lá, rapaz, eu fiquei passando até mal, sabe? Porque o Santiago… Você conheceu ele?

Comissão: Pessoalmente, não.

Riani: Ele era gordo assim, a (inaudível) grande, ele era forte assim, mas não era de barrigão, de coisa, não, era esquisito. Mas um homem delicadíssimo, eles falavam que era o Rui Barbosa da nossa época, sabe, era ele. E o Jango era (inaudível) do (inaudível). Aí, chegou, o homem está com câncer, rapaz, ele dava duas palavras e tossia tanto. Duas palavras e tossia. Aí eu fiquei apavorado, mas ele marcou com a gente lá, acabou lá e não tem problema nenhum. Só que ele fala isso. Daí, quando nós fomos passar lá, com o Érico, já era meia noite, meia noite. Falei: “Érico, já é meia noite, não tem mais ninguém lá”. Ele falou: “Não, rapaz, você não entende disso – ele falou comigo – Vamos embora”. E eu sem janta, sem nada, e ele também. Quando nós chegamos lá, rapaz, era um baile formado (risos). O Érico chegou, bateram palma, aniversário, pá ra pá ra, e aí parou o baile para nós falarmos lá. Falei: “Não, do Jango, ele…”. E quando houve outra vez , depois também, o Pacheco, que eu te falei, o Pacheco parava os ferroviários, parava a (inaudível), né, e parava os aeronáutico também, que teve uma greve lá dos aeronáutico, sabe? Então, acabou que o Jango pede para mim ir lá cumprimentar em nome dele, o Ministro do Trabalho foi, mas ele acabou de falar, e eu falei: “Não, doutor Jango. Uai, gente, sou o Riani, não, vocês estão batendo palma para mim, e eu aqui, na verdade, o doutor João Goulart pediu que eu viesse aqui, que ele não pôde vir, ocorreu um problema lá e tal”. Então para você ver que a gente estava (inaudível)a ligação. Então você vê que o Exército é isso que você está vendo, então, nós, então fizemos o nosso comício para o dia 13 de março. O Jango, rapaz, então, o que ele pôs ali é a reforma de base, é a reforma agrária, como é que é, tudo direitinho. Então, foi o discurso, e rolou um problema para nós. Estou contando para vocês, que vocês precisam saber as coisas, como que é que acontece, que a gente passa aperto. Quase que nós demos um jeito de prender o (Arrais?) e o Brizola, rapaz, não tinha nada com o comício, e atrapalhou o comício, colocou o comício político, não era comício (da política?), você está me entendendo agora? Eram nós que (inaudível), povo nosso e o Jango lá com problema, que estudou, não foi segredo de ninguém que estudou na Câmara, naquele negócio todo, sabe, tudo direitinho, mas acabou e o trem ainda dá um problema lá que o Brizola cismou de falar antes do Jango. Falar umas coisas, gostava de cutucar o Jango, sabe, o negócio, nem sempre pode mostrar (inaudível), para o Brasil resolver é outra coisa, né?

Comissão: Sim.

Riani: O Brasil para resolver um negócio é (inaudível). Então tinha esses problemas lá, está bom, mas aí o resultado é que o (inaudível) ficou marcado porque, quando foi dia 11, e você vai me dar razão, eu desmaiei. Nunca tinha tido, eu desmaiei na CNTI, então chamaram o médico, e o médico vem, me examina e tal. Depois que eu, ele fala: “Ó, Riani, não vou te dar conselho, não, mas eu vim porque sou médico. Você não tem nada de grave, mas você tem que ficar sessenta dias fora de qualquer problema, que a responsabilidade sua está sendo muito grande, que eles estão me falando, e só isso que tem, mas você não tem outro problema nenhum. Não bebe, não fuma…”, mais não sei o quê. “Você não tem outro problema, então, não precisa (inaudível) aí”, não sei o quê. Sabe o que que eu falei? Falei com ele assim: “Ó, doutor, eu só queria falar com o senhor o seguinte. Eu preferia morrer num palanque”. Ele falou: “Morrer no palanque? Que negócio de palanque?”. Falei: “É, porque depois de amanhã, dia 13, vai ter o comício, eu sou presidente do comício da classe operária. Como é que eu vou fazer?”. Ele falou: “Não, então está bem, se é assim, vou te dar um comprimido hoje, e outro amanhã, você toma, mas não vai, não conversa com ninguém, não recebe telefone, e tal”. “Então está bem”. Aí acertei lá o aquantie dele e saí, fui, já tinha comprado uma e alugado uma, para não ficar só em hotel lá, não sei se é Botafogo, não sei aonde, lá no negócio do IAPI que estava uma porção de, lá, sobre, para alugar, para vender, né? Então eu aluguei, né, eu já estava para lá, fui para lá, ficar sozinho foi ótimo. Ah, rapaz, mas depois foi um colega daqui, não é colega, não, um empresário foi para lá no PTB, que é o Nicolau (Shuezer?), veio falar de (inaudível), ele é meio nervoso e tal, e vai para a CNTI para assistir o Congresso, foi na véspera, ele tinha parente lá, para ver o Congresso, o Congresso, não! O comício! Aí quando ele foi lá na CNTI, eles falaram: “Não, o Riani não pode atender por causa…”. “Não, eu quero ver o Riani”. [Responderam] “Não, ele está doente”. “Não, então agora é que eu vou ver ele”. Ele era meio nervoso mesmo, e fez questão de me visitar. Para você ver o azar meu, ou seja o que for, aí o tesoureiro não fala onde é que eu estou, mas leva um cheque lá de um milhão e quinhentos mil, e eu fui contar para (inaudível), e me condenaram a dois anos e mais um processo grande que eu tenho ele aí, sabe? O processo porque eu assinei o cheque. Falei: “Não, eu assinei, ué, eu sou o presidente, já (inaudível) o tempo que o senhor possa assinar”. Então aquele colega de São Paulo, me pede o ministro para dar o GTS, que eles arrumaram o trem lá para vir de graça, mas queriam fazer um dia de churrasco, como diz aí, um lanche para a turma que vinha. O ministro falou: “Perfeitamente, mas tem que passar pela comissão. Patrão, empregado, e governo”. Aí, mandou para lá, e a comissão aprovou. Aí chega na hora lá, então, o tesoureiro recebeu, porque eu não estava lá, e também o vice-presidente pediu, o rapaz não tinha o documento, quero dizer, o papel da federação dele, ficou à pedido de quem? A CNTI que pediu. Você já pensou agora? Ele é até diretor lá, mas não tinha nada com isso. Aí, resultado: Justamente nisso aí, deu para a CNTI, a CNTI, então, eles puseram no banco, quero dizer, depositou. Mas para tirar, para tirar saia quando presidente assinava ou o tesoureiro; e eu não estava lá, estava doente, né? Então, resultado, eles levaram lá, e eu assinei. Depois eles não tinham nada para me prender que eu estava sendo até solto aqui, e o processo correndo lá, e eles queriam que eu ficasse preso, então me condenaram lá à mais de dois anos, mas fui para Ilha Grande, para (inaudível), muitas coisas mais, a família sofreu. Fiquei lá também mais de ano. Depois você vai até achar interessante, depois quando eu saí de lá, o processo que eles me deram some, então some o processo, né? Eu sou, eu tinha bom comportamento, mas passei um aperto danado, que um chega perto de você assim, ó, chega, resolveram para lá: “O que que foi?”. “Não, não te conheço, não”. Pois é, mas decidiram lá que vai matar fulano de tal, e pronto, me apontaram. “Ah, não, esse aí…”. “Você que sabe, ou você mata ou você morre”. Comecei a ficar (inaudível), ficar lá, bom, tem um (line?) assim. Era a granja, não é granja, não. O nome de lá você não lembra, não, né?

Comissão: Da penitenciária?

Riani: É, essa lá de… (pausa) Agora mesmo a gente vai lembrar. Então que os presos tudo, iam tudo para lá, os perigosos, bandido e tudo. Então, resultado: Mas aí, assim, era justamente, eles já falavam: “É do inferno, é do diabo, né?”. Então, era aquilo lá que a gente foi lá, tinha mais de quinhentos ou setecentos, tudo desses troços, um negócio horrível, não tinha (inaudível), não tinha jeito de você passar. Pra você ver a gente (lembrar o nome?). Aí, resultado: tive que ir para lá. Então esse processo meu foi lá, mas eu não tinha… Para mim nem me embolou nada, que, graças a Deus, nós tudo lá, os sujeito era tudo bom, tudo honesto, né? Foi difícil porque eu sendo solto aqui, é, por causa do Exército que a gente (inaudível), capaz da gente falar quer a gente foi condenado, mas eu estou saindo um pouquinho daquilo que nós estávamos falando, me lembre aí, é do… Esqueci agora, é nós estávamos… Então, é o negócio dos marinheiros, houve aquilo, problema, negócio da Marinha, chamou o Doutor Jango pra resolver aquele problema lá, deu aquele “bafafá”… Então na hora que eu já estava na reunião dos companheiros lá eu resolvi dar uma telefonada pro Plácido porque ainda faltava elementos. Resultado: a hora que eu vou dar o telefone eu vi chegando dois investigadores da DOPS. E daquele tempo eu conhecia, porque ele usava chapéu marrom lá e costeleta. Pra mim, então, foi fácil. Então quando ele veio assim, eu saí de fininho e a hora que eu chego no elevador, o elevador não tocou. Eu acho que era quinto andar ou oitavo. Aí eu desci a escada. A hora que eu vou descendo assim, na virada da escada estava um sargento. “Boa tarde, sargento”, ele nem olhou pra mim, mas era da Polícia. Quando eu olho pra porta lá, a porta fechada, estava o Capitão… Estava um Cabo. “Dá licença, ó Cabo”, quando eu abri eu levei um susto: tinha cinco viaturas pra prender a gente, viu? E ele correu pra trazer o… Por isso que a minha nova graça não deu efeito, a gente ficou sabendo depois. Resultado: ali eu fiquei apavorado, mas aí eu tive sorte que por perto tinha táxi, justamente naquela rua tinha ponto de táxi. Eu fui pegar justamente o último, ele não quis ir pra região que eu queria ir… Eu peguei o outro, me levou normalmente, paguei até dobrado e parei lá onde tinha que parar, onde tinha muita gente, tinha um bar que podia telefonar. Telefonei pro meu colega Plácido pra que ele viesse urgente, porque eu estava sozinho e que precisava… “Mas o que é?”, falei “não posso falar”, falei “estamos em tal lugar, na rua tal, tal”. Então falei “até já comprei um chapéu aqui, é assim a casa”, pra dar diferença. Aí eu telefonei pro Palácio, o Doutor Jango estava ocupado no telefone, atendeu o Ministro do Trabalho. Aí o Ministro do Trabalho falou “o que foi aí?”, eu falei “prenderam nossa turma toda, eu não fui preso porque eu saí, você dá um jeito pra nós, que está todo mundo preso, a equipe nossa”. Aí acabou, eu não toquei mais no assunto, o Plácido chegou porque nós telefonamos e aí a gente voltou pra lá, mas já não tinha o movimento lá, sabe? Aí, resultado: ficou então, eu recebi um recado depois que a nossa reunião seria no outro dia, 31. Já da Revolução! Nós não estávamos sabendo disso lá. Aí quando nós chegamos lá pra reunir a barcada, eu ia presidir estava um alvoroço danado. O pessoal já me ligou, tinha sido preso, foi solto e aquilo foi mais gente chegando, então ficou deliberado que nós, então, íamos pra greve geral. Teve que decretar greve. Nisso que eles estão lá resolvendo, não foi eu, foi a Márcia, mas eu estava lá, eu sentei, eu também era secretário, secretário você já tem um… Aí o Jango telefona “ó, Riani, tenha paciência, não deixa negócio da greve não”, eu falei “Doutor Jango, você nem fala isso, porque se o povo não for pra rua acabou”. Isso está escrito em todo lugar que eu já falei sobre isso. Ele falou pra mim “não, Riani”, a mente dele “não, Riani, mas nós estamos precisando, está chegando aqui um negócio do navio da Petrobrás, descarregar aí”, eu falei “Doutor João, não se pode pensar nisso, porque agora está nessas condições”. Aí, “o pessoal queria armas, Doutor”. Armas? Eu não sabia nem mexer com arma, não tem condições. Então, não aceitamos. Resultado: no outro dia combinamos- o Riani vai ficar em tal lugar, outro em tal lugar – e eu fui e tentei sair ali e telefonei pra Minas pra comunicar Minas, aí estourou a greve. Aí, quem atendeu o telefone nem respondeu quem era, só atendeu. Tornei a tentar pra falar com Minas, não conseguia falar e, lamentavelmente, dois colegas presos, coitados, foi falar que eu que dei a ordem a eles, está lá no processo. A gente sabe que eu não falei nada disso. Quer dizer, não consegui… Quando eu liberasse que tinha a greve mesmo e nós ficamos separados no Itanhangá pra comunicar. Infelizmente, no outro dia, que dia 31 já foi pro dia primeiro eu não achei nenhum colega, só esse meu tesoureiro. Resultado: recebi um telefonema também lá do Doutor João Goulart que eu fosse lá depor pra falar lá na Rádio Mauá. E tinha que sair daí pra ir de carro lá. E, então, quem falou antes de mim como último orador foi o Marechal Lott, lá no Palácio, defendendo o Jango, aquele negócio todo ali, mas era dia primeiro. Agora, o Jango, no dia 30, o Chefe da Casa Militar dele, que eu acho que foi ele que fez todo esse trabalho, que ele falou que ia fazer uma equipe muito boa pro Doutor Jango quando ele assumiu e não fez nada. O Jango falou com ele “pó, cadê o que você arrumou?”. Não respondeu mais e ficou por isso mesmo. Então, esse arrumou uma reunião de mais ou menos dois mil sargentos do Exército com o Doutor Jango lá, dia 30 e acabou não tendo, o Jango foi lá, o Tancredo falou que ele não devia ir, ele foi assim mesmo, fez um grande discurso, que eu assisti da minha casa, mas não adiantou. Em vez de ser duzentos foi dois mil e pouco, então a desculpa dele foi só que os Comandantes não deixavam os sargentos saírem. Não é isso, ele vai sair pra uma greve não vai ficar com medo do Comandante. Então, houve esse negócio do Chefe, resolveu nesse momento lá. Eu fui pra Rádio Mauá, defendendo o Jango e todos antes de mim já tinham falado. Por isso que eu fui chamado, aí eu falei, falei tudo. Quando eu terminei de falar, o Ministro da Justiça queria falar comigo lá no telefone. Quando eu fui atender, tinha que subir uma escada, o rapaz falou “não, ele deixou um recado pro senhor, porque agora ele desceu porque tem um departamento militar lá que eles estão invadindo lá”. Aí não voltou porque eles foram lá pra invadir, invadiram e tomaram conta lá da organização do Exército. Eu fiz o meu discurso lá, fui o último orador. No que eu estou saindo, assim, chegou a Polícia e bloqueou a Rádio Nacional, mas antes disso eu queria te falar o seguinte: que também, no começo como eu estava falando, no dia 13, e eu não estava em condições, o meu colega Higino Côrtes, que era meu motorista lá foi lá e foi comigo me levar pra ficar… Quando eu estou lá, mais ou menos assim, às 6:30 um Coronel chega até mim “o senhor que é o Deputado Riani?”, eu falei “sim, senhor”. Eu estava quieto, não estava no meio de muita gente “ó, o Presidente quer falar com o senhor”. “Uai, mas já chegou?”, ele falou assim “não, me acompanhe por favor”. Acompanhei, aí chegou no palanque já estava o telefone. Aí perguntou “como é que está o negócio aí?”, eu falei “ih, Doutor, está um mar de beleza. Eu tenho mais de cem mil pessoas e, agora, no mar vem um pessoal da Petrobrás com as tochas acesas”, uma coisa linda. Primeira audiência urgente, uma reunião no Palácio. Aí o Higino estava comigo, motorista daqui, me levou lá e lá já tinha dado ordem, que ia me receber lá fora, que eu não falasse com ninguém…

Comissão: Esse é o comício do dia 13?

Riani: Dia 13, começando, o comício estava começando e eu como não tinha condições de ficar pra lá no assunto, porque o médico falou, eu dei pro meu secretário, que era comunista, comandar o comício “ó, está aqui, eu não sei se é sete ou mais de sete oradores”, e falei “aqui, tem um problema que o Brizola quer falar do Jango, o Arraes quer falar do Jango depois de todo mundo e o vice-governador também quer falar, que é do PTB”. Conseguimos a CONTAG, que é a Confederação da reforma agrária, agrícola, que os patrões não queriam que fosse legalizada, eu cheguei no Doutor “Doutor João, o Ministro está engavetando lá, como é que é isso e tal”, ele falou “não, não. Fala pro Ministro pra levar pra mim”. Quer dizer, eles estão amarrando, amarrando, eu mando gente lá porque eles já perderam o dinheiro de março do imposto sindical e ele lutando pra fazer a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura. Aí quando eu discuti quem ia falar, quem não vai, “eu não quero”, eu falei “eu não posso”, (inaudível) é da reforma agrária, da Confederação é UNIG, é nacional, “vai falar”, ficou. Aí ficou quatro pra falar do Jango. Vai escutando o que aconteceu, o que eu sofri. Aí, resultado, o Jango chega… Eu não tinha nada a ver, porque eu estava afastado, estava doente por causa do movimento… E o colega saindo na fotografia com eles, depois passaram a não ter a fotografia desse cara, do Pacheco. Só tinha da mulher do Jango e o Jango. Maria Tereza e ele, mas era os três, mas fizeram uma porção de onda lá e acabaram não pondo no jornal. Aí o Pacheco me chama “ó, Riani, eu estou querendo dar uma gravata no Brizola e jogar ele lá em baixo”. Eu falei “pois é, se fosse eu já tinha jogado”, que o Brizola demorou mais de vinte minutos. Ele não ajudou nada, foi em nada e os outros falando sete minutos ou menos, outro deixa de falar porque está correndo. Aí, resultado, quando eu chego lá perto do Jango, falo “olha, senhor Jango, tudo bem, só tem um problema aqui que está, assim, com quatro oradores que querem falar pelo senhor: esse, esse, esse…”. Rapaz, o “filha da mãe” do líder do PTB, que agora eu esqueci o nome “que é, rapaz, vai se meter nisso, que é?”. Aí eu “filha da puta”, botei a mão pra baixo, quem segurou meu braço foi a mulher do Jango. Eu ia meter a mão na cara do cara, é o líder do PTB. Aí seguraram, deu uma confusão lá, o Jango falou “não, Riani, pode ir embora”. Aí eu desci daquele alvoroço lá em cima e aí, resultado, ficou o líder, o Jango escolheu o líder dos trabalhadores. Estava certo, porque nós e o (inaudível) que fizemos o negócio e eu acabei não conhecendo essas pessoas. Botei tudo pra conseguir, mas era muita coisa em cima de mim, eu tinha que desmaiar mesmo. E acabou o comício lá, foi tudo correto, o discurso do Jango muito bom. Aí, resultado, isso foi na parte então do comício, eu apresentei tudo pra vocês como é que estava. E no dia 13, que se a (inaudível) já tinha resolvido, marinheiro lá, nós também resolvemos, fomos pra lá publicamente falamos, o Doutor Jango falou… Agora, eu perdi, você deixei eu falar um minuto aqui, se você quiser lê até pra mim, aqui, ó “viagem no exterior (inaudível). Genebra, Suíça, 04 de julho. Participação de 42… Sessão de Conferência Internacional do Trabalho como assessor técnico da delegação do governo brasileiro. Indicado pelas federações e nomeado pelo Presidente da República, Doutor Juscelino Kubitschek. (Inaudível) Estados Unidos, com a responsabilidade de chefiar a delegação de líderes sindicais por indicação da diretoria da Federação Nacional dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas (FNTIU). Na visita, às usinas locais de trabalho, organizações trabalhistas e administrativas por um período de três meses ”. Agora aqui “1961. Buenos Aires, abril de 1961. Escolhido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria e nomeado pelo Presidente da República Jânio Quadros. Delegado dos trabalhadores brasileiros junto a 7ª Conferência Internacional dos Estados Americanos da OIT. 1962, Estados Unidos e México, em abril de 1962. Participa da comitiva oficial do Presidente da República, João Goulart, a seu convite, em sua visita aos Estados Unidos e ao México. Nessa visita, almoça na Casa Branca com o Presidente John Kennedy, participa em Nova Iorque do jantar oferecido pelo comando (inaudível) e visita a Organização dos Estados Americanos. 1962, Genebra, Suíça, 25 de julho. Participação com delegação dos trabalhadores brasileiros a 40ª Conferência Internacional do Trabalho, representando as confederações dos trabalhadores e nomeado pelo Presidente da República, João Goulart. 1962, Bruxelas, Bélgica, assumi o mandato junto do sub-comitê da Confederação Internacional de Sindicatos Livres. 1962, Berlim, Alemanha, de 5 a 13 de julho, participação no 7º Congresso Internacional das Organizações de Sindicato”. Aqui eu vou fazer uma paradinha, presta atenção: o presidente da CNTI tinha direito do cargo lá, certo? Chego lá pra participar do 7º Congresso Mundial dos Trabalhadores, que era da Confederação. Bom, a hora que nós saímos de lá, fizeram a leitura da ata lá, me esperaram e tudo, de manhã pegaram a ata, eu tenho aí o livro e tudo, posso mostrar meu retrato de costas, porque no livro não constou que eu não fiquei. Aí está eu lá no negócio das bandeiras, as bandeiras de Berlim, da Alemanha, era o Congresso. Pra entrar pro Congresso um cara “Bbbbb”, “Brasil, sim”, aí ele falou lá eu não entendi nada. Aí um outro, em espanhol, ele está falando que o Doutor João Goulart está muito mal e que estava uma greve geral lá e que o Santiago Dantas foi o Primeiro-Ministro, estava com um problema lá, que é esse negócio de governo, umas coisas lá. O que eu fiz? Em vez de entrar pra ali, em bagagem, deixei a bagagem pra trás e fui pegar o avião pra ver o que estava acontecendo no Brasil e eu, como tinha levado seis colegas mais, só ia um deles, então resultado: foi três da diretoria e três do… Mas, como os três estavam pra Conselho, que estava reunido, quase uns duzentos delegados, eles chiaram e eu já sabia e comecei a rir com os meus diretores, que eu estava reunido. Aí eu pedi mais um. “Mas como mais um, eu já dei três, nunca foi ninguém”, eu falei “pois é, mas dá mais um, que a diretoria vai e eu também vou, não tem problema”. Mas sabe o que é? Vai dois pelegos e dois comunistas. Isso aí eu sabia das coisas, deixa ir, não tem problema, não ia atrapalhar nada. Resultado: os caras, nós resolvemos vir embora. Quando eu chego e telefono pro Hércules Correa, que era o líder da Guanabara “ó, Riani, está acontecendo isso, se for nomeado, estão falando aí, o Ministro de Obras Públicas que é compadre do Jango e presidente da Varig, a greve já está marcada, já está decidida. E também o Ministro do Trabalho, se for o Ministro do Trabalho que foi do Jango, é amigo do Jango, ficou no lugar do Jango, mas não correu bem aqui, então nós vamos pra greve também”. Eu falei “mas, como? Então, vamos pra Brasília, nós temos que ir pra Brasília apoiar o Jango”. Chegou lá “com quem nós vamos falar?”, “vamos falar com o Doutor Jango”. Agora, você vê que eu larguei isso tudo lá. Então, doutora, chego lá na Casa Militar, o secretário lá da Casa Militar falou “viemos aqui, agradeço o senhor nos receber, aconteceu isso e nós precisamos falar com o Doutor Jango”. Ele falou “o Jango não pode receber”, falei “está bem, o senhor vai nos desculpar, mas nós precisamos falar com ele, que só ele que pode decidir”. Ele falou “não, mas não tem condições”, eu falei “não tem condições? Vou falar pro senhor: eu cheguei da Europa, deixei isso lá, e cheguei aqui 6 horas, combinamos, tratamos aqui pra decidir, está os três líderes sindicais, quer dizer, o da Guanabara mais o da Confederação e eu. O senhor vai falar que não tem, o senhor vai ser responsável”. Ele deu um berro “responsável de que, porra?”, “de que? Greve geral vai ter porque o senhor não pode falar, o senhor não vai decidir e o problema é esse, esse e esse…”, “ah, eu também já falei com o Doutor Jango pra acabar com esse negócio de gente do PSD, tinha só do PTB, mas não tem nada com político”. Aí abaixou a cabeça e foi lá no Doutor Jango. Falou com o Jango e ele falou “não, manda o Riani entrar “, quando eu entrei eu fiquei até chateado, porque eu tinha despedido dois dias antes e ele não queria que eu fosse, porque podia precisar de mim e eu falei “não, Doutor, eu vou tomar posse lá”. Aí eu ia entrando, tinha aquele sorriso dele, um sorriso satisfatório assim, simpático “ó, Riani, ó, Riani! O Ranieri Mazzilli mandou me avisar que você é um elefante muito grande pra entrar na garganta do Congresso”, que ele estava querendo que eu fosse Ministro do Trabalho… Eu não sou bobo, não ia aceitar. “Ele falou isso comigo… E aquele também, lá de São Paulo, que não conversa comigo e é do partido falou que está mal comigo, mas que veio conversar comigo que você é perigoso…” e eu falei “Doutor Jango, eu vim aqui pra isso, .. Espera um bocadinho…” e cortei a conversa dele “mas está nessas condições, se o senhor não resolver é greve geral, mas é isso e isso…”. Ele falou “ó, Riani, então está muito bem”, mas ele não podia não ele estava num divã, estava sentado. E ele não podia ficar assim, nem deitado, ele não podia ir pra casa, nem pro hospital, tinha que ficar num lugar de reserva mesmo, por isso que não queria atender. E aí, resultado: ele falou “Riani, está aqui, em até quinze minutos eu te dou uma solução”. Eu falei “Doutor, muito obrigado”, então nem falamos mais esse negócio de Ministro ou não, porque eu não ia aceitar. Daí um bocadinho, em uns dez minutos mesmo, nós estávamos sentados numa sala, os três batendo papo, chega, vai passando um senhor lá com uma maletazinha, pasta. Daí a dez minutos ele voltou e falou “escuta, quem é o Deputado Riani, aí”. Eu falei “Deputado Riani sou eu, mas também o Deputado líder sindical do Rio, Deputado Duarte Correa e o companheiro da Confederação Ferroviária, etc”, ele falou assim “eu vou falar com vocês, eu estou acabando de assumir aqui como Primeiro-Ministro, meu nome é Brossard da Rocha, Francisco Brossard da Rocha, e vou agora convocar o PTB pra uma reunião na Câmara, porque lá que eu encontro todos, pra uma reunião amanhã às duas horas. Às três horas, eu recebo o PSD e às dezesseis horas eu recebo vocês, está bem?”. Uai, como é que eu vou falar que não está, rapaz? Nós estamos sendo igualados a turma, não é? Falei “não, perfeitamente”, agradecemos e tal. E aí, ficamos satisfeitos, eles comunicaram pro Rio, então não tem mais greve, por enquanto. Quando chegou justamente no outro dia, na hora marcada ele recebeu a e falou “estou à disposição de vocês, podem falar que o Doutor Jango falou pra ouvir vocês”. Eu falei “ó, quero esclarecer pro senhor que é isso que nós queremos, é que Ministro que vai entrar, previsto pra ser da Obras Públicas, ‘fulano de tal’, não aceita. Então a greve já está instalada”, falou “bom, então, acabou. Esse não será Ministro”, eu falei “o outro é o Ministro do Trabalho, amigo do Doutor Jango, aconteceu isso e isso, a turma toda da Guanabara não aceita e a greve também está decidida”. Ele falou, “então, esse também não será”, falou assim “mais alguma coisa?”, eu falei assim “não, senhor, está tudo resolvido, não tem problema”. Ele falou “bom, então eu posso fazer um pedido?”, eu falei “o senhor é o Ministro…”. Agora você vê: o Primeiro-Ministro recebeu nós, estávamos com cartaz, não é? Ele falou assim “vocês escolham um Ministro do Trabalho que for de confiança de vocês, será o meu também”. Olha, Primeiro-Ministro, rapaz! Falei “ó Ministro, está bem, nós agradecemos, mas se o senhor achar um Ministro de confiança do senhor, de confiança do Doutor João Goulart será de nossa confiança também”, que é pra ele saber que nós podíamos esta com ele, com o Ministro, com o Jango… Então não tem problema, que aí não teve greve, não teve Então, a nossa situação, como é que estava, assim, desse jeito, não é? E depois, então, nós, quer dizer… É bom que ficou esclarecido isso…

Comissão: É… Ó, Riani, agora…

Riani: Então, eu fui o último orador ali e outra: foi justamente interditada a Rádio Nacional, que a hora que eu estava saindo estava chegando a Polícia pra interditar. Eu nunca vi isso no jornal, não vi em lugar nenhum. E eu também esqueci agora, que foi até bom, porque na hora que eu cheguei lá no Doutor Jango, ele estava no quarto mudando a roupa, falou “ó, Riani, lê aí, está aí na minha cama”, eu fui ler, então estava a encampação das refinarias particulares de petróleo. E aquilo que foi mais porque já tinham prometido que matavam o Jango, que ia acontecer não sei o que com outros colegas, não comigo, que ia acontecer. Então, essa aí ele me pediu. Ele falou “não, Riani, é porque eu tinha combinado com o Marechal Alzino, que tinha combinado com o Presidente da Petrobrás que era pra ele fazer a leitura, mas aí falaram que não convém e eu tirei. Aí mandei te chamar porque você lê isso lá porque eu vou fazer, eu vou decretar”. E ele decretou. E, nisso, os decretos todos que nós pedimos eu posso ler um pouco aqui, que eu escrevo lá. Mas eu acho que eu posso até passar, mas é na leitura das viagens, aqui… Getúlio Vargas, essas coisas… Então, nós temos aqui essa parte, espera um minutinho só que eu vou te dar aqui (barulho de livro sendo folheado). Pior que é isso, que você procura e não acha… “Dia 18, faleceu em 6 de dezembro de 1976, Jango caiu pelas suas virtudes, não pelos seus defeitos. Quando caiu, contava com 76% de opinião pública a seu favor”. Interessante, não é? E aqui, ó, “bacharel em Direito, Secretário do Interior de Justiça do Rio Grande do Sul, presidente do PTB do Rio Grande do Sul, Deputado Estadual, Deputado Federal, Presidente do PTB nacional, Ministro do Trabalho, Vice-Presidente da República, reeleito, deposto em 2 de abril de 1964 por uma Revolução Militar e um malfadado Congresso”, que foi dia dois que caçaram ele, de abril. Programa de Jango aqui, ó “democratização do uso da terra, voto de analfabetos, disciplina de aluguéis, bases justas para salário mínimo, reformas de base (administrativas, bancária, fiscal e agrária) e Estatuto do Trabalhador Rural”. Tudo isso nós conseguimos, sabe? Tudo isso! Nós estávamos falando. Resultado… Juiz de Fora é uma outra complexidade…

Comissão: Aí, foi por causa desses decretos que ele baixou e aí desencadeou o Golpe?

Riani: Agora, vocês vêem, então, que foi num discurso do Jango que já estava todo mundo sabendo que dia 13, então, deu isso… Foi ele dar isso aí, aquilo que eu falei, Adhemar de Barros já sai com uma passeata e aí o pessoal já começa a… Mas, então, eu fui pra UNE. Chegando lá na UNE foi um problema muito sério, porque já tinham invadido, e o povo, já era uma hora da tarde mais ou menos, já estava cantando a vitória. O meu carro ficou até na fila deles e até pra sair ficou difícil, porque a fila com lenço branco e buzina. E o meu carro ali, sem poder sair e eles achando ruim “a buzina! Ao lenço branco!”, e eu não podia falar nada. Aí saímos fora, aí então saí pro interior e arrumei lá, tinha um… Fui pra dentro de um sobrinho, que foi afilhado também, que casou, fui pra casa dele, ficou comigo e o tesoureiro. Aí fiquei lá pra ver e quando eu fui com os advogados, então, vários colegas estavam pra ir, estava difícil… Muita gente queria ir embora, então acharam que eu devia de ir, eu falei “de jeito nenhum! Não aceito, não vou, não tem nada errado comigo, eu vou enfrentar”. Nisso eu recebi uma carta da minha esposa no dia 3 de abril, que a gente foi levar aquele… Você deve conhecer, aquele… Que tem uma casa na cidade aqui, na Antônio Peixoto, o Halfeld, acho que é Pedro Halfeld. Ele foi, ele é meu amigo mesmo. Ele foi levar o meu cunhado pra levar a carta. Eu escrevi lá, respondi a carta e não li. Então eu ainda esperei mais, dia 4. Então quando foi, justamente, no dia 4, vim dirigindo com o meu motorista. Mas aí, do Rio até aqui em Minas era soldado pra tudo, porque acabou que uma turma do Rio aderiu. A outra também do estado do Rio acabou aderindo porque não tinha jeito. E por isso ninguém foi cercar ninguém, porque não teve jeito e acabou… Eu cheguei… E agora eu posso citar o meu caso. Vê se ficou alguma coisa…

Comissão: Aí você conseguiu chegar a Juiz de Fora?

Riani: É, justamente. Cheguei em Juiz de Fora fui diretinho pra minha casa. Chegou lá minha esposa assustou, falou “ah, você já veio? Eles estão procurando aqui. É do Exército, depois fala que é da PM, é da Polícia Civil. O dia inteiro aqui em cima”. Aí o meu filho acordou, veio. Isso devia ser umas quatro, cinco horas da manhã. Aí ele falou “ó pai, inclusive veio um oficial aqui e falou que se quiser é só procurar ele que ele vai buscar onde é que o senhor está, vai buscar pra não acontecer coisas piores”. Então, em casa, assim, eu falei “então você acorda as crianças aí que eu vou dar a benção pra eles e vou lá me apresentar”, “você vai lá?”, falei “vou me apresentar no quartel. Eu não tenho nada errado, eu acho, assim…”. Quando eu vou chegando no quartel com meu filho, que esse aí eu quero que você tome nota o nome dele, o endereço pra ver se ele quer depor, que eles deram pescoção, não sei o que fizeram com ele, ele nunca falou comigo. Ele guarda o dele, eu guardo o meu. Se precisar a gente fala. Então, eu não sei de nada concreto. Quando eu vou chegando pra entrar ali no museu, na 4ª Região Militar, bate o sino da Glória. O sino da Glória bateu, que era a missa das cinco, eu lembrei do meu pai, que me levou à Igreja de vez em quando e até um dia… Eu vou contar, que eu nunca contei essa pra ninguém, então meu pai… Assistimos a missa, então vai o padre pro púlpito, aí o padre começa a falar negócio de comunismo pra mim, sei lá o que é comunismo, estava com dez anos, dez anos! Aí o papai falou “vamos embora!”, aí nós saímos. Quando ele pôs o primeiro pé fora da Igreja falou “não é possível! Não pode nem ir na Igreja mais, que esse negócio de comunismo!”. Aí que eu fiquei vendo a primeira palavra de comunismo, mas nunca liguei pra isso e nem fiquei sabendo de nada. Mas eu ouvi isso lá do padre. Bateu o sino eu lembrei do meu pai quando ia na missa e falei “vou lá na missa rezar de uma vez e fui. Só depois de muito tempo eu arrependi porque diz que o padre lá no púlpito meteu o pau. Eu falei “ah, eu ia pedir um aparte a ele” (risos). Mas acabou, resultado, assisti ali, rezei e falei “vamos embora”. Eu e meu filho, meu filho dirigindo. Chegando no quartel, o sentinela, pedi pra chamar o sargento, ele chamou. O sargento falou “o que é que o senhor deseja?”. Eu falei “não, eles estão me procurando, eu queria vir me apresentar”, ele falou “quem é o senhor?”, eu falei “sou Clodesmith Riani”, “o senhor é o Riani?”… Ai fomos no estribo do Chevrolet 40, o espaço era pequeno. Ele foi lá me deixou na subida da… Tem um degrau, mas deixou em baixo. Aí veio o Coronel, cumprimentou e falou “ó, Riani”, mas nem deu a mão nem nada, não falou bom dia, falou “ó Riani, foi muito bom você comparecer porque aí você pode colaborar conosco”. Falei “Coronel, não tem colaboração melhor que a minha presença. Agora… Depende da colaboração!”. Ele falou “não, Riani, uma coisa simples: uma cartinha falando que João Goulart e Brizola é comunista”, eu falei “você vai desculpar, Coronel, mas você sabe disso: nenhum dos dois são comunistas. Aí eu não posso assinar!”, “Ah, está bem!”. Aí eu fui embora, aí de repente vem lá o pessoal, me pega lá e vai pro dormitório deles, ali em baixo… Tem um nome que a gente fala… Lugar deles ficarem… Então foi lá e aí chamaram… Já tinham uns colegas lá presos no Rio, e aí chamaram um lá que era presidente do Sindicato da Fiação (inaudível), que era vereador nosso, aí ficou assim “aí, você é metido a que, quer namorar ele, dá um beijo nele…”. Bom, ficou nisso, não me encostaram a mão, mas depois puseram um soldado que veio já uniformizado, mais ou menos oito ou dez por aí assim que eu vi assim que eu vi a fila. Aí eles cantaram então que eu ajeitasse as pernas. As minhas pernas estavam abertas, então com aqueles coturnos eles chutavam as minhas pernas pra cair do outro lado. E aí que arrebentou meus tornozelos, arrebentou tudo. E, depois, não sei se alguém viu ou falou e aí me tiraram, mas só pode ter sido o Tenente ou Capitão, que eram os dois que estavam lá, comandando. Aí me deram soco nos rins, aí você grita “uh!”, de repente. Aí acabou, me levaram, mas aí me levaram pra tirar fotografia, sabe?Agora, quer ver aqui a foto? (folheia algumas páginas). Aí eles chegaram, me levaram pra fora pra tirar fotografia, o jornal publicou que me prenderam. Então, eu fiquei preso lá, no Quartel General. Depois de lá, eles mandaram que eu viesse aqui no DOPS abrir o meu processo no DOPS com outros também, o Pinheiro, estava outros mais que eu não vi porque estava fora, o Jair… Aí, resultado, então mandaram a gente no mesmo dia pra Belo Horizonte. E até foi um absurdo desse, porque na hora que eu estava lá, então chegou um outro Coronel lá e estavam os quatro Coronéis, não… Estava os quatro… Tenente-Coronel, como é que chama… Major! Estavam os quatro Majores… Não, tinha um Coronel… Ah, estavam lá os elementos!Foi eu e ele chegou o Coronel falou assim “ó, eu quero saber o que está acontecendo com isso?”, “não, está acontecendo nada não, o Riani está bem…”, eu falei “não senhor, o senhor vai desculpar, o senhor dá licença”, aí eu mostrei “vou arregaçar aqui pro senhor vê que está cheio de sangue, olha como é que está”. Ele ainda falou “esse é o maior absurdo! Não se pode fazer isso com ninguém, o Exército é uma instituição de respeito”, Bom, pelo menos falou isso lá e tinha um mais violento lá falou que “não, não” e ele falou que não queria saber disso. Bom, estava na hora do almoço, então vamos almoçar e tudo, e eu falei “não vou almoçar, não”, ele falou “você tem que ir”, eu falei “tem que ir não, eu não quero”. Aí o cara lá achou ruim comigo, eu falei “o senhor vai me desculpar, mas o senhor tem que saber lidar com…”, “não, sabe quem é você…”. Aí me tiraram de lá, dois Majores me falaram “ó, Riani, você não quer almoçar mesmo não?”, eu falei “eu não quero! Você vai me desculpar, a comida é boa, mas macarrão… Eu viajei, mas isso pra mim é pesado, feijão tropeiro… Viagem, não estou sentindo bem… Então não dá…”. Ele falou “você quer, pode pedir na sua casa”, eu falei “pode, Major?”, ele “pode”. Aí eu telefonei pra esposa aí ela falou “pode?”, eu falei “pode, minha filha, mas não se aborrece não que eu vou ter que ser registrado ainda em Belo Horizonte, nós todos daqui vamos todos pra lá, não se preocupa não”. Ela mandou, mas no final eles não deixaram eu comer foi nada e os meninos até hoje não falaram se eles comeram a comida. Chegou na ponte lá em Santa Terezinha eles falaram “vamos jogar isso fora” e tal, pregar mentira na mãe… Eu também não almocei e também não sei o que eles arrumaram, porque eu não perguntei até hoje. Então, acabou que eu fui pra Belo Horizonte. Quando chegou em Lafaiete, parou, mas aí eu fui de jipão e há coisas interessantes na viagem. Fomos nojipão, mas um fuzil aqui, outro aqui e ali, então tinha quatro, mas tinha quase cinco ou seis pra evitar de fugir lá os colegas. Aí, resultado, passou de Lafaiete, Lafaiete é pra fazer xixi. Eu fui o único que não saí, eu falei não vou sair porque chega lá eles pegam e me dão um tiro e fala que eu quis fugir. Aí distribuíram o sanduíche deles lá… A boia deles… Eu esqueci o nome agora… A merenda deles lá, estava viajando. Mas é, rapaz, teve um soldado lá largou um fuzil, partiu no meio e me deu um pedaço, eu falei “não, muito obrigado, você não vai ter mais comida”, ele “não, eu faço questão e tudo”. Então me saiu lágrimas nos olhos de ver o sentimento de um soldado fazer isso comigo e precisando comer porque ele não sabe que hora… Então aconteceu isso… Então, fomos embora, não teve mais problema nenhum, chegamos lá, despejou nós lá no DOPS. Aí foi uma coisa horrível, porque lá os caras lá do coisa só davam pescoção na cara do que chegava… Aí nós entramos numa fila, o Ladau (imprecisão) entrou na minha frente, ele era vice-presidente do PTB e magrelo, meio adoentado, ele tinha uma doença… Epilético, magrinho… Eles foram e tiraram a roupa tudo “mas até a cueca?”, “a cueca também, rapaz”, quase que batia na gente, aí ele teve que tirar. Aí ele ficou de meia, “de meia, rapaz? Tira essa meia!”, gritavam tudo assim, mas não chegaram a dar soco não. Aí eu cheguei mais perto também, não sou bobo, tirei tudo… E de repente, nós estamos entrando pra um lugar lá, puseram nós num salão, aí chega um polícia e diz assim “ó, você é da esquerda, o que você é?”, “eu sou vereador do PTB”, pá pá (imitando uma agressão). Aí quase mataram o rapaz de pescoção e chute, só você vendo. Aí botou nós pra um lugar lá, não tinha cama, não tinha nada e ficava assim, geralmente, um (inaudível) no chão, assim, mas não tinha jeito de você deitar, nem sentar, nem agachar porque depois você não levantava. Eu vi um cara lá pelejando pra tirar um maço de cigarro, mas não conseguia, de tanta gente que chegou. Acabou, mandou nós lá pra um negócio da Polícia Militar lá, um local lá que eu não sei de onde, um batalhãozinho… Aí gostamos muito do sargento lá, pena que não pude estar nunca mais com ele. Ele falou “primeiro vocês vão todos sair das celas aí, vão pra cá, falou “ó, aqui eu não tenho segurança pra vocês, vocês tem que se defender. Vocês vão ficar na cela porque tem que ficar pra não ficar lá fora. Vocês tem que ter alimentação, sanduíche…”. Quando foi de manhã, ele abriu todas as celas e falou “ó, estou abrindo aí”, quando chegou estava eu preso como deputado, o Naminha (imprecisão) que era deputado comigo e o Dazinho, de Nova Lima, muito católico, pessoal de Igreja ajudou ele… Mas eu achei esses dois muito tristes e eu estava mais velho, mas apavorado também… Eu achei o Naminha quieto, o Dazinho também. Eu falei “ó, Dazinho, eu estou vendo você muito triste”, aí saiu umas lágrimas, ele falou “ó, rapaz, mas logo agora que eu comprei um radinho a prestação pros meus filhos?”. Agora você vê: nove filhos, deputado, comprou um radiozinho… Eu falei “não, Dazinho, vamos ver como é que vai ficar isso aí”. Aí o homem chega lá, abre a nossa cela também, o Sargento Pedro “ó, vocês podem sair porque tem uma turma que está fazendo uma bagunça danada lá em Belo Horizonte e vem pegar, comer vocês tudo aí. E eu não tenho segurança, então vocês vão pra fora aí pra se defender, aí faz o que puder”. Aí oLadau (imprecisão), não sei o espírito dele, falou “opa, dá pra nós!”, até começou a dançar “dá pra nós!”. Aí felizmente dali um bocadinho ele comunica “ó, vou recolher vocês porque o governo comunicou de que o governo foi obrigado a prender todos que está lá com molecagem, arrebentando barra e tudo, está esculhambando tudo lá a passeata deles. Então estão todos presos lá, vocês podem ficar tranquilos”. E aí, após, a gente ficou. Não teve dúvida nenhuma, nós fomos transferidos pra outros lugares, pra fazer depoimento, essas coisas. Então, na hora de chegarmos nesse ponto que a gente, mais dia ou menos dia, a gente não sabe e a minha família conseguiu uma visita lá. Eles foram, até o meu filho mais velho que viu eu com as calças meio suspensas e os machucados… Ele estava sentado, novo… Então ele fica chateado com isso. O mais velho, o filho mais velho… E minha esposa levou os filhos lá, eu não sei quem arrumou a visita. Aí visitaram, ficaram chateados, porque eu estava meio abatido, mas ficou ali só. Aí chegou um dia, ninguém nos aborreceu, mas como não tinha lugar de se deitar direito, eu resolvi pedir uma comunicação com o Delegado do DOPS, Doutor Bandeira. Ele foi e me recebeu “Doutor Bandeira, estou aí por causa dessas condições, tem aquilo, tem isso…”, que ele foi Delegado em Juiz de Fora. Ele falou “você fica tranquilo que eu vou mandar uma cama pra você”, eu falei “você vai me desculpar (lágrimas nos meus olhos), eu queria pra todo mundo assim também a mesma coisa”, não tem jeito, mas tinha que reclamar pra ver como é que está se passando lá porque o homem não estava sabendo: é porrete, é isso, é aquilo, o negócio está feio… Depois até eu posso mostrar pra vocês é os atestados que eu pedi em todo lugar que eu fiquei… Então eu soube que a dona Norma pediu uma audiência ao Mourão Filho, a minha esposa. Ela pediu e ele então cedeu, mas diz que o Coronel falou com ela “é só cinco minutos porque aí é problema, telefone (inaudível), confusão aí…”. Aí ela falou com ele, ele falou “não, dona Norma, a senhora pode ficar tranquila que eu já estou sabendo que eles mandaram ele pra lá”, falou “não, o Riani então amanhã está aí de volta”. Ela falou “mas não é o Riani não, as mulheres dos colegas dele estão lá em casa pedindo, todos chorando. É mãe, é isso, esposa…”. “Uai, eu não estou sabendo, então pode deixar que amanhã eu vou ver pra senhora de manhã…”, de fato trouxe nós todos pra cá, mas lá a gente teve que fazer um depoimento lá no Exército. Então, no Exército, chegou um Major lá, nós estávamos presos, mas em cela separada, estava nós três. Estava o Dazinho, o Naminha e eu, deputados. (Explica a localização das celas), você fazendo um esforço aqui, você vê a saída, mas daqui não. Aí de repente bateram muito nele até arrebentar os tímpanos do ouvido dele, que ele saiu gritando muito e eles ‘pá, pá’, eu não estava vendo nada. Aí ele saiu eu vi o sangue. Daqui pra cá eu olhei, estava ele ensanguentado. Aí pega o outro também, espancaram também o Dazinho, menos que o outro. Pai de nove filhos, o outro tinha dois. Aí na hora o Major me soltou e quando foi soltando o cara falou forte “esse aí é o Riani?”, (inaudível) “botamos lá na barca lá e no mar some, ninguém sabe de nada” ou então manda ele lá pra São Paulo, porque São Paulo o governador lá… Helicóptero, põe lá, na mata, cai lá, ninguém vai achar”. E estão conversando fiado e gritando, mas não me esbarrou também não, mas aí o Major foi me levando. Aí chegou numa espécie de mesa que estava lá, uma coisa qualquer, ele falou “ó, Riani, agora vou te falar o seguinte: essa revolução era pra começar dia 15, que você fez lá pra defender o Brizola porque ele não falou lá em Belo Horizonte”, que lá arrebentaram, até machucaram a mulher do Brizola, entrou as mulheres do Exército, aquele negócio, confusão, que o Magalhães não pode dar garantia. Cavalaria e tudo, machucou muita gente. Então eu parei e comuniquei com o Brizola “você queria a gente fazia o comício dia 5” pra defender ele, pra ele falar a vontade, ele aceitou, mas até hoje eu não vi. Eu vi ele depois, mas então ele não apareceu e nem comunicou, porque o negócio estava feio… Nós fizemos dia 15, nós fizemos no dia 13, no dia 15 e eu tinha oferecido ele… E então no dia 15 (inaudível) o padre Wilson Vale da Costa, então a Getúlio Vargas ficou cheia ali, a Floriano Peixoto até o Riachuelo, aí íamos fazer um ciclo operário… Aí, resultado, falei com o Brizola… Aí como o Arraes esteve no comício lá e o Brizola, então o Arraes falou que vinha no meu comício dia 15. Mas com o problema que houve com o Brizola daquele negócio que a gente já sabia, mas acabou, quando eu telefonei pra ele, no domingo, ele falou “eu não vou não, porque Arraes…”,“isso não, (inaudível)eu vou convocar para um debate público à respeito da posição dos senhores”. Ele falou “não, Riani…”, eu falei “não, o carro já foi buscar o senhor” e desliguei. Aí acabou, ele veio. Mas quando ele veio, eu fiquei sabendo no dia 13… Dia 13 não, dia 15 aqui, então dia 14 no PTB ajeitando isso e aquilo, como é que nós vamos fazer, porque foi muito curto o prazo… Mas aí, resultado, chega um estudante lá… Isso é pra vocês verem o que é a história do mundo. Chega um estudante lá e fala “eu queria conversar com uma pessoa aí, representante”, eu falei “representante de que, sindicato?”, aí “não, porque o meu pai lá, eu não quero falar contra o meu pai não, mas chegou dois senhores lá e falou com ele ‘tá arrumado o negócio’, que amanhã então vai descer três carros cedo pra vir atrás do Arraes e vai três pra ali não deixar passar, fica preso no lugar, não vai bater, não vai matar”. Olha, a responsabilidade é grande, então eu fiquei pra buscar o Arraes. Aí fui, quando chegou lá na divisa do estado do Rio conosco tinha uma venda lá, paramos um pouco, tinha uma venda lá. Quando chegamos em Matias Barbosa estava uma chuva muito forte, mas aí eu telefonei pro Delegado e falei “ó, delegado, aconteceu isso vamos pedir um auxílio do senhor, porque o Governador do estado prometeu dar segurança e o Presidente da república também deu e eu fui chamado pelo Mourão Filho. Ele falou comigo que era problema da Polícia, mas que ia ficar na (inaudível) com uma turma boa, se fosse preciso. E o Coronel me chamou, mas agora aconteceu isso, que o Arraes está em perigo”. Ele falou “não, vou te mandar uma jipe aí com três metralhadoras e não tem problema que é só gente correta. Eles vão te ouvir só e pronto”. Eu falei “é, eu não quero conversa com ninguém”. Aí acabou, falei “então para na saída da floresta, me espera aí duas horas e depois vocês vão atrás de mim e acabou”. E quando chegou lá pegamos o Arraes, que não teve problema nenhum, ele veio no carro dele com uma irmã dele, então a Polícia ficou… “Então, vocês tem que olhar só é o Governador, não é eu não!”. Depois foi mais uma caminhonete da Polícia… Da Polícia não, aqueles alto-falantes que fazia puxando uma carreata e foi, veio puxando. Quando chegou Matias, chovendo muito, eu pensei “como é que eu vou fazer pra chegar lá?”. Aí eu fui e falei pra Polícia “vocês não podem deixar de seguir o carro do Governador, que vocês vieram pra isso, não é pra mim não!”. Aí falei com a outra caminhonete que vinha puxando com alto-falante a turma. (Inaudível) Aí quando chegou bem longe, aí eu deixei o carro do Arraes chegar, peguei o Arraes e botei pro meu carro, até estava comigo um ‘crioulo’ que atéveio de Belo Horizonte, botei ele no carro do Arraes, que estava a irmã dele… A irmã dele não… A irmã dele também ficou conosco. Aí, resultado, aí fomos normalmente e fomos embora. Aí o jipe da Polícia indo atrás do carro dele, mas ele não estava lá comigo. Quando chegou ali na… “Como é que eu vou fazer o negócio? Não sei como!”, quando chegou ali na rua Espírito Santo, que você tem que entrar a Getúlio Vargas ali, você tem que entrar à direita. Eu fui pela Espírito Santo toda vida, passei a Rio Branco, passei na igreja lá, Catedral, fui na casa do Nicolau Scherer, que era gente nossa e telefonei pro colega que eu tinha posto lá pra… Eu falei “ó, (inaudível), você não sai nem pra mijar do lado do telefone, que qualquer problema eu te telefono”. Aí eu telefonei pro (inaudível) falei “ó, já chegamos aqui, não tem problema nenhum e você manda a Polícia pra cá pra gente levar ele”. Ah, rapaz, passei um aperto, chega lá, bate, bate, e me chama lá, eu estou pensando que era a turma, que aí já tinha me avisado que, desde a Floriano Peixoto até o Riachuelo aí estava cheio de gente criando problema. Aí, resultado, chega lá um Deputado Federal do PTB, Alaíde não sei de que, Federal e o padre lá de Belo Horizonte, que era suplente de Deputado Federal. Falei “ó, o Capitão não quis deixar, nós viemos reclamar…” (inaudível) e pronto e acabou, foram embora. (Inaudível) Aí eu coloquei o pessoal no carro e fiquei com o meu pra ir atrás deles. Só que aconteceu que, quandoos padres chegaram, o Capitão foi e não deixou eles entrarem, o comandante da turma ali. Aí o padre falou assim “não, mas tem que entrar esses meninos também, que eu vim com eles de Belo Horizonte. Ó, se eles já fizeram errado em Belo Horizonte (inaudível)”. Alguém falou assim “não, não pode entrar!”. O padre, rapaz, deu um tapa na cara do Capitão. O Capitão caiu pra lá, aí a turma da Polícia passou rasteira no padre, o padre cai, eles chutam o padre lá, dá aquela confusão. Mas eu já chego, já chego a polícia chegando com eu atrás. Agora, o pior não é isso não. O rapaz que eu levei, que era um negro, gente boa, minha, a hora que ele chegou no cinema, no Cine, aí saiu um foguetório, saiu tudo quanto era fogos. Aí eu saí apresentando o Governador, os Ministros… três Secretários de estado. Aí foi lá não tinha armas, tinha o crioulo, acabaram com tudo… E os meus colegas que ficavam lá, até um irmão meu foi preso porque pegaram lá, porque sabiam que era da gente… Eu não estou sabendo de nada. Mas aí o Chico chegou lá, o irmão do (inaudível), até esqueci o apelido dele*.“Uma hora eu vou passar a polícia lá na porta, fiscalizar um por um e ‘pápápá’”. Mas ele meio assim nesse termo, vai pra lá vai pra cá, como quem diz “eu que sou o coronel”, vi a equipe dele lá. Aí a gente estava lá e eu falei “coronel você está muito errado”, ele falou “errado como?” E alterou. Porque tá errado o seguinte eu também não sou bobo não, ô meu colega vamos ficar lá dentro não é isso. Porque lá fora ele pode querer perturbar, mas lamento muito ter que apagar uma hora, eles vão almoçar e entrar lá pra dentro a nossa turma toda. Vai encher lá, vai encher. Aí o lá de trás, quase cinco horas sentado lá fora vai pegar … (inaudível) um por um. E vou falar mais uma coisa pro senhor, se o pessoal do contra quiser ir lá dentro e querer vaiar a nossa turma eu deixo , não tem problema não, porque tem que bater palma e vaiar, mas se for o que a gente tá falando, porque se for fazer anarquia aí o pau come, aí eu não tenho receio, falei isso com o coronel. E fui no Mourão que me chamou pra chegar e pra ir lá. Falei “oh Mourão, eu vou te dar toda assistência aí porque é normal, mas isso não somos nós, é a polícia, mas vou ficar de plantão pra te dar ajuda e tal.” Aí ficou assim, aí nós fizemos o horário, felizmente correu tudo bem, não teve problema nenhum e nós comunicamos pro Jango por telefone mesmo, por telefone não, pelo rádio, né, que estava tudo bem. Agora ao invés de nós sairmos, eu falei que ia pra Belo Horizonte eu falei que nós íamos pro Rio de Janeiro, comunicando ao Jango que correu tudo bem e “pá e pá”. (inaudível)… Peguei a Rio Branco e entreguei o pessoal de Belo Horizonte lá pro Jockey Club.

Comissão: Esse soldado, o Major,falou que o golpe era pra ser dado nesse dia 15, né?

Riani: É por aí…

Comissão: Quando vocês voltaram, aí vocês saíram de Belo Horizonte e vieram pra Juiz de Fora por interferência do Mourão.

Riani: Por interferência do Mourão por que não tinha que responder, porque a justiça é aqui. De Belo Horizonte a justiça era aqui, por quartel da região. Mas então a gente veio para cá. Mas nesse dia então lá levou ele para lá, não teve problema nenhum, né e tudo. Mas então nós viemos pra cá e aí é o mais difícil. O que acontece, a justiça militar nos deu, eu fui condenado 17 anos e um amigo, que falou que era comunista, era mais novo, foi a vinte anos. E o Dazinho foi condenado a dez anos. Aí pra firmar o recurso então vai discutindo e tal e tal, aí fui cair no Superior Tribunal Militar que é mais os generais que tem né. E lá terminei de contar as coisas, mas ficou decidido, tiraram dez ficaram sete anos, dos sete anos nós recorremos também, sete anos foi pro Supremo Tribunal Federal e com isso o tempo tá andando né e a gente preso pra lá e pra cá, aí tá correndo. Aí quando fui, chegou lá, eles examinaram bem lá. O parecer então foi de que ele daria apenas um ano e dois meses. Que o Riani pode ter feito isso e aquilo, mas dado as autoridades que dá o comportamento dele, então ele merece, eu dou um ano e dois meses. Então eu tive, o primeiro foi o coronel da polícia que eu fiquei preso lá uns dois anos lá, tipo assim umas coisas chatas e tudo, mas não é nada de perseguir não.

Comissão: Onde foi o local que o senhor ficou preso?

Riani: 2º BI. Fiquei preso lá né, porque quando eu vim, uns foi pra aqui outros pra ali e eu fui pro quartel da polícia, fiquei uns dois anos por aí mais ou menos então não tem queixa de pessoal disso não, mas tinha distrato ruim do problema do xadrez que era pra soldado de fogo ou disso ou daquilo, né, um do lado outro do outro, mas ficou ali na polícia né. Aí na polícia as vezes ia pro Rio e aquela confusão e tudo, fui transferido lá pro Rio.

Comissão: O senhor teve preso em Ilha Grande?

Riani: Teve. Ilha Grande nós estávamos falando que era ilha do Inferno, Ilha do Diabo, né.

Comissão: O senhor ficou quanto tempo lá em Ilha Grande?

Riani: Mais ou menos um ano, um ano e pouco, mas é uma barbaridade, mas acabou se você ver aí, eu vou deixar pra você levar aí a, como é que eu saí de lá, o elemento que divide os outros me acompanhar, um elemento bom sabe, tá escrito ali e na saída pra você ter uma ideia até os presos lá me pôs a sair de lá com o diretor do centro cultural dos presos, tá aí. Quer dizer então comigo eles não podia, né. Então eu sofri muito e essas coisas, a família pra ir lá não tinha dinheiro rapaz, é longe, bateu no ponto de me ver, pra levar criança não podia. Minha família foi lá um dia lá, bobeou lá minhas filhas, que até hoje eu falo que não conversam essas coisas porque não quer. Mas aí, deixou anel, deixou dinheiro, deixou não sei o que, relógio, coisas que custavam mais dinheiro foi embora, porque eles roubaram tudo. Você dava ou eles iam lá e tirava. Era assim, o pessoal era terrível. Mas pensou que eu tinha trinta anos, tinha duzentos anos de corpo, mas tudo não eram eles que tinham não, eu conversei com eles tudo, é que, olha aqui, pega minhas medalhas tudo aí, tá vendo, oh, tá vendo, pega aí, acabou. Aí chega na hora eles te põe a culpa em você lá, que foi você que pegou, que foi lá pra fulano, mas os policiais mesmo que consumiu com aquilo. Então aí você chegatomei quarenta anos por causa disso, o outro não é que eu tomei um tiro que se não apanhando muito. Igual esses colegas meu que vocês vão ver aqui nos documentos. Tem dois colegas. Tem um ali que eu fiquei chateado porque ontem que eu li, porque eu estava procurando papeis, eu fique até duas três horas da manhã aqui, eu estou esgotado por causa disso. Um rapaz …do bancário, que era deputado, sargento, sabe, presidente do Sindicato, então falou que o Jango, foi contra o Jango, que ele foi comigo lá no Magalhães Pinto, eu nem fui lá, pois eu não podia sair de lá, que eu fui lá, que a reunião foi assim e tal, deu tudo e li dessa história do bancário e infelizmente depois ainda foi reeleito, eu fui ele já nem, pô, onde é que o bancário estava com a cabeça, ele não viu os depoimentos dele tudo contra o Jango e nós três que fomos condenados. *A comissão da verdade já veio um pouco tarde por isso, né. Gente que sofreu , continua sofrendo famílias até hoje e uns foi até a parte de discutir os problemas lá, de reclamar sobre isso, de querer também a indenização sobre isso, muitos conseguiram, até o próprio presidente Lula, entendeu. Eu também recebi a minha parte pelo processo, não tenho aqui porque não sei onde está, se precisar nós vamos procurar, está certo? Por fim também eu fui caçado em Minas Gerais, os deputados comigo lá ter coragem de fazer, me caçar o mandato por causa disso eu e o colega “Naminha”, mas o outro. Todos os três fomos caçados lá, né. Então mais tarde eles tiveram que recorrer e voltar que nós fomos até o Itamar. O Itamar era o governador, então nos fomos também recuperamos essa parte também. Mas o sofrimento que tinha na família e na gente era muito grande, né. Então eu acho que isso ai agora, o negócio da verdade, apesar de ser longo, mas tem muita gente, que até tem gente de Juiz de Fora que envolveu com a comissão, que tem gente que não recebeu a indenização. Imagina aqui um colega dos bons aqui que foi muito bom lá pro Rio, que presidente da Federação, foi um cara especial, depois foi eleito até presidente da Previdência Social, justamente do Instituto de Previdência Social dos bons de tudo, que chamava até … (inaudível), foi até presidente que todos os estados da parte que podia votar, votaram nele. Ele foi tesoureiro de uma agência, foi presidente, ele não deixava sair, precisava ver a honestidade dele, né. E a gente gostava dele e então todo dia até hoje a gente tá recebendo a família, uma sobrinha do interior que ele falou, mas não sei onde está, não sei endereço, então o processo acima. Lá ainda tem milhares de pedidos que lá vai ficando assim, então isso aí é uma coisa que essa coisa da verdade de qualquer maneira ainda chegou pra história, pro futuro vai que esses agora apesar de ser mais longe vai ser anexado aqueles outros que já passaram também, né. Então vai ficar comprovado, que dizer, seja pro meu neto, pro meu bisneto, tataraneto é que vão ver isso, agora a gente, eu por exemplo estou pronto para esclarecer tudo como é que foi. Porque você imagina, de qualquer maneira o PTB conseguiu fazer dois operários sindicais, o “Peralva” que era advogado, presidente da Câmara e também foi vereador, né, e também o Neri Mendonça que depois também formou em Direito, então foram quatro cassados. Então também tem a família deles que quer depor, se não quer. Oque estão passando até hoje, não é. Então estou a disposição pra ajudar nesse sentido aí pra ver quem é que … (inaudível), pra ver isso tudo. Então assim é muito útil pra isso, é necessário que tenha gente vendo e tem vários livros que já denunciou tudo isso também. Porque o cara que você vê, aquela parte do exército, se você ver aquelas horas da situação ali que se não der ele ficava falando. Então o que acontece, Doutor Jango na última hora, Juscelino recebe lá no dia que sai a polícia lá o exército, então um amigo dele de infância, Ministro da Fazenda dele, que é o Alckmin,já estava com o secretário de Magalhães pra fazer o golpe. Mas ele falou assim, “oh, Juscelino vou comunicar pra você que saiu aqui”, o Mourão dizia. Então o Juscelino foi o primeiro que recebeu a notícia do Mourão (inaudível). O Juscelino, honestamente, ele falou pro Jango “oh, Jango, está acontecendo isso”. Ele falou “não, vamos pro Palácio, vamos decidir, discutir”. Chegando lá, eu falei “oh, Doutor Jango o seu problema é esse aí, mas eles falaram um negócio de CGT. Todo mundo ficou com medo de CGT, mas nós fazíamos tudo honesto, rapaz, claro, tudo, você viu, eles assinaram a…