O décimo depoimento concedido por vítimas da repressão à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF) foi gravado na última sexta-feira, 22 de agosto, quando a dona de casa Maria da Aparecida Oliveira Lopes, contou os desdobramentos da prisão de seu pai, o ferroviário Sebastião de Oliveira, durante a ditadura militar. Casado e pai de cinco filhos, ele era presidente do Sindicato dos Ferroviários e trabalhava na Estrada de Ferro Leopoldina no Rio de Janeiro.
Preso em 1964 na frente da filha e da esposa, na casa em que vivia em Bicas, Sebastião Oliveira foi levado para o Quartel General (QG) da 4° Região Militar de Juiz de Fora, juntamente com outros presos políticos. “Eles bateram lá em casa chamando o nome do meu pai. Quando eu cheguei, já estavam o levando. Minha mãe estava segurando a farda de um militar, desesperada, chegou a desmaiar e foi levada ao médico. Logo depois ela surtou, nunca mais foi a mesma. Com isso, eu fiquei sendo a responsável pela casa e pelos quatro irmãos mais novos”, disse Maria Aparecida, que na época era adolescente.
No período de aproximadamente um ano, o pai de Maria Aparecida foi preso várias vezes. Segundo a entrevistada, vários vizinhos presenciaram os fatos, mas, por medo, não quiseram testemunhar. A prisão do pai modificou totalmente a vida da família, que passou por necessidades. “Só sei que esse negócio de 1964 acabou com as nossas vidas, pois eu tinha planos, meus irmãos tinham planos, e tudo acabou. Três irmãos pararam de estudar e foram trabalhar para sustentar a casa. Eu queria ser advogada, mas tive que cuidar da minha mãe, não podia deixá-la sozinha.”, desabafou.
Ela desconfia que o pai tenha sido torturado. “Quando meu pai voltou da prisão, só ficava calado, não falava nada. Eu perguntava para ele: Pai, eles te bateram? Ele só ficava quieto e as lágrimas rolavam. Com certeza meu pai foi maltratado, mas não podia contar.”
De acordo com a depoente, Sebastião de Oliveira foi solto sem qualquer direito. Funcionário da Rede Ferroviária à época, ele foi transferido para Macaé. Na visão de Maria Aparecida, a transferência foi uma forma de punição. Poucos anos depois, após sofrer um enfarte, ele perdeu alguns movimentos e foi aposentado.
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