“E, para começar, não há História do cinema mas histórias, quer dizer, uma infinidade de fatos e de eventos que o cineasta apreende com o que se pode nomear as armas da poesia.” Jean Claude Giguet, (Études, junho 1989)
Durante o semestre de 2025.3, o Cineclube Movimento apresenta a Mostra “Cinema e suas Histórias”, com o tema desenvolvido pelos membros Thales Godoi e Mel Graco.
🧾Confira o texto de proposta de curadoria escrito por eles.
‘Em 1968, após dez anos de pesquisa, vivendo na Alemanha após fugirem do alistamento obrigatório francês, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet enfim terminam o seu mais antigo projeto cinematográfico, um filme sobre Bach e sua esposa, Anna Magdalena, onde a música deveria ser tratada não como “acompanhamento, nem como comentário, mas como matéria estética”. Em 1971, ressentido, irritado e exilado em Londres, usando o arquivo sonoro da BBC motivado por condições precárias de produção, Julio Bressane termina seu “Memórias de um Estrangulador de Loiras”. Ainda mais perto de sua infância, o cinema ganhou uma de suas histórias mais belas, quando, em 1947, Ingrid Bergman escreve – em palavras quase literárias – para Roberto Rossellini sobre seu desejo de colaborar com o diretor italiano; Rossellini, por sua vez, respondeu com uma concessão não só de outro belo conjunto de palavras, mas também com um pedido de casamento em 1950 e, mais importante para nós, com o papel principal em cinco de seus mais importantes filmes.
O mesmo Bressane uma vez disse que “todo filme é o resultado estético de seu processo de produção”. São nesses processos que se encontram muitas das histórias que pretendemos contar nessa temporada. Filmes de exílio, filmes de colaboração, filmes de condições de produção impossíveis, últimas e primeiras obras que impressionam, e por aí vamos. É claro que se poderia argumentar que todo filme possui uma história por trás de si, e que conta uma história dentro de si, mesmo os não narrativos, até mesmo os não figurativos – histórias de cores, de ritmos, de texturas, como os filmes de Brakhage por exemplo; porém, pensamos aqui naquelas que são quase indissociáveis de seus filmes e da possibilidade de debatê-los (tentamos também selecionar filmes que julgamos bons, caso contrário essa lista tornaria-se enorme – existem tantas histórias fascinantes por trás de filmes fracassados que o ditado popular parece realizar-se no que diz respeito à produção cinematográfica: “o ruim de viver é bom de contar”). Ocupando o papel de curadores/cineclubistas, pensamos em agir como intermediários, e trazer, basicamente, histórias que julgamos instigantes o suficiente para serem contadas, combinadas à filmes que julgamos instigantes o suficiente para serem passados.’
📆 Com base nos temas propostos na curadoria, o cronograma foi dividido da seguinte maneira:
11/10 – Primeiras Obras
18/10 – Filmes de Exílio
01/11 – Colaborações
22/11 – O Extraordinário por trás
06/12 – Produções Impossíveis
13/12 – Últimos Filmes
As sessões do Cineclube Movimento acontecem às 15h no Auditório do Museu de Arte Murilo Mendes. Te esperamos lá!