Convite: Defesa de tese – Michele Monteiro ( 21/10/2022, às 09:00h)

A tese investiga o fenômeno dos nominais nus (NN) no português brasileiro (PB) sob a ótica do processamento linguístico. Estudos no âmbito da Semântica Formal defendem que singular e plural nus são gramaticais no contexto genérico (SCHMITT & MUNN, 1999; MÜLLER, 2004; PIRES DE OLIVEIRA & ROTHSTEIN, 2011, entre outros). No contexto kind (classe/espécie), o NN pré-verbal é analisado como tópico sentencial por Müller (2004), assim, os NNs denotando kind são agramaticais; outros autores consideram essa estrutura como argumental (SCHMITT & MUNN, 1999; PIRES DE OLIVEIRA & ROTHSTEIN, 2011). Em contexto episódico, o plural nu é admitido, mas o singular sofre restrições (SCHMITT & MUNN, 1999; PIRES DE OLIVEIRA & ROTHSTEIN, 2011). Assim, levantamos a hipótese de que a realização de NNs no PB parece estar condicionada a fatores sintáticos-semânticos, mas também discursivos/pragmáticos, envolvendo conhecimentos de domínios linguístico e geral. Segundo a Hipótese das Interfaces (HI – SORACE & FILIACI, 2006), fenômenos subjacentes às interfaces externas à gramática seriam mais sensíveis à opcionalidade e a influências interlinguísticas comparados a fenômenos concernentes a interfaces entre módulos internos. White (2011), dentre outros, apresenta um modelo de língua que demonstra a interação entre níveis intrinsicamente linguísticos (interfaces entre sintaxe-semântica ou sintaxe-fonologia) e entre níveis linguísticos e outros níveis da cognição geral (interações entre sintaxe-discurso/pragmática). A HI emerge de estudos a respeito do processamento bilíngue, no entanto vamos ampliá-la e investigá-la também no processamento monolíngue. Na investigação empírica aplicamos três experimentos de produção eliciada, no primeiro participaram falantes monolíngues do PB, e no segundo e terceiro falantes bilíngues de espanhol (L1)/PB (L2). O PB distingue-se do espanhol na aceitabilidade de NNs em posição pré-verbal, pois esta não admite o uso de NN pré-verbal nos contextos genérico, kind e episódico, contextos em que o PB aceita NNs singulares e plurais apenas com restrição ao NN singular em predicado episódico (IONIN; SANTOS; MONTRUL, 2015, entre outros). Os objetivos para esses experimentos foram: (i) avaliar o uso de NN na produção de sentenças nos contextos genérico, kind e episódico em posição pré-verbal em PB, e (ii) se são produzidos NNs com e sem flexão de número; ainda, nos falantes bilíngues espanhol (L1)/PB (L2), buscou-se (iii) avaliar se padrões na língua materna poderiam interferir em seu desempenho na tarefa de produção em PB. Nossos resultados sugerem que os monolíngues preferem o uso de NN em contextos kind plural e genérico plural, com diferenças significativas na comparação entre o uso de NN singular e plural, mostrando que o contexto também influencia no uso do NN. Nos experimentos com bilíngues observamos também maior número de produções do NN no contexto kind plural, mas ainda em um percentual bem menor do que os nativos. Os bilíngues, de modo geral, evitaram o NN singular e plural nos contextos genéricos, o que aponta para influência da gramática da língua nativa ao produzirem os sintagmas nominais na L2. Portanto, defendemos que em PB, o NN pré-verbal é um fenômeno que envolve, em seu processamento, interfaces entre os domínios internos (sintaxe-semântica) e externos (sintaxe-discurso/pragmática).