O filme “Reflexo Reverso: o outro em branco”, produzido pelo Laboratório de Audiovisual Afrikas (LabAfrikas) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), foi selecionado para o “Primeiro Plano Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades”. A obra, cuja direção é da professora de História da África da UFJF e coordenadora do LabAfrikas, Fernanda Thomaz, aborda a temática da branquitude, a pertença racial atribuída às pessoas brancas, que envolve privilégios raciais, materiais e simbólicos.
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Neste ano, devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus, o Festival Primeiro Plano será realizado integralmente on-line, entre os dias 24 e 28 de novembro. Apesar da necessidade de adaptação ao período de excepcionalidade, esta edição do evento teve número recorde de inscrições. Ao todo, foram 354 produções apresentadas.
Saiba mais sobre o “Primeiro Plano Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades”.
Elas e eles não andam sós
O filme “Reflexo Reverso: o outro em branco” foi lançado em 22 de maio pelo LabAfrikas. É o primeiro de uma websérie que vem sendo produzida pelo grupo interdisciplinar desde 2019. O Laboratório de Audiovisual, cujas atividades integram ensino, pesquisa e extensão, conta com graduandos dos bacharelados em Ciências Sociais; História; Jornalismo; Rádio, TV e Internet; Artes e Design; e Cinema, e tem ainda a colaboração de uma mestranda em História.
Para a elaboração do projeto, as obras de autoras e autores negros, como W.E.B Du Bois, Frantz Fanon, Guerreiro Ramos, Lourenço Cardoso e Grada Kilomba, vêm sendo minuciosamente estudadas e utilizadas como suporte para o questinamento da sociedade e da academia “eurobrancocentrada”.
É preciso pensar a questão racial a partir dos brancos também. A seleção para o festival, além de confirmar a qualidade do material produzido, vai permitir maior acesso ao filme” – Fernanda Thomaz
Nesse sentido, “Reflexo Reverso: o outro em branco” fomenta em seus públicos reflexões acerca da raça como um um conceito sem qualquer viés biológico, mas repleto de ideologia, visto que abarca relações de poder, dominação e exclusão não declaradas e determinantes para a sociedade.
Na avaliação da coordenadora do LabAfrikas, professora Fernanda Thomaz, a seleção do filme para participação no Festival Primeiro Plano denota, além da qualidade do trabalho produzido, a importância da temática abordada na obra.
“Percebemos que há uma receptividade para discussão da branquitude. Ficamos muito contentes, porque acreditamos que esse debate é, apesar de recente, fundamental, ou seja, é preciso pensar a questão racial a partir dos brancos também. A seleção para o festival, além de confirmar a qualidade do material produzido, vai permitir maior acesso ao filme, gerar reflexões sobre a temática racial”, aponta.
Na UFJF, o LabAfrikas é pioneiro na abordagem acadêmica da temática da branquitude. “Depois do lançamento do ‘Reflexo Reverso: o outro em branco’, muitas pessoas vieram conversar comigo, sobretudo colegas brancos, alguns deles também acadêmicos, sobre começar a buscar bibliografia sobre o assunto para estudar. Com a exibição no Festival Primeiro Plano, cada vez mais pessoas terão acesso ao conteúdo, gerando reflexões sobre a realidade racial da nossa sociedade”, ressalta Fernanda.
“Cinema negro também é cinema brasileiro”
A graduanda em Rádio, TV e Internet e integrante do LabAfrikas, Ana Júlia Silvino, destaca a relevância dos festivais para o fortalecimento do cinema brasileiro, sobretudo, para as produções independentes.
“Os festivais são a primeira porta de entrada para uma obra audiovisual e, às vezes, o único canal de difusão para uma obra independente. Sempre priorizamos no LabAfrikas, desde a etapa de produção, a inscrição do filme em festivais, para que pudesse circular entre mais pessoas. Ficamos muito felizes com a seleção, porque esse trabalho é o primeiro do grupo LabAfrikas e de alguns dos membros do grupo. Ainda estamos aguardando também o resultado de outras inscrições em outros festivais”, conta.
Ana Júlia acrescenta que, numa sociedade marcada pelo racismo como estruturante das relações econômicas, políticas e culturais, as produções de profissionais negros enfrentam frequentemente tentativas de desqualificação.
Os festivais são a primeira porta de entrada para uma obra audiovisual e, às vezes, o único canal de difusão para uma obra independente – Ana Júlia Silvino
“Na academia também tratam este tipo de produção, o cinema negro, como uma produção de vídeo e não como uma produção de cinema. Quando esse tipo de seleção acontece e estamos lá, o cinema negro está presente. Isso força as pessoas a entenderem que o cinema negro também é cinema brasileiro, que é relevante para pensar a produção cinematográfica nacional. Para a elaboração de Reflexo Reverso, pensamos cuidadosamente no roteiro, na montagem, nos enquadramentos, nas animações. Não é apenas sobre a temática da branquitude, é sobre forma também. E muitas pessoas esquecem disso’, conclui.
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