Arte: Labhoi/UFJF

O Laboratório de História Oral e Imagem (Labhoi/Afrikas) da Universidade Federal de Juiz de Fora  (UFJF) realiza nesta terça-feira, dia 29, às 17h30, a roda de conversa “Sociabilidades Negras e o direito à cidade”. A atividade acontece no canal do Labhoi no YouTube e integra o ciclo de debates “Juiz de Fora: Cidade Negra – reflexões sobre silêncio, racismo e história”.  

Siga o Labhoi nas redes sociais: Youtube, Facebook, Instagram.

Além das coordenadoras do Labhoi, a professora titular do Departamento de História da UFJF, Hebe Mattos, e a doutoranda em História, Giovana Castro, o debate contará com cinco convidados.  Três participantes vão abordar o tema, especialmente, na perspectiva local: a historiadora e doutora em Educação, Rita de Cássia Félix; a professora da Rede Municipal e doutora em História, Patrícia Lage; e o compositor e presidente do Instituto Cultura do Samba de Juiz de Fora, Regis da Vila. 

Já os professores da Universidade Federal Fluminense (UFF), Martha Abreu, e da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Petrônio Domingues, irão debater acerca das sociabilidades negras e do direito à cidade em níveis nacional e transnacional.

“Esta mesa foi dividida em dois encontros, porque é uma temática bastante complexa. Nesta primeira rodada, no dia 29, teremos a Rita Félix. Na tese de doutorado dela, ela pesquisou os clubes negros de Juiz de Fora enquanto espaços de sociabilidade. E a Patrícia Lage, que é professora da Rede Municipal, também doutora. Na dissertação, ela pesquisou os espaços de lazer no Pós-Abolição em Juiz de Fora. E o Régis da Vila, que é um grande articulador da cultura do samba aqui, e que também preside o Instituto Cultura do Samba. Essa é a configuração dos estudiosos da cultura em Juiz de Fora que vão estar presentes, fazendo uma grande articulação desses espaços de lazer, cultura, produção, musicalidade, na cidade, voltados para essa temática”, explica Giovana Castro. 

“A ideia é compreender como as populações negras se organizaram para reivindicar a construção de espaços de humanidade” – Giovana Castro 

Um dos objetivos da atividade é compreender como as populações negras se organizaram para reivindicar a construção de espaços de humanidade e reafirmar suas subjetividades.

“A ideia é compreender como essas populações se organizaram para reivindicar a construção de espaços de humanidade, que é um termo que a Rita Felix utiliza e do qual eu gosto muito. O direito à construção das suas humanidades, das suas subjetividades, e como isso também está implicado numa disputa de territórios, geograficamente falando, ou seja, no direito à cidade. Do direito de expressão dessas culturas para além das periferias, para a ocupação das áreas centrais de Juiz de Fora”, acrescenta a doutoranda.

Perspectivas nacional e transnacional

Hebe Mattos ressalta a relevância e a atualidade do debate acerca das sociabilidades negras e a intenção do Labhoi de fomentar a referida discussão em Juiz de Fora.

“Martha e Petrônio têm livros absolutamente imprescindíveis, recentes, que iluminam esse tema das sociabilidades negras, como luta política, como luta antirracista, pelo direito à cidade” – Hebe Mattos

“Estamos chamando autores pioneiros em pensar o tema. Petrônio Domingues  é um dos principais pesquisadores das sociabilidades negras no Pós-Abolição no Brasil, com ênfase em São Paulo. Ele acabou de publicar um livro, chamado ‘Protagonismo Negro em São Paulo: história e historiografia’. Vai trazer um pouco esse balanço da história das organizações negras, da imprensa negra, das sociabilidades negras em São Paulo.”

Já a professora da UFF, Martha Abreu, dedica-se à pesquisa, especialmente, da Cultura Negra como forma de mobilização política e luta antirracista. “E como forma de um associativismo que tem um sentido político. Martha trabalha em perspectiva comparada com a experiência dos Estados Unidos. No livro mais recente,  ‘Da Senzala ao Palco’, ela compara a pequena África, no Rio de Janeiro, e o nascimento das escolas de samba com o Harlem, em Nova Iorque, no início do século XX.  Ambos os livros são absolutamente imprescindíveis, recentes, e realmente iluminam esse tema das sociabilidades negras, como luta política, como luta antirracista, pelo direito à cidade”, explica Hebe Mattos.

Homenagem e continuidade

Flavinho da Juventude, um dos principais nomes do samba em Juiz de Fora (Foto: Funalfa/PJF)

A roda de conversa “Sociabilidades Negras e o direito à cidade” também será uma homenagem a um dos mais talentosos nomes do samba contemporâneo de Juiz de Fora, Flavinho da Juventude, falecido no sábado, dia 19. “Flavinho da Juventude é uma figura extremamente significativa dessa trajetória das sociabilidades Negras em Juiz de Fora. Ele foi um grande sambista, um grande articulador, um grande contador de histórias, de uma generosidade imensa. Essa mesa é também um espaço de reconhecimento da construção, da importância dessa contranarrativa acerca da produção cultural em Juiz de Fora”, pontua Giovana Castro. 

A doutoranda acrescenta que o debate da próxima terça-feira, 29, terá continuidade.  “Continuaremos pensando essa outridade, essa construção da outridade, a partir de uma perspectiva de narrativas perpassadas pelas produções culturais dessas populações negras em Juiz de Fora, enquanto também uma disputa pelo direito a ir e vir, pelo direito de estar na cidade, de expressar a sua cultura sem sofrer retaliações e sem ser vista como uma cultura secundária, uma cultura menor na cidade. A compreensão de que as culturas negras em Juiz de Fora são culturas, não digo hegemônicas, porque hegemonia envolve uma questão de poder, mas que são culturas complexas, expressivas, significativas e que marcam a trajetória da cidade”, conclui.   

Saiba mais:

“Identidades Atlânticas e Subjetividades Negras” é tema de roda de conversa

“Ciclo de debates Juiz de Fora, Cidade Negra” começa nesta terça, 30

Centro de Referência propõe resgate da história da população negra

Outras informações: imprensa@comunicacao.ufjf.br