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Concerto destaca o nacionalismo musical de compositores espanhóis e do brasileiro Heitor Villa-Lobos

 

A semana principal de concertos do 34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga tem abertura oficial no próximo domingo, 23, no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), com o concerto Nacionalismo em Música, que reúne Rosana Orsini (BRA/ITA), soprano, e José Manuel Dapena (ESP), violonista. O concerto apresentará um paralelo entre a música nacionalista espanhola e brasileira de três dos seus mais importantes compositores – os espanhóis Manuel de Falla e Enrique Granados e o brasileiro Heitor Villa-Lobos, considerado a figura criativa mais significativa do século XX na música erudita brasileira.

 

“Sendo o Brasil e a Espanha dois dos principais países produtores de repertório para o violão erudito, o concerto traz obras vocais e pianísticas adaptadas para o mais popular dos instrumentos eruditos, que na ocasião será interpretado pelo violonista espanhol José Manuel Dapena”, explica Rosana Orsini. Instrumentista aclamado, Dapena tem um currículo de apresentações nas mais importantes salas de concerto e festivais internacionais.

 

Das Siete Canciones Populares Españolas de Manuel de Falla à Floresta do Amazonas de Villa-Lobos, passando pelas Danzas Españolas de Granados e pela Bachiana Brasileira nº 5, do compositor brasileiro, o repertório, ressalta Rosana, “é uma ode às culturas espanhola e brasileira que, apesar de distantes geograficamente, são tão próximas pela força da sua cultura popular e pela beleza e refinamento de sua música erudita”.

 

 

Identidade cultural

 

No século XIX europeu, a música foi uma das artes de expressão do nacionalismo em diversos países do continente que buscavam reforçar sua identidade cultural frente ao predomínio ideológico e cultural de nações como a alemã, a francesa e a italiana, inclusive no campo da própria música. Em comum, buscou-se na cultura popular inspiração e material para as composições nacionalistas do período, como ritmos, melodias, lendas, tradições e história. A proposta era valorizar elementos próprios, particulares, compartilhados pelo povo, razão pela qual a música folclórica foi umas das principais fontes para os compositores.

 

“As canções de Manuel de Falla são uma pequena amostra da diversidade musical da Espanha, apresentando estilos muito diferentes de várias partes do país, como o principado das Astúrias, Murcia, Aragão, Andaluzia… Todos os textos falam de amor e do processo do cortejo, por vezes de forma irônica, outras, dramática.  As três obras para violão solo de Granados pertencem à suíte Doce Danzas Españolas Op.37, originalmente compostas para piano e transcritas para violão entre 1892 e 1900. São consideradas uma grande contribuição para a música nacionalista espanhola do século XIX”, observa Rosana Orsini.

 

 

Cultura local

 

O nacionalismo musical também foi influente na América Latina, em momento em que vários países recém-libertos da colonização buscavam se consolidar como nações independentes. Assim, a valorização da cultura local exerceu um papel fundamental na construção de suas novas identidades.

 

A Floresta do Amazonas é uma das últimas composições de Villa-Lobos e foi composta para uma trilha sonora do filme da MGM Green Mansions, lançado no Brasil como A Flor que Não Morreu. “Villa não ficou nada satisfeito com as modificações feitas em sua música para a sincronização com o filme e resolveu transformá-la em uma suíte sinfônica. O filme foi um fracasso, mas resultou no financiamento para uma épica gravação realizada em 1959, regida pelo próprio Villa-Lobos e interpretada pela grande soprano Bidu Sayão”, conta Rosana.

 

Algumas das canções dessa suíte ultrapassaram a barreira entre o erudito e o popular e foram gravadas por diversos cantores da MPB, como Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Djavan. O recital é concluído com “a mais famosa ária erudita brasileira de todos os tempos”, a Bachiana Brasileira nº 5, que estreou em 1939 com Ruth Valadares, autora do texto da Cantilena, e logo em seguida foi cantada por Bidu Sayão no Rio de Janeiro, interpretação que mereceu o prêmio Grammy Hall of Fame Award em 1984.

 

Homenagem

 

Além da apresentação de abertura, Rosana Orsini assina a direção artística dessa edição do Festival, ao lado do diretor do Centro Cultural Pró-Música, Marcus Medeiros. “Celebrando o Brasil no bicentenário da sua Independência, a edição do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga de Juiz de Fora é uma grande homenagem à música brasileira e latino-americana, antiga e moderna, camerística e operística, vocal e instrumental”, ressalta.

 

Rosana é responsável ainda pela direção artística e a direção cênica da ópera A Noite de São João, que será realizada no Cine-Theatro Central em 30 de julho, em coprodução com o Conservatório de Tatuí (SP). Ela também ministra uma masterclass de ópera em 24 de julho: “A intenção é trazer aos jovens cantores elementos para a concepção de um personagem operístico desde o ponto de vista físico/teatral. A formação de um cantor lírico no Brasil é focada essencialmente na técnica vocal, por vezes deixando para um segundo plano a relação física que cada personagem demanda de seu intérprete. O objetivo principal dessa masterclass é fornecer ferramentas aos cantores para preparar uma ária para uma audição em um teatro lírico, mesmo antes do contato com o diretor de cena da produção ou da companhia, potencializando sua habilidade e flexibilidade cênica.”

 

 

34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga

Nacionalismo em Música – Rosana Orsini (soprano) e José Manuel Dapena (violonista)

Dia 23/07, às 19h, no Museu de Arte Murilo Mendes (Rua Benjamin Constant, 790 – Juiz de Fora – MG)

Entrada franca (Os convites serão distribuídos no Centro Cultural Pró-Música no dia da apresentação, das 8h às 18h. Máximo de quatro convites por pessoa)

* Todos os concertos serão precedidos de palestras ministradas pelo Prof. Rodolfo Valverde (UFJF), uma hora antes, nos mesmos locais das apresentações.

 

PROGRAMA

Manuel de Falla (Cádiz, Espanha, 1876 – Alta Gracia, Argentina,1946)

Siete Canciones Populares Españolas

. El paño moruno

. Seguidilla murciana

. Asturiana

. Jota

. Nana

. Canción

. Polo

Enrique Granados (Lérida, 1867– Canal da Mancha, 1916)

Danzas españolas op. 37, DLR I:2

. Andaluza

. Oriental

. Bolero (Arabesca)

Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 1887 – 1959)

A Floresta do Amazonas (poesia de Dora Vasconcelos)

. Veleiros

. Cair da tarde

. Canção do Amor

. Melodia Sentimental

Bachianas Brasileiras nº 5

. Aria / Cantilena (poesia de Ruth Correia)

. Dança / Martelo (poesia de Manuel Bandeira)

 

Rosana Orsini (ITA/BRA) – soprano  

Cantora lírica e historiadora da ópera, Rosana Orsini participou de diversos projetos relacionados com a música e o patrimônio histórico musical material e imaterial, com especial interesse pela ópera e a música no Brasil nos séculos XVIII e XIX. Colabora regularmente com grupos que se dedicam ao resgate da música colonial brasileira e participou do projeto de restauro do Órgão Histórico Manuel de Almeida e Silva de Diamantina. Foi diretora artística das produções das óperas Il Ballo delle Ingrate, de Claudio Monteverdi, encenada em comemoração dos 450 anos do nascimento do compositor, e Vendado es Amor, no es Ciego, de José de Nebra, encenada no aniversário de 250 anos da morte do músico espanhol – ambas produzidas no âmbito do Festival Internacional de Música Antiga e Música Colonial Brasileira de Juiz de Fora, em 2017 e 2018, respectivamente. Como intérprete, seu repertório abrange desde os séculos XVI ao XX, tendo encarnado diversos papéis em óperas de Mozart (Così fan Tutte, Le Nozze di Figaro e Don Giovanni), Bizet (Os Pescadores de Pérolas), Puccini (Gianni Schicchi), Massenet (Manon), Verdi (Un Ballo in Maschera), dentre outros. Definida pelo The Washington Post como “uma intérprete cativante”, Rosana Orsini se apresentou em diversos festivais internacionais de música realizados em Santiago de Compostela, Madri, Veneza, Nápoles, Treviso, Turim, Lisboa, Porto, Madeira, Lausanne, Lugano, Cidade do Panamá, Nova York, Washington D.C., Londres, Praga, etc. É membro da International Musicological Society e pesquisadora integrada do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa. Publicou dois livros sobre a Casa da Ópera de Ouro Preto (Paco Editora, 2012, e Editora Idea, 2020), e um sobre a cenografia teatral setecentista nos teatros luso-brasileiros (Lisbon International Press, 2019). Com o organista Marco Orsini-Brescia, com quem mantém um aclamado duo desde 2006, gravou o álbum “Angels and Mermaids: religious Music in Oporto and Santiago de Compostela (18th / 19th century)” (Arkhé Music, Portugal, 2016). Rosana Orsini é graduada em Canto Lírico pela Universidade Federal de Minas Gerais, Mestre em Canto pela Manhattan School of Music de Nova Iorque (EUA), Pós-graduada em Canto Lírico pela Royal Academy of Music de Londres (GBR), Mestre e Doutora em História Moderna e Contemporânea pela Université Sorbonne de Paris IV (FRA), Doutora em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa (PRT) e Pós-Doutora pela mesma instituição. Paralelamente, Rosana Orsini se especializou na interpretação histórica da música antiga no Conservatorio di San Pietro a Majella de Nápoles (ITA), sob a direção do Maestro Antonio Florio, e na interpretação mozartiana pelo Instituto Mozarteum de Salzburg (AUS), sob a direção da soprano Edda Moser. Foi convidada a atuar em cerimônias oficiais perante os Presidentes da República Portuguesa Aníbal Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Souza e o Presidente da República Italiana Sergio Mattarella. www.rosanaorsini.com

 

José Manuel Dapena (ESP) – violão  

Violonista espanhol aclamado pela crítica, José Manuel Dapena tem atuado em diversos países europeus, americanos e asiáticos, nas mais importantes salas de concerto e festivais internacionais. Seu repertório é particularmente diverso, variando entre transcrições de Bach e outros compositores barrocos a obras contemporâneas. Tem um particular interesse por concertos monográficos. Seu último trabalho incluiu as sonatas completas de Fernando Sor, a obra completa para violão de Joaquín Turina no 50º aniversário da morte o compositor, Eduardo Sainz de la Maza e Castelnuovo-Tedesco, as Danças Espanholas Op.37 de Granados em seu centenário, entre outros. Dapena recentemente gravou um álbum intitulado “Rincón mágico: Complete Turina Works” e “Al pie de una guitarra: Guitar music inspired by poetry of Miguel Hernández”. Suas gravações foram transmitidas por diversas rádios na Europa e Estados Unidos, incluindo um concerto ao vivo na estação WGBH de Boston. Estudou sob a orientação de David Russel e Manuel Barrueco. www.manueldapena.com

 

Outras informações:

Pró-reitoria de Cultura – (32) 2102-3964