Em tempos de distanciamento social em virtude da pandemia provocada pelo novo coronavírus, a Frente Preta da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) elaborou uma lista com sugestões de filmes e livros para os estudantes da instituição. O objetivo da iniciativa é favorecer as reflexões sobre as questões étnico-raciais.

A Frente Preta é  composta por alunos e coletivos da Universidade e por representantes de movimentos sociais externos à instituição. As sugestões tem os comentários de dois dos integrantes do grupo, os estudantes de Rádio, TV e Internet, Ana Júlia Silvino, e de História, Victor Mariano.

Atlantique – Filme (2019) – disponível na Netflix 

A primeira indicação é o filme franco-belga-senegalês “Atlantique”, lançado em 2019 e dirigido por Mati Diop, a primeira mulher negra a ser premiada por um longa-metragem no Festival de Cannes, na França. No filme, em um subúrbio de Dakar, trabalhadores no canteiro de obras de uma torre futurista decidem deixar o país pelo oceano em busca de uma vida melhor. A protagonista Ada, prometida em casamento a um homem rico, fica arrasada quando seu grande amor desaparece no oceano. 

“Atlantique é uma história de amor que se estrutura no mar, lugar que trouxe, historicamente, muito sofrimento para a população negra em diáspora. O filme é sutil ao falar da importância das tradições e espiritualidades no mundo contemporâneo e de como elas seguem resistindo. É um ótimo filme para lembrar a importância de nos conectarmos com a nossa ancestralidade”, aponta Ana Júlia.

Confira o trailer oficial:

O dia de Jerusa – Filme (2014) – disponível no YouTube 

“O dia de Jerusa” é um filme brasileiro,  dirigido por Viviane Ferreira, e também fala sobre afetos. No curta-metragem, Jerusa, moradora de um sobrado envelhecido pelo tempo, recebe Silvia, uma pesquisadora de opinião que circula pelo bairro, convencendo pessoas a responderem questionários para uma pesquisa sobre sabão em pó. As duas mulheres negras de gerações distintas compartilham uma tarde inusitada de memórias.

“O dia de Jerusa é um filme poético que aborda diversos temas que atravessam a população negra, em especial, as mulheres. Temas como solidão e envelhecimento moldam a narrativa de forma sutil e comovente. É um curta-metragem que todos deveriam assistir e está disponível no youtube”, conta Ana Júlia.

Confira o filme completo:

A Noite de Espera – Livro (Brasil, 2017)  – Milton Hatoum 

Capa do livro ‘A noite da espera”, de Milton Hatoum.

Primeiro volume da série “O lugar mais sombrio”, o romance “A Noite de Espera”,  de Milton Hatoum, retrata a formação sentimental, política e cultural de um grupo de jovens na Brasília dos anos 1960 e 1970. 

“É um romance de formação, que se passa no período da ditadura militar, mas nem por isso se prende às polarizações, como repressão versus liberdade por exemplo. É construído como um mosaico, no exílio de Martin, o personagem central, entre os cacos de sua memória, suas anotações e os fragmentos dos colegas de teatro. Essas características tiram do romance o ‘individualismo’. O livro transita entre as dimensões social e pessoal com sutileza. A formação sentimental, a separação dos pais, a distância da mãe se entrelaçam. As descobertas amorosas entrelaçam-se às conturbadas circunstâncias políticas. Trata-se de um romance com o qual podemos facilmente nos identificar e nos faz refletir sobre os ‘anos de chumbo’ ”, avalia Victor Mariano.

Cidadã de Segunda Classe – Livro (Nigéria, 1974) – Buchi Emecheta

Capa do livro “Cidadã de segunda classe”, de Buchi Emecheta.

A nigeriana Buchi Emecheta é autora de mais de 20 obras, entre elas “Cidadã de segunda classe” (1974). Seu trabalho aborda temas como escravidão, independência feminina, maternidade e liberdade. Emecheta é reconhecida pela crítica mundial, especialmente na Inglaterra, onde residiu por mais de 50 anos até sua morte, em janeiro de 2017.

“Cidadã de Segunda Classe é um romance de caráter autobiográfico, que se passa nos anos 1960.  Na história da protagonista Adah, mesclam-se a violência doméstica, a xenofobia, a dominação pelo marido, a opressão contra as mulheres e o racismo. Esse drama é traçado por uma escrita cômica e fluida”, destaca Victor Mariano.

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