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Professor Fernando Azevedo, à frente, já participou da captura de 100 onças; integra a equipe com o docente Pedro Nobre (à direita), o veterinário Ricardo Arrais (ao fundo) e mais profissionais (Foto: Raul Mourão/UFJF)

Quem acompanha os trabalhos de captura de uma onça-pintada, vista em pelo menos seis localidades, em Juiz de Fora, já percebeu que a captura do animal não é uma tarefa simples.

Um dos questionamentos recentes sobre a contenção segura do animal tem sido em torno de por que não atirar um dardo no animal solto ou instalar armadilhas às margens do Rio Paraibuna ou em outros pontos onde o felino foi avistado. A equipe técnica, especialista na montagem de armadilhas e na captura de animais silvestres, defende que há mais segurança e probabilidade mais alta de captura no Jardim Botânico da UFJF.

“O animal se apresenta com mais frequência e regularidade, inclusive de horário, no Jardim, conforme aponta o monitoramento no local. A instalação de armadilhas nas rotas usadas pela onça-pintada é mais eficaz e segura”, explica o professor da UFJF Artur Andriolo, que tem doutorado em psicobiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e é graduado em medicina veterinária.

Os riscos são ainda mais altos caso fosse adotada a opção de atirar um dardo no animal livre, uma vez que ele tem sido visto apenas aparentemente tranquilo com a presença humana. “Há o mito do sedativo, que o animal ao ser atingido por um dardo, logo em seguida cairá adormecido, como em filme. Não é assim”, explica o veterinário Ricardo Arrais, que passou a fazer da parte da equipe desde a última terça, 7.

O tempo de efeito completo do sedativo varia conforme a fisiologia do animal. Em alguns casos, pode levar até 25 minutos para que fique contido quimicamente. “Nesse tipo de ação, não se tem controle sobre o destino do animal. A vida dele passa a ser de sua responsabilidade e de quem vai interagir com ele quando está sedado. Eu seria a última pessoa a fazer isso”, frisa o professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e biólogo Fernando Azevedo, também novo integrante do corpo técnico local. Nesse intervalo de ação gradual do tranquilizante, caso o animal esteja solto, ele pode sair em disparada, se ferir, cair no rio, correr o risco de afogamento ou partir em ataque contra a população próxima ou a equipe.

“O efeito do medicamento varia conforme a fisiologia, a saúde, a idade e o seu nível de adrenalina e outros fatores. Não sabemos se, no momento, ele está alimentado ou em jejum, o que influencia na dosagem necessária”, explica Arrais. Ainda conforme o veterinário, quando o felino está capturado, a equipe consegue, com mais cautela e precisão, observar as reações da onça e ter mais controle de riscos, aumentando segurança e sobrevivência.  

Armadilha de laço: segura e rápida

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Armadilha usa elementos do ambiente, como folhas e galhos, para direcionar o caminhar do animal para a armação (Foto: Raul Mourão/UFJF)

A opção adotada pela equipe para capturar é a armadilha que tem um laço camuflado no chão. Ao pisar em uma alavanca, o laço é acionado, e um receptor de sinais sonoros altera a frequência captada pelo receptor, localizado na sala de monitoramento da equipe técnica, que se desloca até o animal. Em duas das armadilhas, duas câmeras transmitem imagens ao vivo para celular da equipe, que pode atuar com mais agilidade.

O professor Fernando Azevedo reitera que este é o método mais seguro e eficaz,  amplamente utilizado na captura de felinos. “A vantagem maior dela é o tempo que se leva para pegar o animal, se ele estiver passando pela região [que é o caso no Jardim]. É a mais rápida que a gente conhece, ou a menos demorada”, afirma.

“É preciso fazer um trabalho preliminar para descobrir a rota do bicho, como o que foi feito aqui. A gente conhece e já sabe onde ela está andando. Se fôssemos começar do zero, não chegaríamos já com o laço. Ficaríamos um mês monitorando a área. A sacada do laço é ela não ver, ser totalmente enganada. Os outros métodos são diferentes, ela vê a caixa, e tem que tomar a decisão de entrar. Isso pode levar um dia, mas pode durar meses. Fica-se à mercê do animal”, explica o professor.

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Monitoramento das rotas do felino acelerou início das instalações de armadilhas (Foto: Raul Mourão/UFJF)

Experiente na montagem de armadilhas, o veterinário Ricardo Arrais lista alguns cuidados que levam à eficácia da armação, como a camuflagem do local, para deixá-la o mais discreta possível, o monitoramento e checagem da área. “Tomando as medidas de cautela com o equipamento e o ambiente, a armadilha de laço é uma estratégia segura para o animal e para a equipe.”

Desde o momento que o animal entra no trajeto monitorado ele é direcionado para a armadilha, influenciando as decisões de escolha por onde vai passar, conforme o professor. “A gente vai afunilando a passagem até que ele não tenha opção a não ser passar pela armadilha”, completa o docente.

Os trabalhos em relação à onça-pintada são orientados pelo Cenap/ICMBio e coordenados pela comissão composta por sete instituições: Campo de Instruções do Exército Brasileiro em Juiz de Fora, Corpo de Bombeiros, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Estadual de Florestas (IEF/Cetas), Polícia Militar (incluindo a Polícia de Meio Ambiente), Prefeitura de Juiz de Fora e UFJF.

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