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Professor André Marcatto em sala de aula mesmo durante o período de férias letivas (Foto: Géssica Leine)

Ao contrário do calendário acadêmico, a ciência não para. Por isso, vários professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) seguem normalmente seus trabalhos de pesquisa durante o período de férias letivas, que termina no dia 2 de março, primeiro dia de aulas. Pensando nestes trabalhos, nossa equipe realizará uma série de matérias intitulada de “Ciência 24h”, divulgando projetos que continuam a todo vapor na instituição. A reportagem que abre a série foi escolhida justamente por abordar um tema de interesse nacional, a crise hídrica e energética que o Brasil atravessa.

O setor energético brasileiro passa por um momento delicado. A escassez de água na maior parte dos reservatórios da região Sudeste, maior consumidora de energia elétrica no país, levantou questionamentos sobre a capacidade nacional de lidar com as dificuldades impostas pela longa estiagem, além de evidenciar nossa condição de dependente de um sistema predominante de geração elétrica, a energia hidráulica.

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Supercomputador equipado com 256 processadores trabalhando em paralelo (Foto: Géssica Leine)

As soluções para superar esse desafio podem estar dentro dos laboratórios e salas de aula. No caso da UFJF, um grupo do programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica se dedica na solução do problema. Mesmo no período de férias acadêmicas, se mantêm em plena atividade, focados no desenvolvimento de um “Planejamento Energético”. Para isso, alunos e professores criam modelos computacionais capazes de simular o funcionamento de toda malha hidrelétrica nacional, permitindo antecipar falhas em larga escala e oferecer soluções.

Segundo um dos professores responsáveis pela linha de pesquisa, André Marcatto, esses modelos representam as mais de cem usinas hidrelétricas do país de forma individualizada, prevendo diferentes cenários de hidrologia, consumo de combustível e crescimento do mercado. Para alcançar os resultados esperados, o Programa conta com um cluster de computadores, uma espécie de “supercomputador” equipado com 256 processadores trabalhando em paralelo, o que se justifica pela complexidade do trabalho. “Dessa forma, conseguimos definir a melhor maneira de atender o mercado consumidor, além de sinalizar possíveis problemas para que o Governo antecipe soluções.”

Para Marcatto, o impacto do problema energético nacional já poderá ser sentido no bolso do consumidor. A partir deste ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) utilizará um sistema de bandeiras tarifárias nas contas de luz em todo o Brasil. As bandeiras das cores verde, amarela e vermelha indicarão se a energia custará mais ou menos, em função das condições de geração de eletricidade. Quando a bandeira estiver da cor vermelha, o valor da conta de luz dos próximos meses será mais cara. “Embora esse impacto não seja imediato, já é uma sinalização para os consumidores tentarem diminuir o consumo, pois fatalmente o preço da conta vai subir em alguns meses.”

Além da nova tarifa, a Aneel confirmou o aval da presidente Dilma Rousseff para o aumento da conta de luz no decorrer do ano, desmontando a Medida Provisória nº 579, que há dois anos reduziu o valor da conta em todo território nacional. A crise no setor energético levou o Governo a cancelar o aporte de R$ 9 bilhões em subsídios assumidos pelo Tesouro para este ano no setor. O valor será repassado para os consumidores.

Bandeira verde

Bandeira amarela

Bandeira vermelha

condições favoráveis de geração de energia. A tarifa não sofre nenhum acréscimo

condições de geração menos favoráveis. A tarifa sofre acréscimo de R$ 1,50 para cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos

condições mais custosas de geração. A tarifa sobre acréscimo de R$ 3 para cada 100 kWh consumidos

Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)

Outro ponto ressaltado pelo professor é que existe uma expectativa muito grande em relação a quantidade de chuva que ocorrerá no verão deste ano, a fim de saber se os reservatórios serão recuperados. “Caso isso não ocorra, o impacto acarretará na diminuição da compra de equipamentos eletrônicos e forte queda na produção industrial, o que pode significar demissões em massa. Portanto, o país corre um sério risco de entrar numa recessão por causa do problema energético.”

Apesar do cenário não ser positivo, Marcatto acredita que existem saídas viáveis a longo prazo, mas que devem ser implementadas seguidas de uma série de incentivos por parte do Governo. “Precisamos aumentar o percentual de participação de energia eólica. Hoje, quando comparamos o Brasil com outros países, estamos muito acanhados, embora esteja previsto um aumento grande do setor até 2020. Atualmente, a energia eólica corresponde a uma fatia muito pequena do mercado.”

Outra opção é o investimento em energia solar. Marcatto explica que já existem leis que incentivam a fonte alternativa, beneficiando consumidores que colocam painéis solares em suas residências, mas que o percentual de geração solar ainda é muito baixo. Nos momentos em que essa residência estiver consumindo abaixo do que o painel está gerando, ele injeta energia no sistema que poderá ser utilizado por outro consumidor. Depois, aquele que cedeu energia ao sistema é ressarcido. “Temos que criar estratégias que incentivem os consumidores a instalarem mais painéis solares. Por enquanto, ainda é muito caro instalar o painel. Caso o Governo consolide estratégias para o consumidor pagar menos, conseguiremos instalar mais painéis e o custo do aparelho cai.”

Outras informações: (32) 2102-3442 (Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica – UFJF)

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