A exposição Eosinophil Portraits, organizada por Rossana Melo na Universidade McMaster, Canadá, já tem previsão de ser exibida no Brasil em outubro, na UFMG (Foto: Arquivo pessoal)

Pensar um objeto de estudo da ciência como obra de arte pode ser muito abstrato para algumas pessoas; mas não para a cientista Rossana Melo, professora titular do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF, que organizou a exposição Eosinophil Portraits. Exibindo imagens obtidas por microscopia eletrônica a partir de seus trabalhos de pesquisa, a mostra apresenta células que fazem parte do sistema imunológico: os eosinófilos. Estas células protegem o organismo humano contra agentes invasores e participam do funcionamento normal de diversos órgãos. 

A iniciativa integrou o Simpósio Bianual da Sociedade Internacional de Eosinófilos (IES da sigla em inglês), na Universidade McMaster, em Hamilton, no Canadá, realizado em julho. Alinhada ao pioneirismo dos estudos de Rossana, a exposição celebra o lançamento de seu livro Eosinophil Ultrastructure: Atlas of Eosinophil Cell Biology and Pathology (Ultraestrutura dos Eosinófilos: Atlas da Biologia Celular e Patologia dos Eosinófilos), publicado pela editora Elsevier em conjunto com dois cientistas, Peter Weller e Ann Dvorak, da Universidade Harvard. 

Rossana Melo atua em colaboração com a Universidade Harvard há mais de duas décadas (Foto: Arquivo pessoal)

A obra é a primeira publicação a documentar centenas de imagens de eosinófilos capturadas em alta resolução e, como ressalta, as peças são como um retrato, “cada imagem reflete um momento da experiência de vida do eosinófilo na saúde ou na doença, e convida o espectador a se envolver e aprender com esta célula multifacetada, enigmática e bela.”

Como fruto de muitos anos de pesquisa, a exposição mostra 60 imagens colorizadas e selecionadas dentro de um universo de centenas de imagens científicas produzidas a partir de trabalhos de pesquisa com o uso do microscópio eletrônico. “A aplicação dessa ferramenta permite conhecer a organização interna da célula em detalhes, contribuindo para o entendimento do funcionamento celular, mecanismos de doenças e diagnósticos em patologia. Além de servirem como documentação científica, as imagens produzidas podem ser consideradas verdadeiros trabalhos de arte”, pontua Rossana. 

A iniciativa é uma forma de projetar a Universidade para diferentes partes do globo, destacando a cooperação entre cientistas e proporcionando uma experiência inovadora de popularização da ciência. De todos os instrumentos científicos, o microscópio é o mais utilizado nas ciências da vida, como é o caso da Biologia Celular.

“Um dos aspectos fascinantes da Biologia Celular e de outras áreas científicas é a riqueza visual dos produtos gerados por ela. Há muita ciência por trás de uma bela imagem microscópica. As imagens microscópicas despertam muito a atenção e servem para comunicar e divulgar a ciência”, destaca.

Colorindo para divulgar a ciência

Célula do sistema imunológico (eosinófilo) após o processo de colorimetria, que integra a exposição (Foto: Arquivo pessoal)

Para se conceber o conteúdo da exposição, além dos dados computados no livro, também houve participação de alunos de graduação e pós-graduação. O trabalho de colorização foi realizado por Rossana em conjunto com o doutorando Vitor Neves e outros membros do Laboratório de Biologia Celular da UFJF (LBC), no qual Rossana é líder do grupo de pesquisa.

Quando se amplia muito algo no microscópio, são geradas imagens em escalas de cinza. Por isso, foi preciso recorrer a softwares de edição de imagens para colorir as células. Embora a técnica já seja utilizada com frequência pelos pesquisadores, neste caso a proposta foi mais ousada ao buscar paletas de cores que harmonizem e tornem as imagens belas para o olho humano. 

“Nós colorimos cada uma das estruturas de cores diferentes para que a pessoa que estiver observando aquela célula saiba diferenciá-las”, comenta Vitor Neves. Para o doutorando, o trabalho une aspectos artísticos, mas também científicos: “Cada público vai se relacionar de forma diferente com cada expressão artística, mas acho que a arte consegue comunicar com todas as pessoas de certa forma.”

Exibição no Brasil

Após o lançamento no Canadá, a exposição Eosinophil Portraits será exibida em instituições e eventos no Brasil. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde a pesquisadora estudou nos períodos de mestrado e doutorado será o primeiro local a apresentar as imagens, durante o VIII SIBC (Seminário de Integração dos Programas de Pós-Graduação em Biologia Celular da UFMG, UFV, UFU e UFSJ) em outubro deste ano. A exposição irá fazer parte da celebração dos 50 anos do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular da UFMG (PPGBiocel), no qual Rossana atua como orientadora plena. 

Relembre: 

Professora da UFJF publica livro em conjunto com cientistas de Harvard