Exposição apresenta novas obras que compõem o acervo permanente do museu
Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Guignard estão entre as obras expostas na mostra “Novas aquisições: construindo o acervo do MAMM”
A política de formação de acervo é uma das diretrizes que conduzem as ações do Museu de Arte Murilo Mendes no ano de 2011. A aquisição de obras para ampliar o patrimônio do museu é a gênese da mostra “Novas aquisições: construindo o acervo do MAMM”, em cartaz até 13 de março na Galeria Convergência.
Ainda não exibidas lado a lado ao público do museu, as obras que compõem a exposição foram adquiridas pela Universidade Federal de Juiz de Fora ou doadas ao Museu de Arte Murilo Mendes por participarem, de alguma forma, do universo muriliano. Este é o caso das três gravuras de Fayga Ostrower dedicadas ao MAMM pela família da artista quando do encerramento da exposição “A música silenciosa da gravura”, idealizada em homenagem à amizade do poeta com a gravadora.
Outros grandes nomes das artes plásticas fazem parte de recente aquisição da Universidade. Além de exibidos pela primeira vez no MAMM, os trabalhos de Evandro Carlos Jardim e Di Cavalcanti são as primeiras obras desses mestres a compor o acervo do museu. Sobre Cavalcanti, Murilo escreveu que, em alguns de seus melhores momentos, o artista “atingiu pela força da verdade plástica o cerne da nossa própria verdade metafísica na unificação de seus contrastes: de fato a gente brasileira foi ali recriada em síntese erudita”.
Do elenco de artistas juiz-foranos, dois nomes passam a enriquecer o acervo do museu: Dnar Rocha, com “Faculdade de Filosofia”, e Eliardo França, com a série “Terra de Vera Cruz”, que narra o início da história do Brasil na época da descoberta.
Restauradas e expostas
Duas obras recém-adquiridas pela UFJF foram submetidas à restauração integral antes de serem expostas: o desenho em bico-de-pena de Guignard, “Paisagem de Minas”; e a aquarela “Vaso de Flores” (foto), de Anita Malfatti. Este último, ao apresentar manchas de fungo que deturpavam as características da obra, passou por um tratamento químico que eliminou as marcas, que, apesar de pequenas, estavam por toda a aquarela.
Já o desenho de Guignard possuía uma deformação – mancha d’água – e passou por vários banhos de limpeza antes de ser exposto. “Esse tipo de alteração no aspecto original da obra prejudica a leitura estética do desenho. O resultado final é o resgate da unidade potencial da obra de arte, trazendo-a novamente à tona”, explica o restaurador de artes plásticas Aloisio Nunes de Castro.
Arte e literatura
Aos visitantes de “Novas aquisições: construindo o acervo do MAMM” também estão sendo apresentadas grandes obras literárias: “Gravures 1924 – 1972”, de André Masson e “Ilustrações de Axl Leskoschek para Dostoievski”, de José Neistein. Entre doações e aquisições, a participação das obras no acervo do museu o qualificam como instituição museológica viva e em constante desenvolvimento.
A edição de “Axl Leskoschek”, editada por José Neistein, reúne 35 xilogravuras do artista austríaco para as versões brasileiras da obra de Dostoievski – especificamente para os romances “Os demônios”, “O adolescente” e “Os irmãos Karamazov”. Leskoschek foi um grande ilustrador de alma literária, e, apesar de ter se dedicado a diversas técnicas, foi na xilogravura que mais se expressou. As gravuras que compõem esta obra literária são um dos pontos mais altos de sua carreira.
Já o livro de André Masson, intitulado “Gravures 1924-1972”, apresenta três litografias originais do artista. Apesar de iniciar sua produção sob a influência cubista, a partir de 1924, Masson participou do surrealismo. As fortes cores que caracterizam sua obra singularizam a temática das transformações, que expressam seres míticos e retratos imaginários.
A excelência da mostra se completa com a contribuição do artista juiz-forano Arlindo Daibert. A série “Imagens do Grande Sertão”, na qual produziu xilogravuras para o clássico de Guimarães Rosa, passou a compor o patrimônio do MAMM este ano. Em 1998, o conjunto de gravuras foi reunido na publicação “Imagens do Grande Sertão – Arlindo Daibert”, com textos críticos de Júlio Castañon e Heloísa Starling. Além da tradução plástica de fragmentos textuais, personagens e emoções de o “Grande Sertão: Veredas”, Daibert – que se formou em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora, instituição onde também lecionou no Curso de Artes – escreve sobre suas técnicas e intenções artísticas.
Incentivo à produção nacional
Anualmente, o programa “Os Amigos da Gravura” convida artistas plásticos nacionais para participar do projeto que, idealizado em 1952, foi retomado no ano de 1992 pelos Museus Castro Maya. Objetivando estimular as artes gráficas brasileiras, as obras produzidas pelos artistas convocados se transformam em doações para várias instituições do país com o intuito de enriquecer os acervos dos museus.
Em 2005, o MAMM foi congratulado pelos “Amigos” com trabalhos inéditos de três artistas: “Berlinda”, serigrafia de Mônica Barki; “Amarelo cromo”, gravura em metal e serigrafia de Lena Bergstein; e “Variações”, colagem de Nelson Leirner. A parceria entre os dois museus contribuiu ricamente para a atualização do acervo de arte contemporânea do MAMM.