Camille Saint-Saëns e o Pianismo Romântico Brasileiro, atração da próxima segunda-feira, 24, no Teatro Paschoal Carlos Magno, integrando a programação do 34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, é um concerto dedicado ao mais importante compositor francês do século XIX e sua influência entre os principais compositores brasileiros para piano daquele tempo.
O pianista Marco Orsini-Brescia (BRA-ITA), amplo conhecedor da obra de Saint-Saens tanto para piano quanto para órgão, levará o público do Festival a uma viagem pelo mundo do piano brasileiro de finais do século retrasado e princípios do século XX, quando a França e sua arte eram o principal modelo a ser seguido pela arte brasileira.
Reconhecido em vida como o maior expoente da música francesa na segunda metade do século XIX, Camille Saint-Saëns (Paris, 1835 – Argel, 1921) foi presidente da Academia de Belas Artes da França e a ele foi conferido o primeiro doutorado honoris causa em música da história, pela Universidade de Cambridge, em 1893.
Em pleno século XIX, a intensa vida musical de Saint-Saëns era acompanhada pelos principais jornais oitocentistas brasileiros, ressalta Marco Brescia. Os concertos que o compositor realizou no Brasil em 1899, no Rio de Janeiro e em São Paulo, foram acontecimentos históricos, aos quais afluíram as principais personalidades da música no Brasil da época, seja dividindo o palco com o célebre compositor francês, seja na plateia.
“Num país que tinha o seu modelo máximo na França da Belle Époque, é natural que os compositores brasileiros coevos manifestassem uma grande admiração e afeição por Saint-Saëns, e é precisamente essa influência – apesar de evidente, ainda pouco reconhecida – que o recital vem reivindicar”, afirma o pianista.
Do programa do concerto, Brescia destaca a Valse Nonchalante de Saint-Saëns, op. 110, que teve a sua estreia mundial pelas mãos do próprio compositor no antigo Teatro São Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro, e a Valsa op. 13, n. 2, de Alberto Nepomuceno (Fortaleza, 1864 – Rio de Janeiro, 1929), que, na qualidade de diretor do Instituto Nacional de Música, foi o responsável pelo convite a Saint-Saëns para vir ao Brasil.
Marco Brescia chama atenção ainda para “a delicada e sugestiva” Il neige!…, de Henrique Oswald (Rio de Janeiro, 1852-1931), um dos artistas convidados para tocar com Saint-Saëns no Brasil em 1899 e que, em 1902, venceu por unanimidade do júri presidido por Saint-Saëns o concurso internacional do jornal Le Figaro, de Paris, suplantando 600 concorrentes com a mesma obra.
Também se destaca a barcarola Une nuit à Lisbonne, op. 63, de Saint-Saëns, executada nos concertos do compositor no Brasil em 1899 e que claramente influenciou o estudo para virtuoses op. 90. n. 17 Une nuit sur le Tage, do compositor português radicado no Brasil Arthur Napoleão (Porto, 1843 – Rio de Janeiro, 1925). Marco Brescia ressalta ainda a influência do famoso Allegro Appassionato, op. 43, de Saint-Saëns (1873), sobre a obra homônima de Leopoldo Miguez, op. 11, composta uma década depois.
O programa se encerra com A Sertaneja, op. 15, de Brasílio Itiberê (Paranaguá, 1846 – Berlim, 1913), composta em 1869, um autêntico marco no contexto da música nacionalista brasileira, assim como a virtuosística Rhapsodie d’Auvergne, op. 73, de Saint-Saëns, composta em 1884 sobre três temas autóctones da homônima região francesa e por ele executada no Brasil, “demonstrando a sintonia da vanguarda da época em ambos os lados do Atlântico”.
34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga
Camille Saint-Saëns e o Pianismo Romântico Brasileiro – Marco Orsini-Brescia (piano)
Dia 24/07, às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno (Rua Gilberto de Alencar, s/n – Centro – Juiz de Fora, MG)
Entrada franca (Os convites serão distribuídos no Centro Cultural Pró-Música no dia da apresentação, das 8h às 18h. Máximo de quatro convites por pessoa)
* Todos os concertos serão precedidos de palestras ministradas pelo Prof. Rodolfo Valverde (UFJF), uma hora antes, nos mesmos locais das apresentações.
PROGRAMA
Camille Saint-Saëns (Paris, 1835 – Argel, 1921)
. Valse Nonchalante op. 110 (1898)
(estreada mundialmente pelo compositor no Rio de Janeiro em 2 de julho de 1899)
Alberto Nepomuceno (Fortaleza, 1864 – Rio de Janeiro, 1920)
. Valsa op. 13, n. 2 (1894)
Camille Saint-Saëns
. Bagatelle op. 3, n. 3 (1856)
Henrique Oswald (Rio de Janeiro, 1852 – 1931)
. Il Neige!… (1902)
Camille Saint-Saëns
. Une nuit à Lisbonne op. 63 (1880)
Arthur Napoleão (Porto, 1843 – Rio de Janeiro, 1925)
. Une nuit sur le Tage (Études pour virtuoses op. 90, n. 17) (1910)
Leopoldo Miguez (Niterói, 1850 – Rio de Janeiro, 1902)
. Allegro Appassionato op. 11 (1883)
Camille Saint-Saëns
. Allegro Appassionato op. 70 (1874)
Brasílio Itiberê (Paranaguá, 1846 – Berlim, 1913)
. A Sertaneja op. 15 (1869)
Camille Saint-Saëns
. Rhapsodie d’Auvergne op. 73 (1884)
Marco Orsini-Brescia (BRA-ITA) – piano
Pianista, organista, cravista e clavicordista ítalo-brasileiro, Marco Orsini-Brescia iniciou a sua formação musical em casa. Sua mãe, Denise Orsini, foi quem conformou as mãos da criança de seis anos ao piano, dando-lhe uma sólida técnica. Mais tarde, Orsini-Brescia estudou com Clotilde Lobo de Rezende e Sergio Magnani. O encontro com Vera Nardelli foi decisivo para o jovem de 20 anos, resultando, em 1997, no primeiro lugar no X Concurso Nacional de Piano Arnaldo Estrella. Em 2000, Marco Orsini-Brescia mudou-se para a Espanha, após receber uma bolsa do governo espanhol para o renomado curso internacional de piano da Escuela Superior de Música Reina Sofia, ministrado em Santander pelo pianista norte-americano Russel Sherman. No ano seguinte, Orsini-Brescia participou do Curso Internacional de Música Antiga de Daroca, também na Espanha, sob a orientação do grande mestre da tecla ibérica José Luis González Uriol, que foi uma influência decisiva na sua trajetória musical, descortinando-lhe o mundo da música antiga e impulsionando a sua paixão pelos instrumentos de tecla histórica e o seu repertório. De 2014 a 2018, Orsini-Brescia realizou o seu pós-doutorado em Musicologia Histórica na Universidade NOVA de Lisboa, como bolsista da Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal. Em 2013, concluiu o seu doutorado conjunto em Musicologia Histórica nas Universidades Paris IV–Sorbonne e NOVA de Lisboa, recebendo a menção máxima, très honorable à l’unanimité. No mesmo ano, obteve, sob a orientação do organista Javier Artigas, o mestrado em Música Antiga / Órgão Histórico conferido conjuntamente pela Escola Superior de Música de Catalunya e Universitat Autònoma de Barcelona, sendo agraciado com a prestigiosa matrícula de honor. Marco Orsini-Brescia apresenta-se regularmente em concerto nas mais ilustres salas e festivais internacionais da Europa, América Central e América do Sul. Desde 2006 forma um aclamado duo com a sua mulher, a soprano Rosana Orsini, com quem gravou o reconhecido álbum “Angels and Mermaids: religious Music in Oporto and Santiago de Compostela (18th / 19th century)” (Arkhé Music, Portugal, 2016). O seu disco solo “Zipoli in Diamantina: complete organ works” (Paraty, França, 2020) foi uma das gravações destacadas da revista espanhola Scherzo e disco recomendado pela francesa Diapason, tendo sido entusiasticamente recebido pela crítica internacional especializada e transmitido pela Bayerischer Rundfunk, Alemanha. O seu trabalho em prol da restituição do órgão histórico de Diamantina (1787) foi reconhecido pelo Governo do Estado de Minas Gerais com a Medalha de Honra do Presidente Juscelino Kubitshek. Paralelamente à sua intensa atividade artística, Orsini-Brescia é também um dos mais reconhecidos musicólogos no campo da organologia do órgão ibérico, ministrando conferências nos mais reputados congressos musicológicos internacionais e publicando trabalhos científicos de impacto na matéria. Desde 2019, é pesquisador da Faculdade de Ciências Humanas / Universidade NOVA de Lisboa, onde atualmente é coordenador do grupo Música no Período Moderno / CESEM – Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. www.marcobrescia.com
Outras informações:
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