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Professora e pesquisadora da UFJF evoca memórias e vivências interiores na exposição “Metáfora das coisas belas”, no Espaço Reitoria

 

A arte de “comunicar sem palavras” é um habilidade que Sthefane D´ávila exercita em Metáfora das coisas belas, exposição em cartaz na galeria Espaço Reitoria, no Campus da UFJF. Em 43 aquarelas, a artista procura traduzir em imagens sentimentos que não encontram expressão verbal no cotidiano, “a força invisível que nos move quando não podemos andar, as horas de paz, o céu azul evocando os dias felizes da infância…”. É a essa busca que se refere o título da mostra. “Cada obra é permeada por memórias e sentimentos que geraram o próprio impulso de pintar”, afirma Sthefane, que também atua na UFJF, há 14 anos, como professora do Departamento de Zoologia e curadora do Museu de Malacologia Prof. Maury Pinto de Oliveira.

 

A técnica empregada, a aquarela, é conhecida pelas dificuldades que impõe aos que trabalham com ela e que se devem à instabilidade da água, seu elemento essencial. Sthefane, porém, converte esses supostos desafios em vantagens: “As características da técnica permitem uma conexão ímpar entre a mão que move o pincel, a fluidez da água e a inesperada interação entre os pigmentos, de forma que a imagem resultante tem sempre algo de inesperado e surpreendente”, diz ela. Em seus trabalhos, a transparência e a delicadeza da técnica destacam-se no colorido alegre e em geral suave de cenas e paisagens bucólicas e nostálgicas, situadas entre o real e o ficcional, como memórias imaginadas ou “imagens que evocam a atmosfera simbólica dos sonhos”.

 

"Jardin des plantes" (Aquarela)

“Jardin des plantes” (Aquarela)

 

A natureza é onipresente nos trabalhos, representada não como cenário de fundo de uma ação ou um gesto humano, mas como parte indissociável de memórias e sentimentos. E nem poderia ser diferente, visto que, além da docência e da pesquisa em ciências biológicas, Sthefane retrata a biodiversidade natural em um campo bem específico – a ilustração científica. A arte, portanto, a acompanha também na carreira acadêmica e na divulgação da ciência. Ao transitar entre duas formas tão diversas de ilustração – a científica, que requer exatidão e tem caráter didático, e a artística, subjetiva e livre – Sthefane não distingue ou delimita o lugar que elas ocupam em sua vida.

 

“A ilustração científica se presta a transmitir uma informação que, necessariamente, deve ser precisa e retratar a realidade. Muitas vezes é preciso diminuir a complexidade daquilo que se observa para ressaltar as informações mais pertinentes”, explica a artista. “Não há tanto espaço para a subjetividade, mas ela acaba emergindo de qualquer forma, uma vez que o “traço” do artista, ou seja, as características da obra que permitem reconhecer que a ilustração foi feita por aquele determinado artista, é sempre evidente”, prossegue Sthefane. “E o que é esse “traço”, se não um reflexo da personalidade, do olhar, do próprio ser do artista? Acho que é impossível remover a subjetividade de uma construção artística, mesmo na ilustração científica”, afirma. Para ela, a ilustração mais livre representa um campo fértil para a subjetividade, para a expressão do eu, da vida interior, mas tem em comum com a ilustração científica o papel de comunicar sem palavras. “Assim, embora apresentem características diversas, a ilustração científica e a ilustração livre são igualmente  fontes de realização pessoal na minha vida. Com elas, eu aprendo sobre mim mesma e sobre o mundo ao redor”, conclui.

 

"As águas do rio" (Aquarela)

“As águas do rio” (Aquarela)

 

Sthefane D´ávila acredita, inclusive, que o olhar científico se reflete em seu trabalho artístico propriamente dito: “O biólogo, assim como o artista plástico, tem um olhar ao mesmo tempo panorâmico e minucioso em direção ao mundo natural. Enxerga elementos que passam despercebidos para a maior parte das pessoas, os diferentes “microcosmos”, as conexões entre os seres, os detalhes que os distinguem. Acho que esse olhar influencia, sim, aquilo que eu ilustro e como eu ilustro”, afirma.

 

"Paineira" (Aquarela)

“Paineira” (Aquarela)

 

Autodidata e filha de pais pintores, Sthefane atribui à influência deles sua “necessidade de expressar em cores e formas o que se passa dentro de mim, o senso estético, o olhar generoso para o mundo e a natureza, que vê sentido, beleza, razão em todas as coisas”. A artista lembra que cresceu folheando os livros de arte que os pais se esforçavam para comprar e que deixavam ao alcance das crianças. “O trabalho de alguns artistas influenciaram meu olhar e imaginário desde a infância. Os artistas que falam mais alto à minha emoção são Henri Rousseau, Vincent  Van Gogh e Marc Chagall”, ressalta.

 

Metáfora das coisas belas é a primeira exposição de Sthefane D´ávila.

 

 

Metáfora das coisas belas – Sthéfane D´ávila

De 13 de outubro a 14 de novembro de 2022, na galeria Espaço Reitoria (Campus), de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas.

Entrada franca

Outras informações:

(32) 2102-3964