Na exposição preparada para a Galeria Espaço Reitoria, a proposta é realizar uma abordagem geopolítica, de caráter didático, destacando diferenças entre a antiga União Soviética e a Rússia atual
Com um tema crucial para a reflexão sobre o direito à moradia, mostrando que a habitação precisa ser abordada como muito mais do que uma mera mercadoria, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) se integra ao circuito internacional da exposição “Arquitetura Habitacional da URSS – Concurso entre camaradas 1926”, que ocupa a Galeria Espaço Reitoria a partir de 15 de setembro. São pranchas impressas com base em arquivos digitais relativos a oito projetos arquitetônicos pensados como arranjos familiares para a classe trabalhadora, apresentando soluções de Moisei Ginzburg, Georgi Vegman, Vyacheslav Vladimirov, Alexander Nikolsky, Andrey Ol, Alexander Pasternak, Ivan Sobolev, Nina Vorotyntseva e Raissa Polyak.
A mostra se soma a uma mesa de debates que acontece no anfiteatro da Reitoria, marcando a abertura do semestre letivo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) em seu oitavo ano, comemorando também os 32 anos de criação do curso na UFJF. O evento, programado para as 17h30, conta com a participação de docentes e autores de diferentes instituições, tendo a professora da FAU/UFJF Raquel Portes como mediadora. Cláudio Ribeiro da FAU/UFRJ, o artista plástico Celso Lima, autor do livro “Vkhutemas: Desenho de uma revolução”, e representantes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU/MG) integram a mesa.
A programação inclui ainda uma oficina realizada por Celso Lima, no dia 16, para os estudantes da FAU/UFJF, no Galpão da Faculdade, no Campus. Com carga horária de quatro horas, estão previstos exercícios da Sala Negra de Nikolai Ladóvski, referente ao seu laboratório psicoanalítico nos Obmas, Escola de Design Vkhutemas-Vkhutein. “A proposta é contar com experiências de sensação-percepção e memória, com trabalhos hápticos e mnésicos, além de estudo e reconhecimento de linha de horizonte em campo aberto. Teremos também uma discussão sobre os resultados efetivos da propedêutica ministrada por Ladóvski, Krinski e Dokutcháiev nas propostas e criação de projetos por parte dos alunos dos Vkhutemas”, ressalta Raquel.
A professora destaca que “Arquitetura Habitacional da URSS – Concurso entre camaradas 1926” acontece em função do esforço coletivo dos grupos de pesquisa envolvidos, nos mais diversos países, especialmente no México. “Em Juiz de Fora, contamos com o apoio fundamental da FAU/UFJF, da Pró-reitoria de Cultura (PROCULT/UFJF), da Associação dos Professores de Ensino Superior de Juiz de Fora (APES/JF) – seção sindical do ANDES, e do CAU/MG, além da colaboração da Federação Nacional dos Arquitetos (FNA), ao viabilizar a adaptação do material recebido do México, que integra o circuito da exposição em diversos estados do país”, destaca.
Visão pedagógica
A exposição remete à memória da habitação popular em várias cidades da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que faria, em dezembro de 2022, cem anos de sua formação. A série de pranchas à mostra na Galeria Espaço Reitoria abrange um período marcado pela repercussão do planejamento urbano popular, que aboliu o sistema de preços tradicional para implantar um novo tipo de economia, pensada e organizada no decorrer de mais de meio século. Nesse cenário, dissolveu-se o mercado imobiliário ortodoxo, que passou a ser focado nas decisões administrativas que privilegiavam a chamada moradia universal.
Curadora da mostra, Raquel fala da importância da exposição como forma de colaborar para reverter o desconhecimento geral sobre uma produção arquitetônica que foi ignorada pelo Ocidente em função, principalmente, da Guerra Fria instalada após a Segunda Guerra Mundial, que dividiu politicamente e economicamente o mundo. “Trata-se de um período que revela importantes concepções arquitetônicas, que acabaram por influenciar o conceito, a construção e a forma dos conjuntos habitacionais de diferentes países em todo o mundo”.
Raquel entende que, nos tempos atuais, faz-se necessário trazer à tona os avanços e os debates daquele período revolucionário. “Diante da guerra entre Rússia e Ucrânia e da possibilidade de uma associação equivocada entre a arquitetura da URSS do período escolhido e o conflito atual, pensamos, como parte da introdução à exposição, na construção de uma abordagem geopolítica, de caráter pedagógico, para ressaltar as diferenças entre a antiga formação da URSS e a Rússia de hoje, em um contexto ontológico no que concerne à formação humana das culturas, dos valores e das funcionalidades das sociedades”.
Origens
A professora ainda destaca que ao realizar a exposição “Arquitetura habitacional da URSS: Concurso entre Camaradas 1926”, inédita na América Latina, o MALOCA, Grupo de Estudos Multidisciplinares em Urbanismos e Arquiteturas do Sul, através de pesquisadores de diversas regiões, traz a UFJF para o debate mais atual sobre arquitetura, particularmente a habitacional. E reitera que os trabalhos apresentados tratam de colaborações fundamentais da arquitetura socialista invisibilizada no Ocidente.
“A arquitetura soviética foi desenhada de maneira muito distinta daquela criada no capitalismo. Projetar a moradia socialista pressupôs, por exemplo, questionar a ideia de família patriarcal e sua noção burguesa de lar, indicando, por meio da prática construtiva e espacial, outras possibilidades de organização familiar e social. A experiência soviética buscou, também, desonerar o trabalho doméstico, sobretudo das mulheres, construindo equipamentos coletivos, como cozinhas e lavanderias, creches, salas de estar e quartos de hóspedes comuns, quadra de esportes, entre outros. Portanto, conhecer a arquitetura soviética é crucial para debater direito à moradia, de extrema relevância para Juiz de Fora e região”.
Raquel assinala que a exposição aprofunda trabalhos anteriores, como os apresentados em 2017, no marco do centenário da Revolução Russa, por meio da mostra “A Revolução Russa e as mulheres”, organizada pela Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal da Integração Latinoamericana (SESUNILA).
“Cinco anos depois, trazemos a público, em detalhe, oito projetos dessa arquitetura: Casa Comunal A1, de Moisei Ginzburg; Moradia para Trabalhadores/as com Família Reduzida, de Georgi Vegman; Moradias Novas, de Vyacheslav Vladimirov; Novo Tipo de Moradia para Trabalhadores/as, de Nina Vorotyntseva e Raissa Polyak; Moradias Econômicas para Trabalhadores/as, de Alexander Nikolsky; Novo Tipo de Moradia para Trabalhadores/as, de Andrey Ol; Nova Habitação para Trabalhadores/as, de Alexander Pasternak; e Novo Tipo de Habitação Operária, de Ivan Sobolev”.
Serviço
Exposição
“Arquitetura Habitacional da URSS – Concurso entre camaradas 1926” Visitação: De 15 de setembro a 10 de outubro, de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas Local: Galeria Espaço Reitoria, Campus da UFJF Endereço: Rua José Lourenço Kelmer, s/n Entrada Franca ——————————————————— Mesa-redonda Com Raquel Portes da FAU/UFJF, Cláudio Ribeiro da FAU/UFRJ, Celso Lima, autor de “Vkhutemas: Desenho de uma revolução”, e representantes do Conselho do CAU/MG Local: Anfiteatro da Reitoria, Campus da UFJF Endereço: Rua José Lourenço Kelmer, s/n Data: 15 de setembro, às 17h30 Entrada Franca ——————————————————— Oficina Exercícios da Sala Negra de Nikolai Ladóvski Ministrante: Celso Lima Data: 16 de setembro, com início às 10 horas (10h-12h e 14h-16h) Local: Galpão da FAU Endereço: Rua José Lourenço Kelmer, s/n Público: alunos da FAU/UFJF Carga horária: 4 horas
Outras informações: (32) 2102-6307; (32) 2102-3964 |