Norteada pelo conceito “UT Pictura Musica”, resgatado do Renascimento, a Cultura Artística, uma das entidades de maior representatividade cultural do país, acolhe a realização conjunta de três dos mais tradicionais eventos que congregam as discussões e a prática em torno da música antiga. Trata-se do Encontro Tríplice de Música Antiga, que traz a 7ª Semana de Performance Histórica do Conservatório de Tatuí, o 32º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga do Pró-música/UFJF e o 12º Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos sécs. XVI, XVII e XVIII da USP.
Os eventos abrangem aspectos complementares da formação musical: didático, artístico e científico. Todos são gratuitos e podem ser acompanhados on-line, contemplando masterclasses, séries documentais que discutem as relações entre música e pintura, assim como o processo de construção musical, debates e apresentações de resultados de pesquisa.
Essa diversidade de atividades promovidas pela união institucional é uma iniciativa pioneira no Brasil, proporcionada pela Cultura Artística, e as expectativas são de que seu alcance ultrapasse as fronteiras do país. No contexto do distanciamento social e de pandemia, esta união representa, simbolicamente, as possibilidades de aproximação humana e a união de forças em torno de um ideal comum.
Excelência multiplicada
Marcus Held, coordenador da 7ª Semana de Performance Histórica do Conservatório de Tatuí, que acontece entre 27 de setembro e 1º de outubro, considera que o Encontro Tríplice de Música Antiga é uma conquista há muito tempo esperada. “Participei como estudante, depois como profissional, dos três eventos isoladamente, ao longo de muitos anos, e pude perceber que todos sempre visavam a excelência em seus respectivos âmbitos. Não há dúvidas de que a música antiga tem se fortalecido cada vez mais no Brasil, sem dúvidas, graças aos esforços de inúmeras pessoas que nunca se privam de resistir”, conta.
Quanto à atual edição da Semana de Performance Histórica do Conservatório de Tatuí, Held ressalta tratar-se, já, de uma importante tradição. “O Conservatório é ainda umas das únicas instituições brasileiras que oferecem uma formação completa na área de música antiga”, ressalta, complementando que seu compromisso com a excelência pedagógica está representado no corpo docente convidado para compor o evento.
Segundo Marcus Medeiros, diretor do Centro Cultural Pró-Música, equipamento da Pró-reitoria de Cultura da UFJF responsável pelo Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, que chega à sua 32 edição entre os dias 25 e 29 de outubro, esta tríplice realização é uma aliança fundamental para a perpetuação de festivais e encontros em tempos de crise como o que estamos vivendo.
Ele ressalta que o encontro desenvolvido em três etapas é um desafio que conta com o esforço de intérpretes, professores e pesquisadores que reconhecem a importância dessas realizações para a cultura nacional. “É a união de várias pessoas e instituições permitindo a realização de todos esses eventos”, assinala.
Monica Lucas, coordenadora do 12º Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos sécs. XVI, XVII e XVIII/USP, que tem realização do dia 22 a 26 de novembro, observa que “Todos os três eventos serão realizados por instituições públicas, veiculados de maneira remota, de forma gratuita e abertos a todos os tipos de público”.
“As atividades voltadas para públicos específicos serão veiculadas apenas nos sites das instituições que os abrigam (masterclasses em Tatuí e comunicações acadêmicas na USP), ao passo que todas as demais, voltadas para o grande público, serão apresentadas no canal de Youtube da Cultura Artística (séries documentais, debates, entrevistas, concertos)”, adianta.
Desafio de visionários
Considerada a instituição cultural privada mais antiga da América Latina, a Cultura Artística tem uma trajetória que remonta à da própria cultura brasileira, com sua fundação, em 1912, ligada a personalidades como Mário de Andrade, integrante de um tempo de ouro para uma São Paulo que bebia na fonte da modernidade. Com uma agenda cultural pensada para fazer frente a outras grandes capitais do país e da Europa, fundava, em 1934, a primeira orquestra de São Paulo, que posteriormente passou ao poder público.
Estruturada financeiramente a partir da contribuição de sócios mensalistas, acalentou por décadas o sonho de ter um teatro próprio. Em 1950, finalmente construiu o edifício na rua que leva o nome de um de seus fundadores e entusiastas, Nestor Pestana. O Teatro Cultura Artística conheceu a efervescência, mas foi destruído por um incêndio em 2008. Onze anos depois, o projeto de reconstrução, também apoiado por capital privado, finalmente teve início, com a primeira fase de reconstrução, as obras da parte estrutural, realizadas. A segunda fase começou em 2020, com um cronograma que previa a reinauguração para 2021.
A figura de proa do Encontro Tríplice de Música Antiga é Frederico Lohmann, superintendente da Cultura Artística. A importância do Encontro como um todo é destacada principalmente por tratar-se de um evento que representa o poder da aproximação humana e da união de forças em torno de um ideal comum, especialmente no contexto do distanciamento social, que ainda impõe cuidados e protocolos para a segurança de todos em tempos de pandemia.
Confira
O público interessado em conferir o site geral do Encontro Tríplice de Música Antiga para obter mais informações já pode acessar aqui.
As atividades voltadas para públicos específicos serão veiculadas apenas nos sites das instituições que os abrigam (masterclasses em Tatuí e comunicações acadêmicas na USP), sendo que todas as demais, voltadas para o grande público, serão apresentadas no canal da Cultura Artística no YouTube, com séries documentais, debates, entrevistas, concertos.
Os eventos
7ª Semana de Performance Histórica/Conservatório de Tatuí
Datas: 27 de setembro a 1º de outubro de 2021
Foco: formação de músicos práticos
Direção Artística: Marcus Held (Conservatório de Tatuí/USP)
A 7ª Semana de Performance Histórica do Conservatório de Tatuí tem, como princípio, promover oficinas voltadas ao âmbito prático, isto é, da interpretação musical em instrumentos de época. No entanto, o evento procura difundir a música antiga aos mais diversos públicos brasileiros, sejam eles estudantes, diletantes ou profissionais, bem como divulgar este viés interpretativo para todos aqueles que visam aprofundar seus conhecimentos e atuação musical.
Serão oferecidas aulas em formato de masterclass de instrumentos representativos dos séculos XVII e XVIII: violino barroco, viola barroca, violoncelo barroco e viola da gamba, cordas dedilhadas históricas, flauta doce e cravo.
Atividades: 5 oficinas de instrumentos, diariamente das 14h às 16h
27/09 – Masterclass de violino e viola barroca: Emilio Moreno (Espanha)
28/09 – Masterclass de cordas dedilhadas históricas: Regina Albanez (Brasil/Holanda)
29/09 – Masterclass de flauta-doce: Carmen Troncoso (Chile)
30/09 – Masterclass de cravo: Ana Paula Segurola (Argentina)
01/10 – Masterclass de violoncelo barroco e viola da gamba: Diego Schuck (Brasil)
Outras informações e inscrições: http://retoricamusical.com/index.php/tatui/
ou https://www.conservatoriodetatui.org.br
32º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga/UFJF
Datas: 25 a 29 de outubro de 2021
Foco: formação de público
Direção Artística: Marcus Medeiros (UFJF), William Coelho (OSESP)
Dedicado ao estudo e à interpretação da música antiga e organizado pela Pró-reitoria de Cultura e Centro Cultural Pró-Música da Universidade Federal de Juiz de Fora, é um dos mais importantes e tradicionais eventos do gênero no Brasil. O Festival vem contribuindo para a renovação no campo da música antiga, introduzindo conceitos de interpretação histórica e formando novos públicos. Foi reconhecido como Patrimônio Imaterial da cidade.
Em 2021, sua realização, inteiramente on-line, contará com uma série de cinco documentários discutindo a relação entre música e pintura e cinco episódios documentais abordando o processo de construção de apresentações musicais.
Atividades:
Série “Ut pictura musica” (diariamente às 20h):
5 documentários fazendo a ponte entre pintura e música, abordando a relação entre instrumentos modernos e antigos, relações sociais e artístico-culturais explicitadas na relação entre música e pintura nos sécs. XVI, XVII e XVIII, reflexões sobre as peças musicais a serem veiculadas logo a seguir na série “Música para os olhos”.
Série “Música para os olhos” (Diariamente às 20h15):
apresentação de obras musicais discutidas nos documentários
Outras informações: http://retoricamusical.com/index.php/juiz/
12º Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos sécs. XVI, XVII e XVIII/USP
Datas: 22 a 26 de novembro de 2021
Direção Científica: Mônica Lucas (USP), Cassiano Barros (UDESC), Gabriel Pérsico (UMA, Argentina), Fernando Cardoso (USP)
Nos séculos XVI, XVII e XVIII, a música e as demais formas de representação simbólica do poder eram sistematicamente regradas, retoricamente projetadas e executadas, e racionalmente percebidas. Hoje, essa produção musical constitui um campo específico de estudos e pesquisas científicas para o qual cada vez mais pesquisadores dirigem seus esforços.
Em 2021, o Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos séculos XVI, XVII e XVIII chega à sua décima segunda edição, visando divulgar e ampliar as possibilidades de diálogo em torno deste tema, que terá como assunto principal de reflexão as relações entre essas formas simbólicas de representação.
A proposta é a transposição do moto horaciano “Ut pictura poesis” (assim como a imagem, a poesia) para “ut pictura musica” (assim como a imagem, a música), para destacar essas relações e pensá-las como possibilidades de acesso e compreensão das teorias, poéticas e práticas da música antiga. Nesse contexto, os 500 anos da morte de Josquin Desprez também são aqui rememorados, na forma de um debate e como eventual temática para trabalhos.
Atividades:
- Abertura (22/11 às 20h): entrevista com Adma Muhana (USP) e Leon Kossovitch (USP)
- Debates:
23/11 às 20h: Ut Leonardo Josquin (Claudio Morla/Escuela Superior de Musica “Manuel de Falla”, Argentina, Luiz Marques/UNICAMP)
24/11 às 20h: Música para os olhos (Carin Zwilling/USP, George Gutlich/UFMG)
25/11 às 20h: Representações do Ethos feminino (Silvana Scarinci/UFPR, Laurie Gutierrez)
26/11 às 20h: Teatro dos Afetos (André Tavares, Laura Rónai)
- Sessões de comunicações: 23/11 a 26/11 às 17h
- 27/11 às 20h: concerto de encerramento
Outras informações e inscrições: http://retoricamusical.com/index.php/usp/