Considerado um dos mais importantes patrimônios de Juiz de Fora e do país, o Cine-Theatro Central completa 92 anos na próxima terça-feira, 30 de março, e as comemorações, deflagradas no início do mês, se estendem até abril. Depoimentos de artistas, produtores e do público em geral fazem parte da programação, que acontece on-line, nas redes sociais do teatro, contando também com uma apresentação especial da Orquestra Sinfônica Pró-Música, sob a regência de Victor Cassemiro, para marcar a data.
Uma grande rede de memórias ligadas ao Central vem à tona para celebrar o principal palco da cidade e da região como forma de reforçar os bons momentos que marcaram sua história, principalmente nas últimas décadas, com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) assumindo a administração do espaço a partir de 1994. À frente do teatro desde 2017, o professor e músico Luiz Cláudio Ribeiro (Cacáudio) adequou as comemorações ao testemunho de artistas e pessoas cujas trajetórias se entrelaçam com a do próprio local.
A pró-reitora de Cultura Valéria Faria destaca a relevância desses testemunhos em vídeo, não apenas por resgatar a memória mais recente do Cine-Theatro, como também por trazer a esse palco, mesmo que não presencialmente, um pouco da força e da expressão que a arte e a cultura, em suas múltiplas formas, continuam a exercer junto ao público. “Mais do que nunca, é importante aproximar as pessoas e a forma que dispomos para fazê-lo é através das plataformas virtuais”, observa.
Personalidades como o cantor Ney Matogrosso, o estilista Ronaldo Fraga e o cineasta José Sette se unem a dezenas de artistas e ao público para homenagear o Central. Paulinho Pedra Azul, Mary e Eliardo França, Iacyr Anderson Freitas, Lúdica Música, Eminência Parda, Caetano Brasil, Dudu Lima e Mamão são alguns dos convidados a falar de suas relações com o teatro.
Emoções à mostra
“Neste momento de pandemia, em que o teatro está fechado e as pessoas passam por esta situação complexa, delicada, de afastamento social, com eventos sem poder ser realizados, o que acaba nos restando, a nós que apreciamos a arte e a cultura, é a esperança de que o espaço volte a funcionar. As comemorações dos 92 anos do Central não poderiam deixar de acontecer, e optamos por resgatar as lembranças dos tempos do Cine-Theatro em plena efervescência”, comenta Cacáudio.
E foi pensando nessa relação da comunidade artística e da sociedade com o Central que o diretor e sua equipe resolveram buscar depoimentos de artistas e figuras da comunidade a respeito das emoções que vivenciaram no espaço. “Afinal, como disse Milton Nascimento certa vez, o Central é a emoção de todos nós. Estamos revivendo essas boas recordações com depoimentos exclusivos, divulgados nas mídias sociais, e tem havido a participação espontânea de diversas pessoas que acompanham as nossas redes”.
“Também direcionamos algumas solicitações a artistas e pessoas da comunidade que têm uma história com o Central para que a dividam conosco. O retorno tem sido excelente e, com isso, temos conseguido resgatar o espírito da arte, da cultura, da beleza e da esperança através das boas lembranças que o Central traz para todos que o conhecem”, avalia.
Para conferir a campanha e os depoimentos basta acessar o Instagram (@cinetheatrocentral) do teatro ou a página do Facebook. Os relatos são veiculados diariamente e, em face da quantidade e da qualidade das participações, as postagens se estendem por todo o mês de abril.
Ao som de Gardel
A Orquestra Sinfônica Pró-Música participa das comemorações com uma apresentação virtual, a ser divulgada em 30 de março, às 20 horas, nas redes sociais do Central. Junto com os instrumentistas, o maestro Victor Cassemiro optou pela interpretação do clássico tango Por Una Cabeza, de 1935, composto para a trilha sonora do longa-metragem Tango Bar. A melodia é de Carlos Gardel e a letra de Alfredo Le Pera.
O maestro cita que o tango integra a trilha sonora de vários filmes e séries, como Perfume de Mulher (1992), O Poderoso Chefão (1972), A Lista de Schindler (1993) e La Casa de Papel (2017). Por Una Cabeza foi uma das muitas músicas já interpretadas pela Orquestra Sinfônica Pró-Música no palco do Central. A apresentação desta terça-feira conta com aproximadamente 25 componentes, sendo que cada músico gravou seu vídeo em home office com posterior edição para a apresentação final.
Tempos de glória
Já apelidada de Manchester Mineira e Princesa de Minas, Juiz de Fora tem uma história marcada por grande destaque industrial e econômico no cenário nacional no início do século XX. A efervescência cultural não tardou, culminando em um projeto que representou sua grandeza. Idealizado pela Companhia Central de Diversões, construído pela empresa Pantaleone Arcuri, com projeto arquitetônico de Raphael Arcuri e decorado por Angelo Bigi, o Cine-Theatro Central foi inaugurado em 30 de março de 1929.
Com capacidade para mais de 1.700 pessoas e localizado no coração da cidade, o Central representa um espaço cultural vital para toda a região. Além de centenas de filmes projetados, recebeu grandes espetáculos de artes cênicas, dança e música, protagonizados por personalidades como Procópio Ferreira, Paulo Gracindo, Bibi Ferreira, Tom Jobim, Maria Bethânia, Chico Buarque, Milton Nascimento, Ana Botafogo, Débora Colker, entre muitos outros.
O espaço foi adquirido pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 1994 e, no mesmo ano, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o que garantiu sua preservação. Em 1996, passou por uma restauração integral, que devolveu ao prédio todo o seu esplendor, sendo ainda alvo de outras reformas de manutenção e preservação ao longo dos últimos anos.
Outras informações: cultura.ufjf@gmail.com