Pela primeira vez em sua história de três décadas, o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga acontece em formato remoto, com transmissão por streaming dos concertos da programação de sua 31ª edição, excepcionalmente também realizada este mês. Como vários eventos culturais ao redor do mundo que foram atingidos pelas medidas de contenção da pandemia, o Festival realizado pela Pró-reitoria de Cultura da UFJF e Centro Cultural Pró-Música/UFJF se adaptou para não passar em branco em 2020. De 21 a 30 de novembro, o público poderá conferir as apresentações gravadas especialmente para o evento pelo canal do Centro Cultural Pró-Música no YouTube.
“Não poderíamos permitir que um festival desta relevância e tradição deixasse de acontecer justamente quando completa três décadas de realização ininterrupta, desde 1990. Temos um compromisso com o público”, afirma a pró-reitora de Cultura, Valéria Faria. Disponibilizar os concertos em plataformas on-line era o caminho natural para viabilizar o Festival, uma alternativa que se consagrou como solução durante a pandemia para eventos culturais até então exclusivamente presenciais, como festivais de cinema, teatro e música.
Artistas brasileiros e estrangeiros, enfrentando restrições de aglomeração e lockdown em países como Holanda, Portugal, Bélgica, Chile e o próprio Brasil, gravaram suas apresentações muitas vezes em casas/estúdios próprios ou locações cedidas para a ambientação dos concertos. Graças à inédita parceria efetuada com o Festival Internacional de Órgão de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso (FIO), de Portugal, as gravações de dois concertos da programação principal de sua sexta edição, realizada em outubro, foram cedidos para o evento juiz-forano. Essa será uma rara oportunidade de o público brasileiro conferir as apresentações desse belo festival, realizado em igrejas portuguesas, que contam com órgãos de tubos históricos e modernos.
“Por causa da pandemia, os três primeiros concertos do FIO tiveram o público drasticamente reduzido, até porque estamos desde o dia 15 de outubro em estado de calamidade aqui em Portugal”, informa por e-mail o diretor artístico, Marco Brescia. Ao anteceder por mais de um mês o evento juiz-forano, o festival português oferece à organização do 31º Festival uma perspectiva positiva da alternativa on-line, adotada pelo FIO para contornar as restrições impostas pela pandemia: “A solução foi transmitir os concertos por streaming e tivemos cerca de 5.600 visualizações, um número que surpreendeu a todos nós da organização e que prova que, apesar da distância física, a quantidade de pessoas que está tendo acesso aos concertos é incrível”, avalia Brescia.
O diretor do 31º Festival e supervisor do Centro Cultural Pró-Música, Marcus Medeiros, aposta no formato para ampliar o alcance do evento, que já tem um público cativo em Juiz de Fora. “Com a disponibilização dos concertos on-line, nossa expectativa é que multipliquemos a plateia e possamos chegar àqueles que nunca puderam estar na cidade para assistir às apresentações. O Festival é reconhecido no meio da música antiga nacional e internacional, mas tem um enorme potencial para conquistar o público além dos limites do município”, afirma, destacando a qualidade da programação.
Concertos
A programação do 31º Festival inclui dez concertos gravados com artistas nacionais e estrangeiros: o quarteto de cravo, viola da gamba, oboé barroco e violino, João Rival, Alon Portal, Beto Caserio e Elise Dupont (Holanda); o cravista brasileiro Edmundo Hora; o duo de cravo e flauta doce, Cláudio Ribeiro e Inês d’Avena (Holanda); o organista italiano Giulio Mercati; a dupla de cravo e canto, Marco Brescia e Rosana Orsini, brasileiros radicados em Portugal; o duo de flautas doces Cesar Villavicencio e Paula Callegari (Uberlândia); o grupo Passos do Barroco, com Clara Couto, Maíra Alvez, Osny Fonseca e Raquel Aranha (São Paulo); o trio chileno Cristián Gutiérrez, Luciano Taulis e Antonia Sanchez (teorba, viola da gamba e oboé barroco); o duo de teorba e flauta doce, Giulio Quirici e Isabel Favilla (Bélgica); e o espanhol Cuarteto Alicerce, que divide a cena com Marco Brescia.
Festival Internacional de Órgão
O FIO – Festival Internacional de Órgão de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso, duas localidades vizinhas entre os distritos de Braga e Porto, no norte de Portugal, é um evento dedicado à valorização do patrimônio orgânico custodiado por essas cidades, por meio da formação de público e da democratização da música organística de excelência. Desde 2015, quando foi criado, o FIO conta com a direção artística do cravista ítalo-brasileiro Marco Brescia, radicado em Portugal, que já contribuiu também com algumas edições do festival juiz-forano.
“Desde a primeira edição, tivemos uma excelente acolhida tanto por parte das autoridades como do público – aliás, esse festival sempre superou todas as nossas expectativas. Até hoje já tivemos quase 7 mil pessoas de público, e estamos falando às vezes de igrejas românicas muito pequenininhas, cuja capacidade não excede algumas dezenas de expectadores. Nos últimos seis anos, oito instrumentos foram adquiridos ou restaurados, e aos poucos o patrimônio vai voltando à vida”, ressalta Brescia.
De sua semana principal de concertos, a parceria com o FIO inclui na programação do 31º Festival as apresentações do organista italiano Giulio Mercati, na Igreja Matriz de São Mamede de Ribeirão, e do também organista Marco Brescia, acompanhado do Cuarteto Alicerce, de Santiago de Compostela, que encerram o Festival no dia 30, interpretando concertos setecentistas para órgão e cordas na Igreja Matriz de São Martinho do Campo.
Musicologia histórica
Realizado a cada dois anos, o Encontro de Musicologia Histórica chega a sua 13ª edição também em formato remoto, com painéis on-line de pesquisadores da área, que tratarão do tema “Musicologia em tempos de crise: retrospectivas e perspectivas”. As discussões do Encontro terão transmissão ao vivo por meio do canal do Centro Cultural Pró-Música no YouTube.
A programação não poderia deixar de repercutir questões suscitadas pelo momento atual, como as que serão debatidas em duas das mesas redondas – “Musicologia no cenário da pandemia” (dia 21) e “Musicologia e Cibercultura” (dia 23). O cenário só não é tema da mesa redonda do dia 22, que vai discutir “O cravo no Rio de Janeiro do século XX”.
31º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga – Edição Virtual
De 21 a 30 de novembro de 2020 – Às 20h, no Canal do Centro Cultural Pró-Música no YouTube*
* Às 19h, palestra do professor de Música da UFJF Rodolfo Valverde faz a contextualização histórica dos programas dos concertos.
PROGRAMAÇÃO
· 21/11 – Le Concert d’Apolon (cravo, viola da gamba, oboé barroco e violino) “Les petits joyaux des Mrs François Couperin et Marais Marais” – João Rival, Alon Portal, Beto Caserio e Elise Dupont (Holanda)
· 22/11 – Concerto de Fortepiano: “Um Fortepiano Vienense em Terra Papagalli” – Edmundo Hora (Campinas/SP)
· 23/11 – Concerto de Cravo e Flauta Doce – Cláudio Ribeiro e Inês d’Avena (Holanda)
· 24/ 11 – Recital de Órgão – Giulio Mercati (ITA/CHE)
· 25/11 – Concerto de Canto e Cravo “Il Pianto della Madonna” – Rosana Orsini (PRT/BR) e Marco Brescia (IT/PRT/BR)
· 26/11 – Concerto do Grupo GReCo – Duo de Flautas Doces – Cesar Villavicencio e Paula Callegari (Uberlândia/MG). Participação especial: María Martínez Ayerza (Londres) e Guilherme dos Anjos (Belém – PA)
· 27/11 – Apresentação Didática de Danças Barrocas: Passos do Barroco – Clara Couto, Maíra Alves, Osny Fonseca e Raquel Aranha (SP)
· 28/11 – Concerto de Teorba, Viola da Gamba e Oboé Barroco “Las Danzas Ocurrentes” – Cristián Gutiérrez, Luciano Taulis e Antonia Sanchez (Chile)
· 29/11 – Concerto de Flauta Doce/Fagote e Teorba – Isabel Favilla e Giulio Quirici (Bélgica)
· 30/11 – Recital de Órgão e Quarteto de Cordas – Marco Brescia (ITA/PRT) & Cuarteto Alicerce (ESP)
Outras informações:
Centro Cultural Pró-Música – produção.promusica@ufjf.edu.br
Pró-reitoria de Cultura – cultura.ufjf@gmail.com