Uma data muito especial merece ser celebrada com uma programação igualmente distinta: o consagrado espetáculo Valencianas, que reúne o compositor e cantor pernambucano Alceu Valença e a conceituada Orquestra Ouro Preto, terá apresentação inédita em Juiz de Fora no próximo dia 30 de março, sábado, em Noite de Gala que comemora os 90 anos do Cine-Theatro Central. O evento promovido pela Pró-reitoria de Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e patrocinado pela Unimed terá convites sorteados para a comunidade acadêmica da instituição e para a comunidade externa, que devem se cadastrar para o sorteio.
Com arranjos do violinista e compositor paraibano Mateus Freire, Valencianas é uma releitura sinfônica da obra de Alceu Valença que promove um diálogo entre o erudito e o popular, respeitando a mescla de tradicionais ritmos nordestinos, como mandacaru, frevo e coco, com a modernidade do pop que caracteriza a música de Alceu. O resultado não poderia ser mais saboroso e emocionante. Quem conhece o CD dessa parceria ou já teve a oportunidade de ver a Orquestra no Central interpretando composições dos Beatles sabe o que pode esperar de mais esse encontro singular.
“De certa forma, o Cine-Theatro Central faz parte da história da Orquestra Ouro Preto. Por diversas vezes, tivemos o prazer de nos apresentar nesse belíssimo teatro, um dos mais importantes do país. É com muita alegria e honra que faremos parte da comemoração dos 90 anos deste patrimônio de todos nós, brasileiros”, afirma o diretor artístico e regente titular Rodrigo Toffolo.
A Orquestra Ouro Preto abre o repertório do concerto com a suíte Valenciana, composição de Mateus Freire que tece uma primorosa rede de trechos da obra do cantor pernambucano. Em seguida a essa introdução, Alceu surge no palco com o violão para revisitar seu repertório ao lado da sinfônica, incluindo hits como Sino de Ouro, Cavalo de Pau, Tropicana, Belle de Jour, Coração Bobo e Anunciação, entre outras composições. Um bloco da apresentação é dedicado exclusivamente ao instrumental da Orquestra, que ressalta todo o lirismo de Alceu e sua riqueza rítmica na interpretação dos sucessos Estação da Luz, Porto da Saudade e Acende a Luz. A viagem pelo repertório valenciano prossegue com o compositor de volta ao palco para a parte final do concerto.
Comemorar os 90 anos do cine-teatro com um concerto remete à própria noite de inauguração do Central, em 1929, quando uma orquestra se apresentou para uma plateia seleta composta por autoridades e pessoas da sociedade. Orquestras são frequentes na programação cultural do Central, principalmente por ocasião dos festivais de música colonial e antiga, e encontram no cine-teatro um espaço adequado a esse tipo de formação musical. Na opinião de Rodrigo Toffolo, o Central, além de imponente e confortável, se destaca pela acústica de “qualidade notável”, que a Orquestra Ouro Preto teve a oportunidade de comprovar em outros dois concertos: Latinidade e Oito Estações: Vivaldi e Piazzolla.
Parceria afinada
O projeto de Valencianas surgiu em 2012, com o objetivo de homenagear a carreira de Alceu Valença, que então comemorava 40 anos de trajetória, e promover o diálogo entre os universos erudito e popular, “algo que se encontra no DNA da Orquestra Ouro Preto” e está em sintonia com seu experimentalismo. Depois de sete anos, essa parceria está mais afinada do que nunca: “A genialidade de Alceu impressiona, e este diálogo que menciono se dá de forma respeitosa entre os dois universos musicais, mas sempre buscando o prazer de se fazer música”, ressalta o maestro.
Valencianas resultou em um CD gravado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, premiado na categoria Melhor Álbum de MPB do Prêmio da Música Brasileira de 2015. Valencianas começou a ser preparado em 2010, quando o maestro e o compositor foram apresentados, em Ouro Preto, por um amigo em comum que se tornaria o produtor do espetáculo, Paulo Rogério Lage, que já planejava proporcionar contornos orquestrais ao cancioneiro de Alceu.
Mais que propor o diálogo entre a música erudita e a canção popular, Valencianas procura demonstrar a universalidade artística de Alceu e a diversidade de sua obra. “O desafio é respeitar aquilo que torna a obra de Alceu Valença única. O espetáculo é grandioso e busca evidenciar a maestria do cantor e a nordestinidade inerente à sua obra, capítulo fundamental na história da música de nosso país, que contribuiu, inclusive, para a ideia de música popular brasileira que temos hoje”, afirma Rodrigo Toffolo.
Alceu Valença também celebra o encontro com a Orquestra. “Num mundo dominado pela indústria do entretenimento, onde tudo é dinheiro e há pouco sentimento, a música de concerto é uma forma de transcendência. Este projeto representa uma nova vertente na minha carreira”, celebra o homenageado.
Para Rodrigo Toffolo, o público juiz-forano pode esperar um “concerto inesquecível, que evidencia a genialidade de Alceu, a força de sua música e de sua poesia, e a excelência e versatilidade da Orquestra Ouro Preto”.
A Orquestra
Uma das mais prestigiadas formações orquestrais do país, a Orquestra Ouro Preto é um grupo jovem e já premiado, que vem se apresentando nas principais salas de concerto do Brasil e do mundo. A orquestra foi criada em 2000 e seu trabalho é marcado pelo experimentalismo e ineditismo.
Rodrigo Toffolo é doutorando em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa, Mestre em Musicologia pelo Departamento de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Toffolo é membro fundador e diretor artístico da Orquestra Ouro Preto e assumiu em 2007 a regência titular do grupo.
O Teatro
O Cine-Theatro Central pertence à UFJF desde 1994, quando Itamar Franco, ao assumir a Presidência da República, repassou pelo Ministério da Educação – na época aos cuidados de Murílio de Avellar Hingel, formado em Filosofia e Letras pela UFJF, ex-secretário de Educação e Cultura de Juiz de Fora e diretor-fundador da Faculdade de Educação – recursos para a compra do imóvel pela universidade.
Naquele mesmo ano, o cine-teatro, já tombado pelo município desde a década de 1980, foi contemplado pelo tombamento em âmbito federal pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A partir deste momento teve início o trâmite para uma grande reforma e restauração do teatro que, na época, se encontrava muito deteriorado.
Reformas e diversos restauros de manutenção também foram feitos no decorrer dos anos, como por exemplo, em 2009/2010, quando foram revistos sistema elétrico, iluminação, sonorização e cenotécnica, e, posteriormente, em 2014, ano em que se restauraram janelas, ornamentos e ladrilhos, e em que foram realizados tratamento e recomposição de pinturas, além da impermeabilização do terraço e das marquises.
Este ano, o Central está recebendo obras de adaptação e ajustes de segurança, com instalação de corrimãos nas escadas laterais de acesso ao segundo e terceiro andares e estruturas de ferro para proteção do guarda-corpo nesses andares superiores.
“Concluímos a maior parte dessas obras a tempo da realização das comemorações dos 90 anos do Cine-Theatro Central, e estamos muito felizes de poder celebrar essa data especial com um espetáculo do nível de Valencianas, além da edição especial do nosso projeto Palco Central em uma parceria com a Feira de Discos [evento que acontece domingo, dia 31]”, ressalta o diretor Luiz Cláudio Ribeiro (Cacáudio).
Para a pró-reitora de Cultura, Valéria Faria, o aniversário do Central é uma oportunidade de exaltar um espaço que, antes de pertencer à UFJF, tem uma relação antiga e especial com Juiz de Fora e os juiz-foranos, que nele identificam “um símbolo da força e da expressão da cultura local, além de ser o palco natural das melhores produções artístico-culturais do circuito nacional que chegam à cidade”.
A retomada da agenda do Central em 2019 será em abril, quando começam a ser apresentados os espetáculos aprovados nos editais de ocupação artístico-cultural, do projeto Luz da Terra e também do Palco Central.
Noite de Gala – 90 anos do Cine-Theatro Central – Valencianas (Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto)
Dia 30, às 21h, no Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa s/n – Centro)
Entrada franca, mediante sorteio de convites para cadastrados.
Sorteio para alunos, professores, TAEs e terceirizados da UFJF
Outras informações:
Pró-reitoria de Cultura (32) 2102-3964
Cine-Theatro Central – (32) 3231-4051