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“Arthur Arcuri: um pingente da arquitetura” homenageia expoente do Modernismo

Mostra de projetos arquitetônicos estará em exposição no Saguão da Reitoria da UFJF a partir do dia 30


Na década de 1960, Arthur Arcuri projetou o campus da UFJF como um dos mais agradáveis do país, assim como contribuiu nas discussões que pensaram a constituição da própria instituição como universidade. Para comemorar o centenário de nascimento do engenheiro-arquiteto juiz-forano, a partir do próximo dia 30 a cidade universitária recebe, no Saguão da Reitoria, Arthur Arcuri: Um pingente da arquitetura, mostra que apresenta os projetos arquitetônicos deste expoente do modernismo brasileiro.

Sob a curadoria dos arquitetos Marcos Olender e Bernardo da Silva Vieira, esta é uma reedição da exposição que foi lançada há dois anos, na primeira Bienal Regional de Arquitetura da Zona da Mata e Vertentes. A mostra “traz uma panorâmica dos projetos de Arthur: alguns institucionais – o projeto do campus universitário, e o da Santa Casa de Misericórdia, por exemplo –, mas dando enfoque na parte de projetos residenciais, além do Marco do Centenário”, aponta Olender.

Os projetos arquitetônicos, divididos em categorias que vão da arquitetura residencial a paisagismo e design, foram obtidos a partir de fotografias e artigos de revista do acervo que hoje pertence à filha do homenageado, Alice Arcuri. Alguns desenhos foram realizados por Bernardo da Silva Vieira, que estudou a arquitetura residencial de Arthur em seu mestrado, e a partir disso fez algumas reconstruções e perspectivas, além de ter realizado o levantamento de parte do material que será exposto.

Caminhar pelo Saguão da Reitoria e observar o fruto do trabalho de Arthur Arcuri é ser orientado pela bússola da cultura, onde o ponteiro que indica o norte é o olhar perspicaz de Arcuri, sempre de vanguarda, apoiado em seu traço modernista e em sua admirável sensibilidade humanista. Características estas que se entrelaçam e revelam tanto um homem à frente de seu tempo quanto uma obra “persistente” e “valiosa”, adjetivos de Lúcio Costa, que anteviu as qualidades das obras de Arthur na contemporaneidade.

Referências “mondriânicas”

Na sua paixão pela arquitetura e pelas artes, Arthur Arcuri tinha algumas preferências que influenciaram explicitamente as suas obras. Entre elas, duas se destacavam: a exercida por Piet Mondrian, pintor modernista holandês, fundador da corrente artística conhecida como neoplasticismo, em que as obras se caracterizam por figuras geométricas e cores primárias, e a do arquiteto Mies Van Der Rohe, um dos mais importantes do século XX.

A influência de Mondrian se manifesta na distribuição dos espaços e na aplicação da cor nesses espaços. “Se você for designar uma das três cores para cada um dos setores de serviço, de circulação e social, verá que, nos projetos do Arthur, a distribuição desses setores em diagrama vai dar uma composição mondriânica”, explica Olender, salientando que as cores que ele utilizava nas fachadas (por exemplo, no colégio Magister) – o vermelho, o azul e o amarelo – são as cores que o Mondrian empregava em suas obras.

Em uma exposição que homenageia a vida e a obra de Arthur Arcuri, seria essencial elencar elementos que apontassem simbolicamente marcas e expressões que abarcassem os projetos de Arcuri. Neste sentido, os curadores procuraram “traduzir na exposição tais elementos, elaborando-a esteticamente, fazendo uma menção a Mondrian, propondo uma estrutura narrativa em painéis retangulares utilizando as cores primárias azul, amarelo e vermelho. Nos painéis azuis, são apresentados de forma mais detalhada os projetos escolhidos para representar a sua produção; nos painéis vermelhos, são inseridos outros projetos considerados também significativos; e nos amarelos encontram-se os textos”, diz Olender.

A escolha, racional e emotiva, de homenagear Arthur Arcuri através de seu próprio legado foi motivada pela proposta de fazer com que o “público se familiarize mais com as obras de um dos maiores arquitetos modernistas brasileiros, que fez uma arquitetura extremamente criteriosa, dentro dos pressupostos daquilo que ele optou como padrão estético, e extremamente inovador em outros”, garante Olender, que também objetiva que o público conheça algumas das inspirações que nortearam a produção da obra de Arcuri.

Simplicidade

Declaradamente um autodidata na área, Arthur Arcuri não se formou em arquitetura, e, sim, em engenharia. Dizia que preferia ser um mau engenheiro a um mau arquiteto, tamanha sua simplicidade e sua paixão pela arquitetura. Simplicidade que também o fazia definir-se como um pingente da profissão que amava. Utilizava a expressão no sentido, conforme o dicionário, daquele “passageiro que viaja no estribo de bonde ou ônibus, ou vai pendurado à porta de um trem”, sendo este veículo, para Arcuri, a própria arquitetura. Entretanto, para Marcos Olender, a definição mais apropriada neste caso é a de “joia ou pedra preciosa que pende em forma de gota e que fica presa em outra”, visualizando em Arcuri várias das qualidades de uma joia rara, valiosa e tão importante para a história da arquitetura brasileira.