Artista mineiro, Hélio Siqueira apresenta no MAMM, a partir do próximo dia 20, exposição Santos todos nós, na qual reúne mais de cem peças em cerâmica
Influenciado pelo barroco, estilo que se consolidou entre os séculos XVI e XVIII e se baseia no esplendor e na exuberância de suas formas e de seus discursos, Hélio Siqueira criou uma série de imagens que, num primeiro momento, se afinam muito mais com as expressões primitivas do que com o movimento ligado ao catolicismo. O espinho da coroa de Jesus, que, segundo a biografia de Santa Rita de Cássia, desprendeu-se da imagem do crucifixo e espetou a testa da santa, foi substituído por um robusto prego na criação de Siqueira. As feições angelicais e delicadas da santa também surgiram com maior rudeza, numa aposta do artista por maior dramaticidade e naturalidade das formas. “Apaixonei-me pela cerâmica, e, nessa técnica milenar de expressão, encontrei uma maneira de ampliar meus conceitos de artista, unindo as duas pontas: do erudito ao popular, do sacro ao profano”, explica Siqueira, que inaugura a exposição Santos todos nós, na próxima quinta-feira, dia 20, às 20h, no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM).
Natural de Ouro Fino, interior de Minas Gerais, Hélio Siqueira iniciou-se nas artes na década de 1970, quando já havia se envolvido com a Igreja Católica, “tanto na capela perto de casa, quanto na igreja matriz de Ouro Fino”. Ex-seminarista, o artista se interessou, desde o início de sua trajetória, pela temática do sagrado, mas, ao abrir mão da pintura e dedicar-se à cerâmica, atingiu o que considera como sendo o ponto mais difícil: equilibrar o discurso sagrado, criando espaço para o profano, sem se deixar levar por uma postura subversiva. “Santos assombram as retinas, movem a fé para a arte, religam a mão que faz ao espanto da criação. A terracota cifra o fascínio milenar que o artista contemporâneo traduz em inovação sedutora”, reflete Ângelo Oswaldo em texto de apresentação da mostra.
Elementos naturais
Entre o popular e o erudito, as cerâmicas de Hélio Siqueira denunciam suas múltiplas possibilidades de expressão. Lançando-se ao extremo do natural, o artista escolheu uma técnica que em si já carrega uma grande força discursiva. Extenso e complexo, o processo de produção das peças se inicia com a modelagem do barro – Siqueira utiliza, majoritariamente, o barro da região do Triângulo Mineiro, coletado nas margens do Rio Grande – e depois é levado ao fogo em altas temperaturas. Para não quebrar, é planejado um respiro nas peças, no qual o ar se desloca. Preocupado em atingir diferentes tonalidades, que vão de um cinza grafite a um rosa avermelhado, o artista optou por quatro diferentes fornos para a queima: forno a lenha, forno de buraco, forno de papel e forno Noborigama.
Segundo Siqueira, a fragilidade na confecção das obras expostas reflete, também, os riscos do artista. “O artista vive na corda bamba”, aponta. Para Ângelo Oswaldo, tal exercício se traduz em poética contemporânea. “Hélio Siqueira busca o barro barroco para compor sua galeria de tânagras. Toma o enigma fundador do mito e perfila legiões de ícones perplexos”, discute Oswaldo.
Sobre o artista
Dono de uma vasta trajetória, Hélio Siqueira reúne importantes prêmios e participações em destacados salões e bienais pelo país. Licenciado em Letras pela Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino, em Uberaba, pós-graduou-se em Ação Cultural pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Estudou com renomados artistas brasileiros, como Amilcar Castro, Geraldo de Barros, Teixeira Coelho, Yara Tupynambá, Nello Nuno, José Maria Ribeiro, Jarbas Juarez, Álvaro Apocalypse, Frans Krajecberg, Eugênio Paccelli, entre outros. Entre suas mostras individuais, destacam-se “Território de Louvor e Glória”, de 1995, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte; “Santas Loucuras”, de 1998, na Galeria Elizabeth Nasser, em Uberlândia; “Oratórios”, de 2002, no Centro Cultural José Maria Barra, em Uberaba; “O Barro Barroco de Hélio Siqueira”, de 2007, no Hall dos Vitrais da Caixa Econômica Federal de Brasília.