Como pró-reitor de Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora, por mais estranho que pareça, manifesto solidariedade ao ator e diretor Gueminho Bernardes quanto à sua indignação, postada no Facebook, acerca das pichações estampadas no Cine-Theatro Central, compartilhada por tantos identicamente preocupados. Tratar um infrator de crime contra o patrimônio público de grafiteiro é ignorar o conceito de grafite e denegrir a imagem dos artistas que se expressam por essa linguagem, que digna e autenticamente são chamados de grafiteiros.
Sobre o mérito dos grafiteiros, em data não muito distante, o Museu de Arte Murilo Mendes abrigou nas suas paredes, sob o tema A Guerra, o trabalho desses criadores (Lúcio Rodrigues, Thiago Campos e André Castanheira) que recriaram obras dos consagrados artistas internacionais Rousseau, Picasso, Lichtenstein; o que representa reconhecimento àqueles que, criteriosamente, ocupam o mobiliário da urbe (atentem para a avenida Paulista em São Paulo) e obtêm aplauso do mercado de arte, inclusive valorizando-a para dentro das convencionais galerias.
Rechaço todas as ações depredatórias que golpeiem a memória da cidade. Assim , a ação revitalizadora da pintura externa do Cine-Theatro Central, edificado em 1929, não justifica liberação para delitos contra um patrimônio que é de todos nós.
O grafite é uma questão do processo da cultura, enquanto o crime é uma questão de segurança. Concluo indagando: a quem compete essa segurança?
José Alberto Pinho Neves
Pró-reitor de Cultura
Universidade Federal de Juiz de Fora