Marcos Marinho coordena leitura do poema modernista
no próximo dia 13, às 20h, no projeto Leituras Temáticas
“Um dia/ eu hei de ir morar nas terras do Sem-Fim:/ Vou andando caminhando caminhando/ Me misturo no ventre do mato mordendo raízes/ Depois /faço pussanga de nó de cabelo/ Então mando chamar a Cobra Norato”. Assim o poeta modernista Raul Bopp inicia a primeira edição de Cobra Norato, seu principal livro e uma das obras mais importantes do movimento modernista. Dando continuidade à comemoração dos 90 anos da Semana de Arte Moderna de 22, o Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) apresenta, no dia 13, às 20h, uma leitura teatralizada do texto, com a coordenação do ator e diretor Marcos Marinho, atuação de Marinho, Julio Phenix e Aliciane Rodrigues e participação especial de Fabrício Conde. “A leitura do poema será feita pelo grupo que temos no Espaço Mezcla, que, desde 2002, realiza ciclos de leituras de peças teatrais e de textos de cunho literário, como uma forma de conhecer o universo da cultura e da literatura brasileira e sul-americana”, afirma.
“Cobra Norato é um poema que conheço há bastante tempo e ao qual recorro de vez em quando, uma vez que retrata um Brasil pouco conhecido”, comenta Marinho. Segundo o ator, a região sudeste é apenas uma das regiões que compõem o país, mas muitas vezes ficamos limitados culturalmente a esse entorno. “A literatura, assim, é um dos caminhos para se conhecer essas outras regiões. Um caminho que, infelizmente, é restrito a poucos, mas um caminho”, conclui.
Mitologia: Entre o selvagem e o folclórico
Lançado em 1931, o livro apresenta um drama épico e mitológico nas selvas amazônicas, incorporando à moderna estrutura do verso livre elementos da fala da região. Na história, o poeta estrangula Cobra Norato, um dos personagens de lendas do folclore amazônico, e entra no couro do animal. Então, percorre os caminhos da floresta em direção a Belém do Pará, em busca da filha da Rainha Luzia, com quem deseja se casar. Pelo caminho, encontra o selvagem universo da fauna e da flora amazônicas. “Rios magros obrigados a trabalhar descascam barrancos gosmentos. Raízes desdentadas mastigam lodo”, descreve Bopp no livro. Por seus relatos vigorosos, pelo lirismo, e pelo uso criativo das raízes populares, o poema é hoje considerado um clássico da literatura brasileira. Murilo Mendes afirmou que, “na linguagem, Bopp, forjador de um léxico saboroso, fundiu sabiamente vozes indígenas e africanas, alterando a sintaxe, sem cair nos exageros e preciosismos de Mário de Andrade”.