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Leituras e releituras musicais

Pianista Maria Alice de Mendonça apresenta recital em comemoração aos 90 anos da Semana de 1922, no próximo dia 23, às 20h, no Musicamamm

 

“A música do século XXI deu origem a transformações múltiplas. O estilo não é mais o critério principal na música”, escreve a pianista e compositora juiz-forana Maria Alice de Mendonça em seu livro Música e (Cons)Ciência – Vibrações de uma Realidde Multidimensional. Reconhecida internacionalmente por sua atuação na música contemporânea, com interpretações criativas e composições intuitivas, a pianista apresenta o recital Celebração aos 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922 no projeto Musicamamm, do Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM). O concerto, que inaugura no museu uma série de eventos em homenagem à semana de arte, acontece dia 23 de maio, às 20h.

 

Retorno histórico às raízes

No início do século XX, a música era feita nos moldes saxões, da chamada primeira escola de Viena, dos quais faziam parte Haydn, Mozart e Beethoven. “Os movimentos nacionalistas que eclodiram nesse contexto, como a Semana de Arte Moderna no Brasil, trouxeram a atenção do público para uma produção cultural que se distanciava do formato hegemônico”, afirma a pianista. Desse modo, o concerto se constitui por obras nacionalistas de diferentes partes do mundo, como Claude Debussy (Arabesque nº 1), Heitor Villa-Lobos (Preludio, Dance e duas Bachianas Brasileiras n º 4), Astor Piazzolla (Verano Porteño, Milonga Del Angel e Invierno Porteño) e Sergei Prokofiev (Sarcarms op. 17). Entre os autores brasileiros, além de Villa-Lobos, estão Lorenzo Fernandez (Jongo), Camargo Guarnieri (Ponteio nº 49), Ernesto Nazareth (Odeon) e Fructuoso Vianna (Dança de Negros).

Marca de Maria Alice, o recital ainda contará com uma composição autoral da pianista, Holosonia, criada no momento da apresentação. “Tocar uma música multidimensional em meio à celebração da Semana de Arte Moderna é fazer o mesmo movimento que foi feito pelos modernistas: trazer o que há de mais novo de criação artística mundial para o Brasil”, comenta Maria Alice. A realidade multidimensional da música contemporânea foi tema da tese pela qual a artista obteve o título de doutora em Piano pela University of California, Los Angeles (UCLA).

 

Entre a pesquisa e a prática

Usando teorias científicas, como a física quântica, a cosmologia e a holografia, além de produções musicais contemporâneas e estudos recentes sobre as conexões entre música e consciência, o trabalho discute as maneiras pelas quais a música multidimensional estaria ligada ao desenvolvimento da consciência humana e como isso transforma o papel da música, do intérprete e do compositor para o século XXI. “Essa música sai da melodia e entra em tons espaciais. Sai de ritmos medidos e entra em ritmos fluídos. É uma música viva, pois temos a sensação de presença, de que estamos vivendo o agora”, comenta Maria Alice. “Lembrando a física quântica, a música multidimensional traduz a energia em sons e movimentos”, conclui.

Professora de piano da UniRio desde 1997, a artista reúne diversos prêmios, no Brasil e no exterior, além de posições de destaque no Festival de Música Badia di Cava, na Itália, e no Festival Internacional de Música de Villaller, na Espanha, ambos em 1997. Somando passagens por países como Estados Unidos, Suíça, Alemanha, Rússia, Maria Alice é constantemente elogiada pela crítica especializada, seja por seus recitais, seja pelos álbuns lançados, Metamorphosis e Transcendental, que combinam improvisações, música clássica, jazz e música oriental.