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MAMM lança livro de Eula Pinheiro sobre Saramago

Resultado de 26 anos de pesquisas,

“José Saramago: Tudo, provavelmente, são ficções; mas a literatura é vida” encerra com chave de ouro a programação do projeto Leituras Temáticas para 2012

Apaixonada pela obra de José Saramago muito antes de o escritor português conquistar, em 1998, notoriedade mundial com o Nobel de Literatura, a pesquisadora Eula Pinheiro transforma em livro o resultado de seu mergulho sobre a obra do mestre. Publicado pela Musa Editora em abril de 2012, José Saramago: Tudo, provavelmente, são ficções; mas a literatura é vida será lançado no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), nesta quinta-feira, às 19 horas, dentro do projeto Leituras Temáticas, que se destina à divulgação de investigações artísticas e culturais.

Segundo a autora, que é natural de Paraíba do Sul e se graduou em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 1985, a escolha da cidade para apresentar em primeira mão seu trabalho significa a oportunidade de prestigiar os juiz-foranos antes de São Paulo, Rio de Janeiro e Lisboa, que integram sua agenda inicial de lançamentos. Eula Pinheiro também foi professora substituta durante o período compreendido entre 1995 e 1999, no antigo Instituto de Ciências Humanas e Letras da UFJF.

Única estrangeira a fazer parte da Fundação José Saramago, como investigadora, voluntária e amiga da casa, como faz questão de frisar, Eula Pinheiro destaca a relação que se pode estabelecer entre o autor lusitano e Murilo Mendes, fortalecida a partir dos laços atados por Maria da Saudade Cortesão Mendes, mulher do poeta juiz-forano, que era portuguesa. A pesquisadora lembra que trabalhou para o MAMM à época em que ainda era o Centro de Estudos Murilo Mendes, entre os anos 2000 e 2004.  “Os dois escritores tinham outros amigos em comum, como a crítica literária italiana Luciana Stegagno Picchio, também especialista em literatura de língua portuguesa, e o artista plástico espanhol Rafael Alberti”, observa.

Longo caminho

O livro tem bases iniciais em sua dissertação de mestrado apresentada em 1993 na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De lá para cá, continuou sua busca, se debruçando sobre a primeira fase da obra de José Saramago, identificada por ele mesmo como Estátua. Os objetos de suas investigações foram Manual de pintura e caligrafia, de 1976; Levantado do chão, de 1980; Memorial do convento, de 1982; O ano da morte de Ricardo Reis, de 1984; A jangada de pedra, de 1986, e História do Cerco de Lisboa, de 1989. Manual despertou a atenção da estudiosa, que o considera um marco para o clareamento de sua proposta. Para se aprofundar no tema, a pesquisadora fincou bases em Portugal, onde é doutoranda na Universidade Nova de Lisboa (UNL), trabalhando sua tese em torno da obra não ficcional do escritor.

José Saramago: Tudo, provavelmente, são ficções; mas a literatura é vida integra a programação das comemorações oficiais em torno dos 90 anos que o escritor português faria no último dia 16 de novembro. O livro, que será vendido a R$ 46,00, inclui um Caderno de Fotos, com imagens selecionadas das viagens que a autora realizou pelas rotas saramaguianas, contendo referências aos seis romances pesquisados. A capa é de autoria de Raquel Matsushita inspirada em tela da artista plástico português Júlio Cesar, intitulada O dia seguinte. O posfácio foi escrito por Domingos Lobo, escritor português laureado como Prêmio Literário Cidade de Almada com a obra inédita Para guardar o fogo.

Laços estreitos

Acolhida pela Fundação José Saramago, fez amizade com Pilar Del Río, viúva do escritor, que referendou os esforços e a importância do trabalho da brasileira, prefaciando seu livro. Segundo Pilar, trata-se de uma publicação “indispensável para os que amam a obra de José Saramago, ou seja, o autor que construiu a realidade à base de ficções que nos fortalecem e dignificam”.

Em Portugal, Eula Pinheiro chegou a participar de momentos especiais em homenagem ao escritor, como a cerimônia de deposição de suas cinzas – um ano depois de sua morte, ocorrida em 2010 – nos jardins da emblemática Casa dos Bicos, em Lisboa, para onde foi transplantada uma oliveira da vila Azinhaga, sua terra natal. “Esse dia foi muito emocionante. Aliás, José Saramago era um homem que emocionava a todos. Tínhamos receio de que a árvore, que era a sua preferida, não sobrevivesse à mudança. Pilar levou as cinzas, a filha Violante depositou um livro e a ministra da Cultura de Portugal [Gabriela Canavilhas] colocou uma flor branca”, relata.

No decorrer de 2011, Eula Pinheiro também esteve presente na solenidade de inauguração da biblioteca da Casa de Lanzarote, nas Ilhas Canárias, e na pré-estreia mundial do longa-metragem José e Pilar, documentário de Miguel Gonçalves Mendes sobre a vida do casal, no Rio de Janeiro. Além disso, foi a única brasileira convidada a participar da abertura da Sala José Saramago na Biblioteca Municipal Palácio Galveias, em Campo Pequeno, Lisboa.

Próximos passos

Já instalada, em Lisboa, no apartamento de um prédio datado do século XVIII, considerado como a sua Claraboia – referência ao romance de José Saramago, cujos originais foram esquecidos durante 50 anos por uma editora e publicados apenas após sua morte, segundo orientação do próprio escritor-, Eula Pinheiro vislumbra a realização de uma trilogia a partir de seu primeiro livro. A pesquisadora prefere não dar maiores detalhes de seus planos, que ainda serão discutidos com a Musa Editora.

Há também, em aberto, o projeto de transformar em coleção infantil as rotas saramaguianas que percorreu ao longo de sua pesquisa. Nos livros destinados a crianças, a autora pretende mostrar os cenários onde José Saramago situa suas histórias, trazendo seu universo até o público infantil.  O escritor português teve duas únicas obras publicadas especificamente para a infância: O silêncio da água e A maior flor do mundo.

Lançamento do livro José Saramago: Tudo, provavelmente, são ficções; mas a literatura é vida, de Eula Pinheiro

Dia 20 de dezembro, quinta-feira, às 19h.

Museu de Arte Murilo Mendes – Rua Benjamin Constant, 790 – Centro.

Outras informações: Pró-reitoria de Cultura: 2102.3964 | Produção MAMM: 3229.7622.