“Só tive uma vocação neste mundo, a da poesia como uma totalidade”
Exposição no MAMM, que será aberta no dia 8, às 20h, recorda um dos mais importantes prêmios recebidos, há 40 anos, pelo poeta Murilo Mendes
Murilo Mendes, não apenas na literatura que fazia, mas em toda a sua trajetória pessoal, sempre tratou de resgatar e reverenciar suas raízes mineiras. Nascido em Juiz de Fora no dia 13 de maio de 1901, Murilo transferiu-se para Niterói, a fim de ingressar no Colégio Santa Rosa, em 1918, e, dois anos depois, mudou-se por definitivo para o Rio de Janeiro. Os pouco mais de 16 anos vividos em território mineiro foram tempo necessário para despertar o jovem para o prazer da escrita. Em 1910, então com 9 anos de idade, Murilo viu passar no céu o cometa Halley, momento que lhe marcou de forma significativa, e ao qual atribui seu despertar para a poesia. No mesmo ano, estreitou seus laços com o poeta Belmiro Braga, amigo de seu pai e dono de uma atraente biblioteca. Fundamental para o exercício poético de Murilo, suas raízes foram alvo de grande deferência quando o poeta foi contemplado com o Prêmio Internacional de Poesia Etna-Taormina, em 1972, considerada à época uma das mais importantes distinções europeias. Em homenagem aos 40 anos da premiação, o Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) inaugura na próxima quinta-feira, dia 8, exposição no Espaço Lugar de Honra recordando o momento.
Em visita ao Brasil para a divulgação do livro Poliedro, Murilo foi entrevistado pelo jornalista e escritor Antônio Carlos Villaça e disse que, após a comunicação oficial feita pelo comitê do prêmio, recorreu à embaixada brasileira em Roma para comunicar o feito. “O Prêmio era do Brasil”, bradou o poeta, que diante de tal distinção se reunia a nomes como os de Dylan Thomas, Jules Supervielle, Tristan Tzara, Giuseppe Ungaretti, agraciados em edições anteriores. “Falei que só tive uma vocação neste mundo, a da poesia como uma totalidade. Nem o mal nem a morte vencerão. Quem vencerá é a poesia”, contou a Villaça sobre o discurso proferido na solenidade de premiação.
Considerado pelo dramaturgo Eugène Ionesco como o grande Nobel da poesia na segunda metade do século XX, o Prêmio Internacional de Poesia Etna-Taormina eleva, por definitivo, o nome do poeta mineiro na cena internacional. Tido, hoje, como um grande expoente da intelectualidade modernista europeia, Murilo Mendes foi indicado à honraria pela antologia poética Poesia Libertá, organizada pelo pesquisador, tradutor e diretor teatral Ruggero Jacobbi, e publicada pela Academia Sansoni, prestigiada editora italiana que, desde a década de 1980, pertence ao grandioso grupo RCS. Bilíngue, a obra permitiu, quando de seu lançamento, uma completa visualização do percurso literário de Murilo. Em sua coluna no Jornal do Brasil, o poeta Carlos Drummond de Andrade comemorou a congratulação do amigo mineiro em ritmo futebolístico: “É hora de tremular bandeiras, minha gente; de buzinar, badalar, clarinar, tirar o chope mais geladinho, entoar o jingle, a canção báquica em louvor do juiz-forano esguio e ilustre cuja poesia sensibilizou juízes európicos cheios de nove-horas, de sutilezas críticas, de critérios mais-que-abstratos”. Cobrando maior atenção de seus conterrâneos, a escritora juiz-forana Cosette de Alencar publicou em sua coluna Canto de Página, no Diário Mercantil, um exaltado pedido de homenagem ao amigo: “Que homenagem cuida prestar ao poeta pela láurea maior que agora recebeu? […] E agora? Não se tomará conhecimento da premiação outorgada a Murilo Mendes? Palpita-me que não, que conheço bem minha cidade”. As paredes do museu, que carrega o nome do poeta, respondem aos brados de Cosette, no compromisso de não deixar silenciar os versos que ganharam o mundo.
Exposição Murilo Mendes: 40 anos do Prêmio Internacional de Poesia Etna-Taormina
Espaço Lugar de Honra
A partir de 8 de novembro.
Museu de Arte Murilo Mendes – Rua Benjamin Constant, 790 – Centro.
Outras informações: Pró-Reitoria de Cultura: 2102.3964 | Produção MAMM: 3229.7622