Portuguesa Virgínia Mota, artista colaboradora do setor educativo do MAM do Rio de Janeiro, conversa com o público no próximo dia 26, às 19h, no MAMM
Ressignificar é verbo de ordem no Núcleo Experimental de Educação e Arte, setor educativo do Museu de Arte Moderno do Rio de Janeiro (MAM-Rio). Segundo o grupo, que reúne artistas, educadores e produtores culturais, o objetivo do núcleo é tornar o espaço do museu ambiente de “criação coletiva e território de compartilhamento de múltiplas vozes”. Dessa forma, pensam e repensam as criações artísticas modernas e contemporâneas, a questão do patrimônio cultural e o papel histórico e simbólico do museu na cidade. Espaço de complexidades e multiplicidades, o setor é patrocinado por órgãos públicos e instituições de iniciativa privada, numa prova de sua singularidade no cenário museal brasileiro. Artista colaboradora do Núcleo desde 2010, a portuguesa de Matosinhos Virgínia Mota relata as experiências do setor educativo do museu na terceira edição do projeto Educadores de Museus Brasileiros no Museu de Arte Murilo Mendes, que acontece na próxima terça, às 19h.
Licenciada em Artes Plásticas pela Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Matosinhos, e mestranda em Estética e Filosofia da Arte na Universidade Federal Fluminense (UFF), Virgínia possui um vasto currículo artístico: já integrou duas residências da Fundação Calouste Gulbenkian, da qual também foi bolsista, do Centro Nacional de Cultura, e do Instituto das Artes e Ciência Viva, além de já ter participado de coletivas em países como Brasil, Portugal, Inglaterra, França, Itália, Bélgica, Alemanha e Canadá. Pesquisadora de grande produtividade, Virgínia modificou sua percepção da ação educativa após atuar em museus brasileiros. “De algum modo, centrar a atenção de um trabalho educativo sobre formas do fazer torna-se mais revelador que qualquer discurso sobre uma obra ou uma técnica. Entende-se mais sobre o fazer fazendo”, reflete a artista no texto Sobre práticas artísticas e educação, publicado no site do núcleo.
Arte para inquietar
Segundo a professora do departamento de sociologia da UFF Lígia Dabul, no artigo Fogo solto: Questões sobre a reconfiguração de práticas educativas em museus de arte, veiculado na publicação digital do MAM-Rio, a abertura dos museus e a inserção do público na compreensão e reflexão da obra de arte permitem uma nova configuração da cultura no meio social. “Tal como a cultura, a arte não é repertório guardado de objetos, ideias ou valores, sabemos, mas dos objetos, ideias e valores em uso, o que implica em experiência, em contato, em um aqui e agora que inclui presença — corpos e seus pensamentos e sentidos”, defende Lígia.
No exercício de dessacralizar o museu, o Núcleo Experimental de Educação e Arte utiliza-se do espaço interno e do entorno do MAM-Rio para refletir sobre arte. A cada visita, o setor educativo passa, no mínimo, duas horas com os visitantes. “Nós temos alguns princípios, dentre eles, consideramos que o museu é também a casa das pessoas”, defende Virgínia, que, em sua rotina de trabalho, recebe de presidiários a crianças em situação de risco, além de grupos escolares e deficientes visuais. “Quem vê e quem não vê partilham suas sensações na certeza de que cada indivíduo percebe aquela arte de uma forma ímpar”, explica, enfatizando a noção de compartilhamento sempre presente no discurso do grupo. “Nossa principal tarefa é mostrar como a atividade artística pode fazer parte do cotidiano das pessoas”, defende, numa nítida postura de naturalidade perante a arte.