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Malditos filmes invisíveis

Cinemamm recebe pesquisador Remier Lion, no dia 27, às 19h, e apresenta filmes populares brasileiros

 

O chamado cinema popular brasileiro, pensado e produzido para atender às expectativas do grande público, era condenado pela crítica e pelos pesquisadores como um dos piores cinemas já feitos no país. “Dessas iniciativas, surgiram alguns clássicos, algumas pérolas e vários atentados à linguagem cinematográfica. Mas o caso é que alguns desses atentados, no entanto, possuem uma energia criativa e uma capacidade de comunicação bastante superior a de muitos dos clássicos mais famosos da história oficial do cinema brasileiro”, afirma o pesquisador Remier Lion, que vem a Juiz de Fora para uma conversa com o público no dia 27, às 19h, na segunda edição do Cinema em Foco. O evento é uma parceria do MAMM com o Grupo de Pesquisa CPCine – História, Estética e Narrativas em Cinema e Audiovisual e com professores do Curso de Cinema e Audiovisual do Instituto de Artes e Design da UFJF.

Durante a palestra, serão exibidos trechos de filmes, compondo um panorama do cinema popular produzido no Brasil até a década de 1980, um cinema com regularidade e sem qualquer investimento ou incentivo direto do Estado. “Quis evitar títulos de filmes, o foco é mais nos modelos de produção e de entretenimento que os cineastas brasileiros arriscaram ao longo do século XX para fazer a máquina funcionar do ponto de vista do negócio lucrativo”, explica Lion, que já trabalhou como pesquisador na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, nos arquivos de documentação dos Estúdios Cinematográficos Cinédia e também como programador de filmes na Cinemateca Brasileira.

 

O cinema popular

A seleção de filmes, segundo Lion, inicia-se nos anos 1930, com apresentação de trechos de diferentes comédias musicais, gênero dominante até o início dos anos 1960. Na passagem para os anos 1970, afirma o pesquisador, com a popularização da TV como espaço privilegiado para a música e a comédia tradicional, o cinema popular produzido no Brasil explorava cada vez mais as temáticas ligadas à liberalização dos costumes, iniciada no final dos anos 1960. Contudo, o encontro com o público não se limita apenas a apresentar esse tipo de cinema para as plateias que não o conhecem. “Vamos discutir porque este cinema brasileiro ficou estigmatizado por determinados segmentos da classe média e discutir como que as estratégias para ocultá-lo e excluí-lo da história obedeceram muito mais a um projeto econômico de determinadas elites do que a quaisquer questões moralistas ou estéticas”, ressalta.

No início dos anos 1990, na contramão dos estudos acadêmicos realizados na época, Lion começou suas pesquisas e desenvolveu mostras em torno do cinema popular brasileiro dos anos 1970 e 1980. Seu convívio com cineastas como Ivan Cardoso, Julio Bressane e Rogério Sganzerla, sendo colaborador eventual desses diretores em algumas produções, foi fundamental para sua pesquisa.

Sem formação universitária, o pesquisador desenvolveu seu interesse pelo cinema brasileiro, primeiro como cinéfilo, depois através do trabalho em instituições voltadas para a memória e preservação de filmes. Atualmente, recolhe material de arquivo para documentários, tendo trabalhado como pesquisador nos longas-metragens Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho, e Marighella, de Isa Grinspum Ferraz. Em 2008, publicou a biografia Ivan Cardoso – O mestre do Terrir, editada pela Imprensa Oficial de São Paulo.

 

Independentes

As mostras organizadas por Remier Lion durante a última década colaboraram para a ressignificação de um cinema que até então estava condenado à “lata do lixo da história” pelos círculos de investigação universitários e de arquivos de filmes. Admitiu-se, então, que o cinema popular desenvolvido no Brasil até os anos 1980, pela diversidade de temas, abordagens, gêneros e estilos cinematográficos, era digno de atenção e ultrapassava a simplória divisão entre chanchadas e pornochanchadas.

O sucesso de crítica e de público dessas mostras impulsionou novos projetos de exibição, sempre sem qualquer patrocínio, como o cineclube Malditos filmes brasileiros!, realizado em 2004, na Casa França Brasil, no Rio de Janeiro; e uma série de mostras realizadas em parceria com a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, como Proibido para menores – Os maiores clássicos da Boca do Lixo, em 2005, e a maratona Malditos filmes brasileiros!, destaque da programação da primeira edição da Virada Cultural de São Paulo, no mesmo ano.