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O riso como expressão crítica

Ator e diretor Marcos Marinho fala sobre sua trajetória em depoimento para o projeto Diálogos Abertos, na próxima terça-feira, às 20h, no MAMM

 

Há uma crítica fina pairando sobre o cotidiano de Marcos Marinho. Na rua, nos palcos, ou no simples vaivém da vida, Marinho mostra-se atento. Certamente, deve-se ao exercício constante de autoconhecimento, que o permitiu criar Zé Boléo, o palhaço que sai às ruas com a trupe Caravana de Palhaços. Principal mestre de Marinho, o ator, diretor e pesquisador Marcio Libar, no livro A nobre arte do palhaço, aponta que “é justamente esse nosso lado esquisito, torto e feio a fonte de mágica do risível”. Libar, que dá vida ao palhaço Cuti Cuti, defende que a arte do palhaço consiste na aceitação de sua inadequação no mundo. Essa inquietação, seja na arte pela qual milita, seja na rotina como cidadão, promete dar o tom do depoimento do ator e diretor Marcos Marinho para o projeto Diálogos Abertos, do Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), no próximo dia 19, às 20h.

Afeito às questões socialistas, ainda jovem, Marinho ingressou no Seminário Santo Antônio e, em seguida, no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro. A experiência religiosa, apesar de não ter se tornado vocação, levou-o aos estudos filosóficos. A graduação em Filosofia, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), segundo ele, serviu-lhe para um pensamento crítico, “para saber aguçar a curiosidade com tudo, com a vida”, além de lhe despertar um maior interesse pelas artes. Presente na cena teatral de Juiz de Fora desde 1983, já trabalhou em diversas áreas de um espetáculo teatral, seja como figurinista, cenógrafo, diretor, iluminador, preparador físico, e por aí vai. Mas é enfático ao defender sua preferência: “Sou ator, adoro estar em cena atuando”.

 

A serviço do palco

Homem de muitas faces, ator múltiplo, dono de muitas vozes, diferentes caras e bocas, Marcos Marinho envolveu-se, já no início de sua trajetória, com expressões  contemporâneas. Alucinado, ainda na plateia, com as inovações do diretor Henrique Simões na peça Missa Leiga, integrou o grupo Corpo-en-cena, marco das artes cênicas na cidade. “O teatro do Simões, do grupo Sensorial, era extremamente corporal, musical e com certo experimentalismo nos cenários e figurinos, além da escolha de temas e textos fortes. Isso foi muito importante para mim”, comenta Marinho, que, anos depois, decidiu estudar Commedia dell’arte, na Itália, e afinou-se com a dramaturgia contemporânea latino-americana, em Cuba.

Do teatro de improviso apresentado nas ruas e em praça pública, apreendido na Europa, para a arte do clown como forma de manifesto nas ruas de Juiz de Fora, alguns anos se passaram, repletos de trabalho em diversas companhias. Numa oficina com Marcio Libar, “depois de passar por alguns constrangimentos e longas horas de fortes emoções”, Marinho viu nascer Zé Boléo, um personagem que se difere dos já interpretados anteriormente, em peças como Quero Comer, Aguirre!, Um jantar para quatro estações, Casa de Orates, Andalheiros, entre outras.

Outro sucesso do ator, o espetáculo Meu dia perfeito já conquistou países como Chile e Equador, além de diversas cidades de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Escrita e dirigida pelo ator Ricardo Martins, a peça relata um dia na vida de Senhor M, um homem comum que fala por meio de gestos e balbucios, numa intenção teatral de universalizar-se. Uma ação que não se diferencia do caráter político que Marcos Marinho faz questão de agregar a sua vida. Cofundador do Partido dos Trabalhadores de Juiz de Fora, o artista está sempre em movimento, pensando e repensando tudo, constantemente insatisfeito. “Quero uma sociedade mais equilibrada economicamente. As consequências disso seria uma vida mais saudável, em todos os sentidos, para todos”, protesta, reivindicando para a vida a leveza e a crítica dos palhaços.

Marcos Marinho será entrevistado pelo ator Ricardo Martins, pelo maestro e professor do IAD/UFJF André Pires, pelo ator e diretor José Eduardo Arcuri e pela atriz e jornalista Raphaela Ramos, sob mediação do pró-reitor de Cultura, prof. José Alberto Pinho Neves.