Convidada pelo projeto Diálogos Abertos, socióloga Maria Andréa Loyola resgata atuação política e social na próxima terça, 29, às 20h, no MAMM
Dos sombrios restos do período ditatorial no Brasil, Maria Andréa Loyola guarda recordações luminosas de contatos intelectuais intensos: “No começo, foi muito doloroso. Mas, graças ao exílio, tive chances de participar de um ambiente intelectual muito interessante”. Formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 1960, e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1969, Maria Andréa era professora no Instituto de Ciências Humanas da UFJF, quando, em 1969, o Decreto-Lei 477 levou-a à aposentadoria forçada. Um dos primeiros casos de desligamento da universidade pública brasileira pelo governo militar, e, posteriormente, pioneira por sua reintegração, a socióloga rememora sua trajetória, no próximo dia 29, às 20h, no projeto Diálogos Abertos, do Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM).
Chefe de Gabinete no primeiro Governo de Itamar Franco em Juiz de Fora (1967-70), Maria Andréa sofreu um processo interno na universidade por indicar uma leitura a seus alunos. Segundo ela, seu alto cargo na Prefeitura, aliado à pouca idade, à condição de ser mulher e ao processo que sofria, foram determinantes para sua aposentadoria. “Eu nunca fui comunista”, afirma enfática, considerando que sua reincorporação, feita em 1994 pela UFRJ, serviu como um pedido de desculpas do Estado. “É, certamente, uma tentativa de fazer justiça”, diz. “Equívocos acontecem”, resigna-se.
Durante seu exílio na França, Maria Andréa doutorou-se em Sociologia pela Université de Paris X, e se pós-doutorou pela l’École des hautes études en sciences sociales. Em seu regresso, após a Lei da Anistia, promulgada em 1979, lecionou na PUC de São Paulo e foi diretora do Instituto de Medicina Social da UERJ. Em 1992, assumiu o cargo de presidente da CAPES, exercendo a função até 1994. Ainda foi pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da UERJ entre 2000 e 2003, e, atualmente, leciona no Instituto de Medicina Social da mesma universidade, além de ser pesquisadora associada do Centre de Recherche Medecine, Sciences, Sante et Société (CERMES).
Desculpas aceitas
Aceitando sua reincorporação como um ato justo, e considerando seu desligamento como algo exclusivamente político, e não pessoal, Maria Andréa diz identificar-se muito com a UFJF e não guarda mágoas. Em 2004, foi uma das homenageadas da instituição com a medalha Juscelino Kubitschek e, agora, seu retorno marca, por definitivo, a valorização de sua história e de sua trajetória. “Para mim, é um evento prazeroso e que me suscita expectativas de muitas emoções. Considero um privilégio e uma honra participar desses diálogos”, emociona-se.
Simultânea aos primeiros passos dados pela Comissão da Verdade, colegiado instalado pela Presidência da República para apurar os casos de desaparecimento durante a ditadura militar, a entrevista com a socióloga reacende um período, que ainda se mostra obscuro na história, apesar dos anos já passados. “Houve uma anistia, mas, ainda assim, é legítimo, visto que é doloroso o que aconteceu. Não vejo essa comissão com maus olhos”, defende. “É importante resgatar a memória. Esconder é deixar pior do que foi”, discute. Como numa colcha de retalhos, Maria Andréa Loyola alinhava suas memórias a de outros personagens que passaram pelo projeto Diálogos Abertos, reconhecendo que só é possível construir uma memória coletiva através de lembranças individuais.
Maria Andréa Loyola será entrevistada pelos professores aposentados pela UFJF Murilio Hingel, Helena Meirelles e Avelino Kock Torres, além das sociólogas Denise Paiva e Laura Villaça.